Prosa na Janela: Leia “Para sempre Juliete”, por Roberto dos Santos

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Por Roberto dos Santos Publicado em 03/01/2022, 13:43 - Atualizado em 03/01/2022, 16:22
Foto - Roberto dos Santos. Crédito - Arquivo pessoal.
Foto – Roberto dos Santos. Crédito – Arquivo pessoal. Siga no Google News

Hector amava Juliete, um amor que o tempo não apagou. Um caso que terminou numa tarde de quinta feira sem qualquer aviso prévio, numa total obscuridade.

Talvez Juliete tivesse esquecido Hector, mas o rapaz nunca a esqueceu. Todos os dias ele pensava nela e antes de dormir colocava uma canção e sua alma visitava a dela. De tanto amor sonhava com ela todos os dias. Mas os motivos que culminaram na separação ele desconhecia completamente. Mas como ela havia pedido chorando para não se verem mais, ele respeitou seu desejo. Antes de ir embora tentou convencê-la do seu amor, mas em vão foram seus esforços. Hector então se revestiu de um amor maior e com o coração em pedaços foi embora. Tendo em si a convicção de que amar é ver seu amor feliz, retirou-se e por alguns dias a observou incógnito para ter certeza de que a ruptura de sua relação não fora motivada por nenhuma espécie de coação. Ela estava estranha, inquieta.

O amor de Hector continuava forte dentro dele, contudo precisava se afastar para que ela seguisse sua vida e fosse feliz. Assim pensava.

O amor que sentia, assumia uma forma diferente. Era um amor maior, que ia além dessa relação entre homem e mulher. Um amor que não exigia ser amado, um amor cuidador, um amor depreendido. E mesmo de longe iria cuidar dela, devotar todo seu amor, sem invadir um milímetro de sua liberdade. Uma forma perigosa de amar, mas necessária. O risco de que em algum momento ela se enamorasse por outro era grande, mas a liberdade que o amor de Hector concedia a Juliete passava por essa possibilidade, porém se caso acontecesse, seria o extremo da dor.   

Em sua casa pensava nela, mas de coração calmo. Uma canção que dizia: “Você é linda, mais que mais” ele ouvia todas as noites. Seu coração se acalmava e sonhava com ela.

Não tinha nenhum sentimento de possessão, ele não a importunava, evitava passar perto da casa dela, pois não queria promover nenhuma situação desconcertante.

E o tempo passou. Certa vez caminhando pelas ruas de Ouro Preto encontrou no canto da rua um filhote de pomba que piava suplicante. O acolheu cuidou dele e se tornaram grandes amigos. O pombinho branco cresceu e todos os dias aparecia para tomar café da manhã. Pousava sobre a mesa e ganhava migalhas de pão especialmente preparadas para ele. Enquanto comiam, Hector falava de Juliete e o pombinho branco parecia entender tudo. Nas suas palavras tinha saudade e paz.

Transcorrido alguns meses, numa manhã de domingo o pombinho apareceu acompanhado. Sua companheira ainda meio temerosa ficava na janela enquanto seu companheiro voava até a mesa para buscar pão para ela. Hector já havia falado para seu amigo pombo que sua namorada também era benvinda entre eles e poderia ir até a mesa se quisesse. O tempo foi passando, mas a pombinha não se aventurava voar até a mesa. Mas já sabia toda história da participação de Juliete na vida de Hector de tanto que ele falava enquanto tomava café.

Alguns meses se passaram e a rotina se repetia, até que algo diferente aconteceu!

Na hora do café da manhã, Hector que era falante nos seus encontros matinais com os pombinhos, demonstrava tristeza e pouco falava. Percebendo o silêncio do moço a pombinha voou pela primeira vez até a mesa. Ele sorriu contente ao ver os dois pombinhos diante dele, porém seu sorriso não se prolongou. Realmente algo diferente acontecia.

No dia seguinte ele continuava diferente, mas era um jeito contemplativo. Não havia tristeza em seu olhar, apenas parecia confuso. Os dois pombinhos enamorados, ficavam olhando para Hector como que a imaginar os pensamentos dele.

Quando se passaram cinco dias daquele silêncio barulhento, Hector confidenciou aos pombos algo interessante:

— Venho sentindo o cheiro de Juliete nos últimos dias. Parece que está aqui comigo, bem ao meu lado. O cheiro dela me acalma, chego a ver seu sorriso, seus cabelos, seu andar, seu olhar.

Depois de ouvirem essas palavras o casal de pombinhos voou sem mais nem menos e pousaram no telhado bem na entrada da casa.

Minutos depois Hector saiu para trabalhar e as aves foram voando e parando de distância em distância. Já ao longe pousaram sobre o telhado da casa de Juliete e de lá não saíram. Ele que evitava fazer aquele trajeto embora quisesse tanto, o fez naquele dia. E quando passou diante da casa da moça o casal de pombos não foram adiante com ele.

Hector achou estranho o comportamento dos pombinhos, mas foi embora trabalhar. Depois tentaria entender tudo aquilo.

No café da manhã do dia seguinte, lá estavam os pombos e aquele cheiro gostoso de Juliete aromatizando o ambiente.

Hector confuso e curioso perguntou aos pombos:

— Por que vocês estavam no telhado da casa de Juliete? Porque sinto o cheiro dela a toda hora? O que está acontecendo? Eu estou ficando louco? Existe alguma explicação?

A essa altura o contido e controlado Hector, não mais conseguia segurar as lágrimas que como cachoeira deslizava pela sua face.

Nessa hora os pombinhos voaram e pousaram sobre o muro da casa e ficaram parados olhando para o rapaz. Pareciam que queriam dizer algo, mas como estabelecer um diálogo entre um humano e um pombo?

Hector então saiu e foi até eles tentando entender esse comportamento incomum dos pombinhos. Quando chegou perto, eles voaram e entraram por debaixo do telhado da casa. Ele então buscou uma escada e subiu para ver o que tinha lá. Deslocou algumas telhas e viu sobre o forro um ninho com alguns ovos. Ao chegar perto sentiu mais forte o cheiro de Juliete. Não se conteve e como uma criança que se perdera de seus pais, chorou copiosamente.

Os pombinhos estavam de pé ao lado do ninho, que fora construído com ramos de azaleia entrelaçados a mechas do cabelo de Juliete e fixados com teia de aranha. Tinha também um cadarço cor de rosa que adornava o ninho, cordão pertencente ao tênis preferido dela.

Hector então percebera que os pombinhos quiseram de alguma forma trazer Juliete até ele. Ela era assunto todos os dias durante o café da manhã, então os pombinhos entenderam que era muito amor e decidiram a maneira deles trazer felicidade a aquele que era tão importante na vida deles. Antes que ele descesse da escada os pombinhos tiraram o cadarço rosa e deixaram próximo dele. Ele entendeu que era para ficar com ele.

Posteriormente lavou e colocou dentro de sua carteira como uma forma de ter consigo uma fração de Juliete.

Um ano e pouco depois ele encontrou seu inesquecível amor. Dessa vez foi ela que o procurou ao vê-lo ao longe. Disse estar com saudade e ele também. Aproveitando a oportunidade devolveu a ela o cadarço rosa e contou a história dos pombinhos. Ela se emocionou e não se contendo o abraçou. Ele ficou sem saber o que fazer afinal ela que havia terminado tudo há muito tempo atrás.

Sem que ele dissesse nada ela pediu perdão por tê-lo deixado, e quando ia contar o porquê da separação no passado, ele a interrompeu e disse:

— As explicações não são necessárias, o seu amor sim e eu o desejo para sempre.

Hector e Juliete se casaram, e começaram a construir um futuro juntos onde o amor de ambos era o combustível mais importante.

Já os pombinhos, ganharam um cantinho especial no fundo do quintal. A família ficou numerosa e não foi mais possível aquele gostoso café da manha a mesa.

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