Prosa na Janela: “Mais uma forma de amar”, por Roberto dos Santos

Leia mais um conto inédito de Roberto dos Santos para o JVA.

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Por Roberto dos Santos Publicado em 02/12/2024, 11:52 - Atualizado em 02/12/2024, 14:23
A escrita de Roberto dos Santos, colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Crédito — Arquivo pessoal. Siga no Google News

Noélia morava em Ouro Preto, estado de Minas Gerais, era uma autêntica ouro-pretana e raramente saía de sua cidade. Em uma ocasião, porém, ultrapassou os limites do município para ver o mar. Sem querer ingeriu um pouco de água salgada do vasto oceano, teve então a sensação de estar provando de suas próprias lágrimas.

Ficou maravilhada ao contemplar tanta areia, saboreou água de coco para se refrescar, observou o movimento das ondas, sentiu saudade de alguém muito especial.

A brisa do mar chegou a praia vinda dos confins do oceano, e numa suave modulação parecia entoar uma melodia para ela. Noélia fechou os olhos, permitindo que seus anseios mais profundos e desejos fluíssem. Com os olhos ainda cerrados, ela sentia os movimentos do mar, e sua mente, cheia de imaginação, trouxe à tona a imagem de alguém que havia deixado em Ouro Preto, alguém que provocava confusão em seus pensamentos. Foi então que percebeu que isso era amor. O desejo de retornar para casa, revelava, na verdade, a vontade de rever seu amado.

Ao abrir os olhos, ela avistou o sol bem distante, ele coloria o mar com suas cores. Uma sensação intensa a invadia, algo que parecia superar a sua primeira visão do oceano. Com serenidade no rosto, proferiu palavras olhando para o mar dizendo o mar amar.

Aquela conexão com o mar e as sutis interações que não eram visíveis aos olhos, despertaram em Noélia o anseio de retornar a Ouro Preto. Porém, essa volta não era apenas uma questão de nostalgia por sua casa; era o desejo de reencontrar um homem que era muito especial para ela.

Apesar de nunca ter comentado sobre isso com ninguém, Noélia nutria um amor oculto, tão secreto que nem mesmo o homem que a fez se apaixonar tinha ciência disso. Ela nunca mencionou o sentimento para ele, embora desfrutasse imensamente do prazer de estar com ele, mesmo rodeada por aquele silêncio ensurdecedor.

Ela deixou para trás o mar, que de certa forma aflorou sua sensibilidade, e retornou a Ouro Preto dando sequência a sua vida.

Somente ela conhecia o nome do homem por quem se apaixonou; mais ninguém sabia, nem mesmo suas amigas mais íntimas.

Noélia tinha uma pequena pinta escura no rosto, um pontinho suave naquele rosto bonito, seus cabelos eram lisos e chegavam até os ombros, tinha olhos escuros ou castanhos, sei lá, que refletiam um olhar gracioso, com leves traços de timidez, um dos seus maiores encantos. Usava óculos, não era alta e seu jeito de andar era elegante, passos miúdos e gostosos.

Sempre que era vista caminhando por Ouro Preto, sua beleza se destacava em meio a tantos outros encantos. No entanto, Noélia era uma mulher modesta e não concordava com os elogios a sua aparência, considerando-os excessivos.

Na verdade, ela possuía mil encantos; sua simplicidade e o olhar levemente tímido eram aspectos marcantes dela.

E quanto ao amor de Noélia? Qual seria o nome dele? Por que ela não encontrou uma maneira de se comunicar com ele?

Esse era um segredo somente dela, guardado a sete chaves. À sua maneira, continuou amando, um amor bem peculiar, mas ainda sim, uma forma verdadeira, fidedigna, própria de amar.

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