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“Mãe, um círculo de amor”, mais um conto inédito de Roberto dos Santos

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Por Roberto dos Santos Publicado em 10/05/2023, 16:36 - Atualizado em 10/05/2023, 16:36
A escrita de Roberto dos Santos. colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Crédito – Arquivo pessoal. Siga no Google News

Carmen ficou viúva e criou seus sete filhos sozinha. Depois que seu marido morreu, ela preparou os filhos para continuarem o legado deixado pelo pai, e unidos seguiram vivendo do que produziam, comercializando o excedente e comprando o que não produziam.

Junto dela coordenando as ações da família estava Olga, a filha mais velha. Ela além da lida diária junto com seus irmãos, cuidava das questões que demandavam deslocamentos a cidade.

Essa rotina perdurou por anos, até que Carmen, a mãe de Olga faleceu. Foram dias de muita tristeza na casa da família. As dores que povoavam seus corações foram ao longo do tempo se transformando em saudade, e a vida seguia seu curso.

Um tempo depois Olga conheceu Teodoro, e depois de dois anos de namoro se casaram. Construíram uma casa bem próximo da casa principal onde Olga sempre morou.

Mesmo estando casada, ela continuou na organização das coisas da família se esforçando para manter sua propriedade produtiva e seus irmãos unidos e fazendo acontecer.

Teodoro esposo de Olga, trabalhava na cidade e ia vê-la todo final de semana. Ela não quis morar na cidade, por causa da mudança brusca de vida e para não abandonar seus irmãos, pois sabia que precisavam muito dela.

Olga ficou grávida e nasceu Arlete. A pequena criança alegrava a casa com suas peraltices e traquinagens. Paralelamente a tudo isso aprendia da mãe os caminhos e atalhos para assumir futuramente o comando das coisas da família, até que atingiu a maioridade.

Teodoro seguia com seu trabalho arduamente na cidade sem esquecer da família na roça. Esperava ansioso o fim de semana, momento em que reencontrava a todos, principalmente Olga e Arlete sua esposa e filha. Bem tranquilo e centrado, ele compreendia verdadeiramente os motivos de sua esposa não querer residir na cidade. Diferente da mãe, Arlete tinha em mente ir para a cidade estudar agronomia, paixão que aflorou movida pelo contato com o campo e as coisas que vivenciava enquanto crescia na propriedade da família.  Ela se formou, casou, teve Caio e Cassandra. A vovó Olga já mais velha e cansada continuava a conduzir as coisas da família, porém, os irmãos estavam mais participativos e alguns deles já conseguiam ajuda-la na condução das coisas.

Arlete depois de se formar, casar e ser mamãe, não voltou mais a morar no campo, mas não deixava de ir lá para ajudar a mãe e os tios.

O tempo passou, Teodoro pai de Arlete se aposentou, e passou a ajudar Olga na propriedade. Mas Olga andava sentindo umas dores e incômodos, talvez fosse reflexo do esforço de longos anos na lida. Foi então que Arlete tomou a decisão de leva-los para morar com ela na cidade. Preparou um cantinho para eles em sua casa e os levou com ela. Queria cuidar deles em retribuição ao amor incondicional de uma vida inteira. .

Num mês de maio de um ano lá no passado, no dia das mães, Arlete juntamente com seu marido, filhos, sua mãe, seu pai, se dirigiram para a casa da roça. Lá se juntaram com os que lá moravam, e tinha muita gente, já que alguns dos tios de Arlete se casaram, tiveram filhos, enquanto que outros permaneceram solteiros.

Os irmãos casados e os solteiros, não abriram mão de trabalharem na propriedade, e continuaram a fazê-la produtiva, cada um adaptando seus afazeres a sua condição de vida. O certo era que todos permaneceram na propriedade aplicando o que aprenderam principalmente com Olga. Ela por sua vez descansava e cuidava da sua enfermidade junto da filha na cidade sem perder os irmãos de vista.

Ao regressar a casa que onde viveu até ficar doente, Olga começou a relembrar seu passado com imensa saudade. Tudo porque embora a casa estivesse no mesmo lugar, muitas mudanças foram feitas e ela entendia que eram necessárias, afinal não se pode parar no tempo, dizia ela.

Saudosa, Olga lembrava da casa de pau a pique isolada entre plantações de milho, cana de açúcar e verduras de todo jeito, a bica d’água onde corria água sem parar, onde ela lavava roupa, vasilhas e abastecia seu regador para molhar os “beijos” coloridos no jardim da entrada da casa.

Tinha saudade da sua mãezinha Carmen que lhe ensinara tudo o que sabe, dos conselhos, dos causos, dos cuidados de sua mãe.

Seus irmãos choravam de saudade, enquanto Olga falava. Depois de um certo tempo, o choro era geral, ninguém resistiu as lembranças cheias de emoção revividas como que em tempo real.

Como era dia das mães Olga pediu que chamasse as crianças que brincavam no terreiro para um momento de oração. Quando todos já estavam a sua volta na sala da casa, ela iniciou as preces dizendo:

— Peço que os filhos e pais aqui presentes não se sintam excluídos por não serem mencionados nessa prece, mas hoje é o dia das mães e para elas dirijo minhas palavras.

E prosseguiu:

— Mãe é a coisa mais linda do universo, e não falo por ser mãe, antes fui filha, embora eu não possa dizer agora do amor que sinto, eu posso sentir amor na saudade que me invade, saudades da minha mãe Carmen.

Quando os seus filhos vierem até você para saudá-la nesse dia, acolham os abraços, os olhares, sejam mães.

Quando você for dar um abraço na sua mãe não tenham vergonha de serem filhas, ame, abrace, chore.

Eu que não tenho minha mãe comigo, reflito a sua existência e a carrego dentro de mim, lugar que sempre esteve e nunca há de sair porque mãe é aconchego, é amor, é vida.

E como última palavra, eu conclamo a todos sem distinção, homens, mulheres e crianças. Nunca se refiram a uma mãe como “mãe solteira”, a definição de mãe por si só já a define como escolhida, agraciada, sublime. Chame de mãe, isso basta para reconhecer a grandeza da sua existência.

Teodoro apenas segurava a mão de sua esposa, e nada dizia, pois entendia que seu silêncio era a rendição, a aceitação de que o dia das mães era o sublime dia em que as mulheres se plenificavam se tornando um pedacinho do céu.

Os anos se passaram e o dia das mães foram sendo comemorados sempre a luz das palavras ditas por Olga.

Carmen era mãe de Olga que era mãe de Arlete, que era mãe de Celina, que era mãe de Juliete.

As duas últimas não aparecem nos relatos, porque mãe é um ciclo que nunca se fecha, mãe é para sempre, não importa onde estejam agora, no seio de uma família ou nos braços do Pai, mãe é amor e amor sem fim.

2 Comments

  1. Wanderléia 11/05/2023 em 11:34- Responder

    Bela homenagem as mães parabéns Belo texto

  2. Nilce dos Santos pedroza 13/05/2023 em 19:04- Responder

    lindo que venha muitos outros

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