Prosa na Janela: “Musa inspiradora, amando em silêncio”, por Roberto dos Santos

Leia mais um conto inédito de Roberto dos Santos no JVA.

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Por Roberto dos Santos Publicado em 21/08/2024, 10:34 - Atualizado em 21/08/2024, 10:34
A escrita de Roberto dos Santos, colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Crédito — Arquivo pessoal. Siga no Google News

Hector gostava de escrever poemas de amor. Tinha muita sensibilidade e intimidade com as palavras, descrevia magistralmente os encantos de uma mulher e transformava-os em belíssimas histórias de amor.

Mas o habilidoso escritor apaixonou-se por uma linda mulher de nome Celeste, e se assustou com o impacto desse grande amor. De uma hora para a outra, se viu na mesma condição dos personagens de suas inúmeras tramas Românticas.

O amor de Hector por Celeste não aconteceu de uma hora para a outra. Ele ouro-pretano de coração, há décadas morava na cidade, ela ouro-pretana da gema, sempre era vista sempre caminhando e curtindo as maravilhas da cidade monumento mundial. A vida cotidiana de Celeste possibilitou que ela tivesse algumas ocasiões com Hector, mas esses encontros não demonstravam indícios de que qualquer sentimento estivesse se desenvolvendo nela.

No entanto Hector passou a passear pelo centro da cidade, de alguma forma ele sentia necessidade de vê-la. Para isso provocava encontros, nada que causasse desconforto a ela, apenas passava pelos mesmos lugares, só para vê-la nem que fosse um pouquinho.

Em um desses dias de encontros provocados, ele teve um momento de clareza e começou a refletir sobre seus desejos e pensamentos.

Pensou consigo mesmo qual seria a motivação que o levava sempre na direção de Celeste. Ele começou a pensar que havia algo naquela mulher que o tirava do prumo. Decidiu, então, observar Celeste com mais atenção. Acompanhava-a em silêncio, à procura daquilo que provavelmente passava despercebido aos olhos comuns.

Foi então que descobriu no seu comportamento, sintomas de amor. Para ter certeza de que era realmente isso, decidiu escrever um romance completamente inspirado em Celeste.

Ao seu livro deu o nome de “Musa Inspiradora, Amando em Silêncio”, demorou quinze dias para escrevê-lo. Enquanto as pessoas achavam emocionante a história escrita por Hector, ele mantinha só para ele o segredo que o motivou a escrevê-lo.

Num primeiro momento ele achou loucura o que fez, depois concluiu que nenhuma paixão esplendorosa começaria com alguém sendo racional, e entregou-se aos pensamentos ousados e cheios de amor.

Em uma das folhas de seu livro, Hector registrou:

— “Se Deus me permitisse escolher, eu queria me transformar num beija-flor para te ver todos os dias. Adentrar a sua casa num voo silencioso e sereno, recolher um ou dois fios do seu gracioso cabelo e deixar entranhar em mim seu fragrante cheiro. Pousar na sua janela e aguardar por um sorriso seu, mergulhar nos seus olhos lindos e numa inexplicável viagem chegar a seu coração.

Ao findar o livro, Hector percebeu que realmente estava apaixonado por Celeste, mas ela parecia nem sonhar com isso.

Após a publicação do livro "Musa Inspiradora, Amando em Silêncio", ele continuou a escrever, criando mais um, e outro, mais outro livro, todos inspirados em Celeste. Em suas obras, ele se dedicava a retratar sua musa inspiradora de forma minuciosa, e ela nem imaginava que povoava a mente literária do escritor Hector.

Hector guardou para si os seus sentimentos, não conversando com ela nem com ninguém. Acordava e dormia a pensar na sua amada, transmitindo esse amor por meio de palavras escritas com o coração.

Ele nunca declarou seu amor, mas esse sentimento nunca o abandonou. Celeste se tornou a representação dos momentos mais alegres em sua solidão.

Ele a adorava de tal forma que nunca faltavam palavras para descrevê-la. Bastava fechar os olhos e uma linda narrativa de amor surgia. Embora os nomes dos protagonistas fossem diversos, a verdadeira essência deles vinha da mais encantadora mulher, Celeste.

E assim ele ia regando esse amor a seu modo, e já admitia dizer a ela sobre o que sentia, e o plano passou a ser como e em que momento fazer isso.

Mas essa é uma história para um outro pôr do sol.

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