Prosa na Janela: “Inteligência desinteligente”, por Roberto dos Santos

Leia mais um artigo inédito de Roberto dos Santos para o JVA.

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Por Roberto dos Santos Publicado em 28/10/2024, 10:04 - Atualizado em 28/10/2024, 10:05
A escrita de Roberto dos Santos, colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Crédito — Arquivo pessoal. Siga no Google News

Hoje, refleti sobre a forma como o ser humano vive, fiquei a pensar sobre a inteligência humana, faculdade de conhecer, compreender, raciocinar, pensar e interpretar. Refleti sobre as práticas humanas e as consequências das mesmas, para entender os impactos do mal-uso dessa tão importante condição humana.

Na minha humilde reflexão, cheguei à conclusão de que somos, de fato, seres dotados de inteligência, embora, ocasionalmente, essa inteligência se manifeste de maneira desinteligente. Nós, frequentemente, nos sabotamos, afastando-nos do papel central que a criação nos proporcionou.

Estamos criando tecnologias que aos poucos vão nos relegando a um papel secundário na dinâmica da evolução humana.

Carros sem a presença de pessoas a conduzi-los, robôs executando as tarefas mais variadas, utensílios domésticos que cortam os nossos legumes, as televisões e seus controles remotos.

Profissões e profissões sendo extintas, ou reduzindo postos de trabalho, mostrando nas entrelinhas que o ser humano não é mais necessário. Há quem diga que tudo isso é o preço do progresso, eu, porém penso que todo progresso que coloca a margem o ser humano, é um progresso controverso, já que o ser humano é o que há de mais importante no mundo.

Não pretendo afirmar que o progresso não é importante; essa não é a minha intenção. O que busco é alertar para que o ser humano evite se autossabotar ao se ver como um mero coadjuvante no mundo. Não estou colocando em discussão a ciência nem os avanços que ela traz. Tenho plena certeza de que os especialistas, em suas diversas áreas, utilizam seus conhecimentos específicos em prol da humanidade, e isso é indiscutível.

Um exemplo disso são os progressos na área da saúde, que ao longo do tempo têm ajudado a controlar diversas doenças, mesmo sem investimentos robustos. No entanto, essa é uma questão para ser abordada em outra ocasião. Retomando o tema da inteligência e seu uso, é importante ressaltar que tudo foi criado para o ser humano; tudo o que existe no mundo é suficiente para garantir uma vida digna a todos. A responsabilidade pela gestão desses recursos recai sobre nós, seres humanos.

Atualmente todas as inquietações que habitam a mente dos humanos, está ligado ao uso indiscriminado daquilo que foi criado para seu deleite.

A escassez da água, a qualidade do ar, o desmatamento, a exploração dos recursos naturais de forma desmedida, tudo isso são ações pensadas pelo homem para adquirir poder e dinheiro.

Penso que a incoerência está no uso dessa inteligência quando o pensamento engloba humanidades. Muitos fatores deixam de ser considerados como os lugares e os sujeitos que os integram. A exploração acontece num olhar apenas dos exploradores, sem considerar as outras vidas que compõem o mesmo espaço.

O outro problema é quando esse avanço coloca em segundo plano a participação do ser humano nos processos de inovação, ou seja, cria-se máquinas que eliminam a participação do homem extinguindo postos de trabalhos, como, por exemplo, a mecanização da agricultura, a eliminação dos auxiliares de viagem, e outras profissões como um caminhão sem motorista.

Nada nesse mundo vale a pena se as pessoas forem descartadas, ou relegadas ao segundo plano, a máquina é parte do processo de inovação, mas o protagonismo deve ser sempre do humano. Tudo foi criado para ele.

Quanto a extração de bens finitos, vale lembrar que seria importante administrar a marcha do crescimento para que dure mais tempo, e não intensificar as atividades acelerando o processo.

O ser humano é bom para ganhar dinheiro, mas não sabe administrar o tempo. Sua habilidade de transformar os bens em dinheiro, contrasta com a falta de percepção acerca ganho versus tempo e tem a ilusão de que recorde em cima de recorde de produção o torna melhor, quando, na verdade, acelera o fim.

E não adianta argumentar no sentido de que o processo é dinâmico e tem que ser assim. Onde está a inteligência para gerir o mercado, também levando em conta o tempo. Pensa-se a todo o momento em lucro e tantas outras coisas são esquecidas ou negligenciados. O ser humano não sabe nem cuidar do lixo que gera no seu dia a dia. Não sabe reciclar para proteger seu meio de inserção.

Todos nós vamos morrer um dia, mas nossos filhos, netos, bisnetos ficarão, por isso precisamos pensar em lucros, mas também nas gerações futuras, onde nossos parentes também farão parte. Um escritor indiano que viveu entre os anos de (1861-1941) chamado Rabindranath Tagore, disse que “O homem que planta árvores sabendo que nunca se sentará à sombra delas, começou a entender o significado da vida".

O pensamento do autor serve para refletirmos sobre o que a humanidade está deixando para a geração futura.

Contudo, o ser humano é o ápice da criação e tudo foi feito para ele. Cabe fazer valer a condição de ser dotado de consciência e razão. Viver não é tão simples assim, viver é ter inteligência para pensar o impacto das nossas ações para quem está chegando agora e viverá mais adiante.

Em suma, no momento estamos envoltos por uma notória irracionalidade. Precisamos repensar o mundo que queremos a luz da humanidade. Os pensamentos exclusivistas não contribuem para o bem da coletividade e isso é danoso para a sociedade na sua evolução.

2 Comments

  1. Lilian 28/10/2024 em 22:34- Responder

    Super interessante o texto.

  2. Wanderléia 30/10/2024 em 13:12- Responder

    muita verdade nesse texto adorei essa reflexão 👏👏

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