Prosa na Janela: “Lian e Anabel, caminhos do amor”, por Roberto dos Santos

Leia mais um conto inédito de Roberto dos Santos no JVA.

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Por Roberto dos Santos Publicado em 25/07/2024, 08:42 - Atualizado em 25/07/2024, 08:42
A escrita de Roberto dos Santos, colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Crédito — Arquivo pessoal. Siga no Google News

Anabel desconhecia a quão bonita ela era. Não fazia ideia de que a sua simplicidade e naturalidade eram dois dos seus encantos mais marcantes. Contudo, num contexto geral, ela era deslumbrante.

Lian sabia tudo sobre Anabel, como se a conhecesse de cor, sem que ficasse intencionalmente a observar, mas aproveitava cada instante das conversas deles.

Para Lian, Anabel era um mistério envolvente. Sempre que estavam juntos, surgia nele um sentimento indescritível, assemelhando-se a um fascínio ao deparar-se com a mais excelsa das flores.

Lian e Anabel nasceram em Ouro Preto, residiam no bairro Padre Faria, se conheceram na infância, durante as brincadeiras ao ar livre, e por frequentarem juntos a escola, nas frias manhãs da encantadora cidade de Ouro Preto.

Essa convivência perdurou por muitos anos, até que chegou à fase adulta. Lian e Anabel mantinham a mesma proximidade de quando se conheceram. A única mudança era que o olhar de Lian já não via mais Anabel apenas como uma garota comum, uma simples menina.

Ela parecia não ter percebido que o amigo de longa data demonstrava, através do olhar, sentimentos muito além da amizade.

Certa vez, num sábado à noite, estava sendo realizada uma quadrilha na Rua Nossa Senhora do Parto, próximo a Capela do Padre Faria, localizada no bairro homônimo, portanto o lugar de vivência de Lian e Anabel. Nesse dia Lian estava mais sensível, não se sabe exatamente o motivo, o certo é que ele parecia enxergar apenas Anabel em meio ao grande número de pessoas. Em silêncio dizia para si mesmo:

— Como Anabel está linda!

Jamais uma única palavra de apreço pela beleza de Anabel fora proferida por ele, nem mesmo em seus pensamentos. Contudo, naquela ocasião ele sentiu-se inspirado e optou por comentar sobre a aparência de Anabel dentro da quietude de seu coração.

— Que cabelos lindos a repousar delicadamente em seu ombro, os olhos parecem duas jabuticabas, tem tanta coisa nesse lindo olhar. O sorriso é tão doce e encantador, torna-se ainda mais radiante quando ela diz algo. Tudo está em perfeita harmonia, incluindo as lindas bochechas que complementam sua belíssima expressão facial.

A voz possui uma tonalidade singular e o som ressoa como se estivesse sendo tocado por ondas eletromagnéticas, é lindo isso.

E extasiado prosseguiu:

A calça e a blusa preta de Anabel a envolve como uma segunda pele. O tênis é somente a cereja do bolo. Ela faz tudo ficar lindo a sua volta. Ela exibe um jeito delicado ao caminhar, seus passos tocam o chão com tanta leveza e graciosidade que se assemelha a uma pluma em queda livre.

Depois de algum tempo como que escaneando Anabel, Lian seguiu na direção dela e a cumprimentou. 

Nada foi mencionado sobre seus pensamentos, ele apenas se permitiu desfrutar da ocasião, desejando que o tempo pudesse congelar e perdurar eternamente.

Lian acabara de perceber que sua antiga amizade havia se transformado em amor, e o próximo passo seria reunir forças e coragem para dizer a Anabel que a amava. Ele teria que colocar em risco uma amizade de longa data, afinal tudo estava diferente e os anseios pairavam sobre a possibilidade de namora-la e ele nem sabia o que se passava na cabeça dela.

Mas após esconder seu amor por tanto tempo, resolveu revelar a Anabel o amor que sentia, desejando obter dela a resposta que tanto desejava.

Enquanto Lian abria seu coração, e oferecia suas palavras de amor a Anabel, ela petrificada não dizia nada, lágrimas teimosas insistiam em deslizar pelo seu rosto bonito. Essa reação significava que Anabel também nutria por Lian um sentimento parecido, porém nunca pensou que um dia isso fosse possível.

A reação de Anabel foi como se fosse um sim manifestado, não dito, a certeza de que momentos assim são únicos e devem ser aproveitados.

Lian ficou tão feliz e assustado ao mesmo tempo, diante dele estava a mulher que correspondeu a seu amor, mas isso poderia nunca ter acontecido se ambos mantivessem esse amor escondido a sombra de uma grande amizade.

Discretamente eles se abraçaram e dessa vez o silêncio significou o amor não verbalizado, foram dois minutos de emoções positivas, momento em que os dois corações repousaram juntos.

Daí em diante o amor foi só aumentando, pois, os laços de amizade serviram como base sólida para a construção palatina do amor, e era tanto amor.

E assim mais uma vez o amor encontrou os caminhos certos para unir corações. Pode ser que aconteça em poucos dias, mas pode durar muito mais tempo porque o amor não é um pacote fechado, mas sim dinâmico e totalmente voltado as especificidades.

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