Helena morava em João Monlevade, mas estava passeando em Ouro Preto. Ela realizava o sonho de conhecer aquele cantinho de Minas tão bonito que tem no seu presente traços marcantes da antiguidade.
Quando estava sentava no muro que circunda a igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia as portas da Praça Tiradentes no seu primeiro dia de incursões pela cidade, um acontecimento aparentemente bobo, sem importância mudou a sua vida.
Helena havia saído de um relacionamento que não deu certo, e desde então se refazia das decepções e angústias de um amor que lhe provocara sérias feridas.
Ela deixou na sua cidade seu filho amado que já criado trabalhava para realizar seus sonhos. Não havendo como conciliar suas merecidas férias com as de seu filho, partiu para a cidade de Ouro Preto sozinha para realizar seu sonho.
Depois de ficar um pouco na Praça Tiradentes observando os vultos históricos lá existentes, Helena vagarosamente começou a se dirigir para o adro da Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia para ver o pôr do sol. Ficara sabendo enquanto estava na Praça Tiradentes que naquele lugar se via um espetáculo maravilhoso quando o sol se recolhia ao longe por detrás da montanha.
Além de Helena, outras pessoas também se deliciavam com o lindo pôr do sol. Ela ficou observando o sol até que fosse embora por completo.
Depois de tudo terminado ela ainda permaneceu por mais um tempo no local. Sentou no paredão de pedra e ficou olhando os telhados e contando quantas igrejas podia ver dali. O fim de tarde estava perfeito.
Mas alguma coisa bem a sua esquerda a assustou, e Helena gritou alto deixando transparecer espanto e medo. Ficou paralisada diante do que havia visto.
A sua esquerda não muito longe estava Nestor que observava a cidade sentada no mesmo paredão.
Ao ouvir os gritos de Helena, ele correu na direção dela e num movimento rápido a abraçou retirando-a do muro. Esse movimento tinha o propósito de não deixa-la cair em meio à vegetação bem na frente dela.
Enquanto a envolvia em seus braços Nestor a acalmava e serenamente perguntava o que a fez assustar-se. Ela apontou para o muro a direita de onde estavam sinalizando algo para Nestor.
Ele pensou que fosse uma cobra ou alguma coisa maior dimensionando a visão e a reação dela.
Ela insistia em apontar para um ponto no muro, porém não conseguia fugir do abraço de Nestor. Ele então deu dois passos na direção do local apontado, e imaginando que estivesse bem próximo, Helena apertava o abraço e colava seu rosto no peito do rapaz de jeito que dava até para ouvir o coração dele batendo. Com toda calma ele pediu que ela olhasse e mostrasse o que lhe causava medo. Ainda receosa Helena chamou a atenção de Nestor para algo verde sob o muro. Ele então disse:
– Mas é um grilo verde!
E Helena balançou a cabeça positivamente confirmando que o grilo verde foi o vilão a lhe aterrorizar.
Nestor então a apertou em seus braços dando-lhe um largo sorriso. Parecia ser um sinal de alivio, afinal ele esperava algo bem maior que aquele inseto verde.
Já descontraído ele falou com Helena:
– Venha comigo, vou lhe mostrar que é inofensivo.
E ela um pouco mais descontraída, mas sem largar dele, sinalizou sorrindo. Nestor já bem à vontade a apertou em seu peito para que não visse o grilo já na sua outra mão.
E falou no ouvido dela:
– Fica tranquila que o grilo esta na minha outra mão.
Ela sem olhar para o lado apertou mais o abraço e não quis desgarrar seu rosto do peito de Nestor.
Ele com todo carinho a envolveu em seus braços fazendo com que sentisse segura e lhe fez um pedido:
– Olhe e veja que ele não é uma ameaça. O grilo simboliza felicidade, vitalidade, fertilidade, seu canto embora estridente é associado a uma boa música. Esse grilo verde é até chamado de “esperança”.
Helena já estava mais tranquila, embora não quisesse tocar no grilo. Mas já havia se convencido de que não havia perigo.
Nestor então arremessou o grilo em direção à vegetação na parte de baixo do muro, e ele se agarrou as folhagens, só então o abraço que já durava longos minutos foi se desfazendo.
Nestor perguntou a Helena quando foi que surgiu esse medo dos grilos, sobretudo o de cor verde que a maioria das pessoas o tem como sinal de esperança.
E ela então se pôs a falar:
– Quando eu era ainda pequenininha num amigo oculto da escola, recebi um grilo de presente numa caixinha de chocolate. Ele pulou em mim e entrou no bolso da minha blusa, daí em diante eu não consegui mais controlar esse medo.
Mas também encontros iguais a esse de hoje nunca aconteceram, hoje foi o primeiro e tive medo de novo.
Nestor então já percebendo que a noite já estava chegando e com ela um vento frio bem característico da belíssima cidade de Ouro Preto, a convidou para tomarem um chocolate quente. Ela aceitou imediatamente e foram caminhando pela cidade. Na rua direita pararam para tomar um gostoso chocolate. Fazia mais de três horas que estavam juntos. Parecia que ambos temiam pelo momento de se despedirem. Ela era de João Monlevade e ele de Sabará.
Mas em algum momento eles teriam que ir embora, Nestor então escreveu num guardanapo algumas frases e a entregou. Nessa hora eles já estavam em profundo silêncio. Era a hora da despedida.
Nestor escreveu no guardanapo:
– Seu cheiro está em mim, seu abraço está em mim, seus lindos olhos, seus cabelos, seu sorriso, seu jeito, esse batom vermelho que dão cores aos seus lábios...tudo está em mim. E agora o que vou fazer? Não consigo ir embora e a possibilidade de não vê-la nunca mais me entristece.
Helena leu tudo que estava escrito e deixou escapar um sorriso, mas não disse nada. O silêncio de ambos continuava maçante.
Ela a exemplo dele pegou um guardanapo e começou a escrever:
– Você não deve ir embora sem mim. Como terei seu gostoso abraço? Como irei ouvir as batidas do seu coração ao descansar no seu peito? Como ficar sem você se na verdade eu não quero. Sei que te conheci hoje, mas não quero mais ficar sem você.
Enquanto Helena escrevia, Nestor disfarçadamente enxugava as lágrimas que no cantinho do seu olhar tentava fugir e passear pelo seu rosto. Havia nele certa ansiedade em saber o que as palavras escritas no guardanapo iriam dizer.
Quando Helena entregou o guardanapo a Nestor, as lágrimas que antes eram contidas derramaram feita cachoeira. Ela vendo as lágrimas passearem pelo o rosto do moço, não se conteve e também chorou.
De repente ficaram uns cinco segundos se olhando e o que seguiu foi um beijo que significou incontáveis palavras.
Era o consenso entre ambos de que o amor se manifestara mutuamente e não tinha como se separarem.
Não tinha nem cinco horas que haviam se encontrado, mas era certo que queriam ficar juntos para sempre.
Depois desse encontro Nestor e Helena ficaram mais alguns dias na cidade como tinham programado antes de se conhecerem.
No último dia na cidade, dia de se despedirem da belíssima Ouro Preto, Nestor mandou flores para Helena logo pela manhã. Depois almoçaram juntos e resolveram esperar o pôr do sol para relembrarem o dia que se conheceram.
Ainda naquela mesma noite foram embora. Ela para João Monlevade e ele para Sabará e os encontros que seguiram não foram mais em Ouro Preto, mas na cidade onde ela morava ou nos pensamentos de amor que tinham vinte e quatro horas por dia.
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