“Nilson dos Santos, o Tôco, uma força que vem de dentro”, por Roberto dos Santos

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 30/11/2022, 14:53 - Atualizado em 30/11/2022, 14:53
Foto – Roberto dos Santos. Crédito – Arquivo pessoal. Siga no Google News

Quando a lição de vida não é expressa com palavras, mas em gesto e ações. Quando ver e sentir se fazem o mais sublime ensinamento. Quando os ensinamentos do evangelho extrapola o livro sagrado e se materializa diante de nós.

Palavras que me vieram à cabeça depois participar de uma conversa com amigos e discordar de uma das afirmações dentre as tantas postuladas.

“Devemos preparar nossos filhos para o mundo” essa afirmação eu discordei veementemente e apresentei argumentos sólidos (penso) que ao final da conversa os envolvidos no diálogo se convenceram que eu tinha razão.

“Devemos preparar nossos filhos para a vida”, essa foi à frase que sustentou meus argumentos e de certa forma suplantou a afirmação anterior.

E segui minha defesa argumentando:

Devemos preparar nossos filhos para a vida, ensina-los que em alguns momentos de nossa existência mesmo que dermos o nosso melhor, algumas coisas não irão acontecer do jeito planejado.

Isso não é nada fora do comum, pois muitas coisas embora planejadas se desenvolverão fora de nós. E sendo assim não podemos controla-las.

As únicas coisas possíveis de serem controladas nessa vida são aquelas que estão dentro de nós, por povoarem um ambiente restrito, um território íntimo que só é comum a outros se permitido. Mesmo assim às vezes são difíceis de lidar.

As coisas que estão fora de nós são um grande problema, pois envolve pessoas e coisas, logo fogem ao nosso poder de controle sobre elas.

Por isso é melhor nos prepararmos para a vida e não para o mundo. O mundo é algo dinâmico e é interessante que não nos entreguemos a ele. Estar nele é a melhor pedida, afinal a vida que é de cada um vai interagir com outras vidas e estar sóbrio nessas vivências, significará um poder maior em selecionar o que se quer viver ou o que deve ser vivido. Tudo dentro de uma atmosfera de respeito e amor.

Para ir além das colocações anteriores citei outro exemplo mais profundo para entenderem que eu estava falando sério.

Eu conheci um homem chamado Nilson, mas os mais íntimos o chamavam de “Tôco” apelido que trouxe da infância ainda antes de chegar à região dos Inconfidentes.

Tôco era um meio campista (linguagem de boleiro) que tinha como característica a calma no trato com a bola, a habilidade de fazê-la percorrer os caminhos mais curtos em direção ao gol. Cobrava faltas com maestria, tinha um cabeceio bem direcionado que atingia um grau altíssimo de precisão. Seu domínio era bom, o que agregava as suas características uma técnica apurada que o colocava entre os atletas mais notáveis do distrito de Antônio Pereira, cantinho híper especial de Ouro Preto.

Tôco trabalhou numa mineradora por longos anos, período em se formou técnico de mineração e ajudou sua empresa a bater marcas em cima de marcas. Ele era um cara dinâmico e completo. Era uma pessoa de fácil diálogo, por isso fazia amizades com facilidade. Tinha a alegria e a irreverência sempre presentes em si.

E assim sua vida foi transcorrendo ao longo dos anos.

Mais de 50 anos se passaram. Tempo em que já não mais jogava futebol, mas torcia como nunca para o clube local, o NACIONAL FUTEBOL CLUBE e pelo CLUBE ATLÉTICO MINEIRO clube que aprendeu a amar desde a tenra idade.

Surgiram alguns problemas em suas habilidosas pernas que exigiram dele um tempo de muita dedicação na tentativa de resolvê-los. E ele não mediu esforços nessas lutas. Foram batalhas difíceis que precisaram ser travadas com afinco.

Enquanto eu contava essas coisas, os meus amigos ficavam em silêncio achando que eu estava divagando, já que minha proposta era convencê-los de que era mais importante criar nossos filhos para a vida do que para o mundo.

Mas penso que estavam curiosos para saber onde eu ia chegar, e continuei a falar já que ninguém se opôs ou se manifestou contrário.

Tôco depois de passar por exames, e esgotar todas as possibilidades de reversão acerca de uma patologia que lhe acometia, recebeu dos médicos que o acompanhavam a triste notícia de que teria que amputar as pernas.

Primeiro à direita, depois à esquerda, na verdade a ordem não importa, e as hábeis pernas não mais existiam. Depois desse ato radical que a vida lhe impôs, esperava-se que entristecesse diante de tão ávido golpe, mas não foi o que aconteceu.

Tôco já sem as pernas continuava com o mesmo humor com a mesma alegria, com a mesma vontade de viver. Isso na minha visão era um grande ensinamento, afinal ele tinha tudo para desaminar, para questionar a Deus o porquê de essas coisas acontecerem, no entanto ele continuou a viver a vida. Seu carisma, lapidado ao longo da vida, criou a sua volta uma rede de amor que passaram a serem seus passos. A começar pela sua família que não o abandonou um minuto sequer.

Ninguém perde nessa vida em ser um grande um pai, um bom marido, um bom filho, um bom homem, uma boa pessoa.

Tôco só suportou todas essas desventuras, porque entendeu a vida. Aprendeu que a vida é para ser vivida da forma que se apresenta nada mais. A vida de ninguém é igual, se a pessoa for rica, que saiba viver nessa riqueza, se for pobre que também saiba viver segundo suas condições, isso é vida.

As habilidades futebolísticas citadas anteriormente, as alegrias, a força, a irreverência, o caráter, são coisas que sempre estiveram dentro dele, logo lhes pertencem e nada nem ninguém – exceto Deus - pode tirar. Já as patologias que surgiram em sua vida, essas ele não teve e não tem como controlar, pois estão fora dele.

Então ele lidava com elas juntamente com sua rede de apoio montada naturalmente durante sua vida, ou seja, seus familiares e amigos.

Desse jeito ele preparado para a vida conseguia viver bem dentro de suas possibilidades. Se ele estivesse pautado sua existência em se preparar para o mundo, certamente estaria perdido nessa imensidão de correrias e destemperos que as pessoas chamam de mundo. Um lugar de atitudes individualizadas onde as pessoas tem valor se fizerem seu jogo.

Depois que eu terminei de dizer essas coisas aos meus amigos, perguntei a eles se eu tinha razão ou não em sustentar que se preparar para a vida era melhor que se preparar para o mundo.

E para terminar fiz a grande revelação:

Isso não é uma história inventada, não é uma mera ilustração de um fato, esse Senhor que se chama Nilson ou Tôco como queiram é meu irmão e vive em Antônio Pereira. Ele é um homem de fibra e todos os dias ele ensina a todos a ficarem de pé diante das dificuldades da vida. Ele é um homem notável.

Como última frase eu disse:

É por isso que acredito que se preparar para a vida é mais importante que se preparar para o mundo. E não quis mias saber se concordavam ou não. A mim bastava saber e pronto.

Encerramos a conversa e eles ficaram calados. Acho que derrubei todos os argumentos que pretendiam contra atacar – no bom sentido é claro – afinal era apenas uma conversa que tomou rumos mais profundos. Após encerrarmos eles foram embora emocionados.

2 Comments

  1. Mirtes Perucci 30/11/2022 em 17:30- Responder

    Emocionante! Esse nosso irmão nos dá uma grande lição de vida 😍👏👏👏

  2. Wanderléia 01/12/2022 em 07:55- Responder

    um fato verdadeiro, algo real homem de fibra e admirável, admiro muito a garra e determinação e força e amor de todos os familiares

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