22ª Reunião da Câmara de Ouro Preto
Clique play e assista

‘Uma carta para dizer que te amo: a resposta de Raquel’, por Roberto dos Santos

Home » ‘Uma carta para dizer que te amo: a resposta de Raquel’, por Roberto dos Santos
Por Roberto dos Santos Publicado em 09/08/2021, 16:45 - Atualizado em 09/08/2021, 16:45
A escrita de Roberto dos Santos. colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Crédito – Arquivo pessoal. Siga no Google News

Rachel chegou em casa no inicio da noite, depois de um dia intenso de trabalho. Trouxe trufas de chocolate branco e de morango suas preferidas. Era sexta feira à noite e seu plano era tomar um banho, jantar e depois assistir um filme romântico saboreando as trufas que comprou a caminho de casa.

Mas antes de entrar em casa, seguiu a risca seu costumeiro hábito de verificar a caixa de correio. Encontrou apenas um envelope branco endereçado a ela, mas não havia nada escrito que identificasse o remetente. Estava cansada e por isso optou por não abrir de imediato à correspondência. Mas certamente faria isso mais tarde após um relaxante banho, depois do jantar quando fosse para o sofá assistir o filme que tinha em mente saboreando as deliciosas trufas de chocolate.

Já de banho tomado e a fome saciada, puxou uma pequena mesa de centro e a posicionou bem ao lado do seu acento. Colocou suas trufas, cobriu-se com um edredom, pois fazia frio e começou assistir um filme romântico como havia planejado.

Atenta ao filme quase não piscava, porém de repente lembrou-se da carta e levantou para busca-la. Abriu o envelope e voltou para o aconchego do edredom. Antes de iniciar a leitura, passou sobre o manuscrito um olhar panorâmico a fim de identificar o autor das palavras e o encontrou na última linha assinando e atestando a veracidade das palavras contidas naquela folha de papel pautada.

Aquiles era o nome que assinava a carta, mas Rachel não ligou o nome à pessoa. Começou a ler para inteirar-se do conteúdo, e por se tratar de uma carta de amor pensou que tivesse sido deixada no seu endereço por engano. Mesmo sem ter a noção de que as palavras que começara a ler falavam dela, Rachel achou uma atitude arrojada, corajosa e bonita de Aquiles para com a sua amada. Enquanto degustava os dizeres da missiva adocicada pelas palavras de amor, se colocava no lugar da pessoa na qual as confidências se destinavam.

No final da carta ela viu a seguinte frase: “Com a palavra Rachel, meu grande amor”!  Com essa frase Aquiles sugeria nas entrelinhas uma resposta a seus escritos, e mais ainda esperava que a resposta fosse favorável a seus anseios.

Um silêncio interrogativo pairou naquele sofá, exceto as vozes que vinham da televisão, que exibia um filme romântico que naquela altura já não tinha mais importância para ela, exceto a trilha sonora que embalava seus pensamentos desorientados principalmente pelos fortes indícios de que era ela o amor de Aquiles. Imediatamente aquele moço que morava na mesma rua e tinha o mesmo nome do autor da carta veio à mente de Rachel, isso porque ela notava certa timidez nele, embora fosse simpático e cordial com ela. Mas também poderia não ser ele.

Essa dúvida ela deixou no ar para ver depois, mas de uma coisa ela tinha certeza, a carta era mesmo para ela. Concentrou-se naquele momento em ler novamente os dizeres da carta, agora se inserindo nessa atmosfera de amor.

No momento em que relia a carta, chorava sem cessar, as palavras acariciavam seu coração e a alegria de ser tão especial para alguém lhe enchia de emoção. Ficou a pensar em mil momentos na companhia de Aquiles, as palavras iam desenhando em sua mente a imagem dele e o conteúdo da carta projetando acontecimentos vários.

Ela seduzida por palavras nunca ouvidas, foi se apaixonando sem a certeza de ser ele o autor da carta.

Mas ela já envolvida, nutrindo um sentimento bom, uma sensação que impulsionava a procura-lo resolveu responder a carta. Agora já não importava se fosse ele ou não, ou melhor, só importava se fosse ele. De tanto que ficou a observa-lo minuciosamente acabou se apaixonando. Estava disposta a responder a carta, iria considerar Aquiles o autor das palavras, mas se não fosse ele, pensaria numa outra estratégia porque Rachel estava apaixonada e não mais admitia que fosse outra pessoa.  

E assim escreveu:

— Cheguei a pensar que não fosse você quem tivesse escrito essa linda carta. Mas após observa-lo e pensar muito naquelas palavras pude ver que tinha que ser você. Tinha tanta coisa a meu respeito que nem mesmo eu sabia. Você falava de amor com tanta intensidade e descrevia-me com tanta propriedade.

Você bagunçou a minha vida – no bom sentido é claro – depois que me enviou essa carta. Meu coração não parou de dizer que queria encontrar o seu. Eu tentava contê-lo na sua fúria de amor, mas não conseguia, e você foi me tomando por inteiro até que meu pensamento passou a ser seu também.

Eu admito a possibilidade de não ser você quem me escrevera, mas já é tarde demais, já não sou mais razão, estou apaixonada por você.

Estou continuando a carta que deixou em aberto para dizer que desejo conhecer todo o seu amor, aquele que disse não caber dentro de si. Quero dizer que aquele medo de que os seus sonhos se transformassem em pedacinhos, jamais se concretizará, pois seus sonhos são também os meus agora. Quero dizer também que o seu amor encontrou o meu amor, esse amor em mim adormecido despertado pelo suave carinho de suas palavras doces e amáveis.

Rachel passou de manhã perto da casa de Aquiles que já esperava do lado de fora para vê-la passar. Ele também iria trabalhar, mas um pouco mais tarde. Era o que possibilitava ver Rachel quase todo os dias. Ela o cumprimentou entregou a carta no mesmo envelope que ele havia lhe endereçado, e disse que no final da tarde quando retornasse para casa conversariam. Aquiles ficou triste, pois pensou que fosse o fim de tudo. Nem olha-la do portão poderia mais, pensou ele. Mas Rachel não sabia dos temores de Aquiles, ela estava sendo direta, mesmo que não fosse ele que escrevera agora ela estava decidida a conquista-lo, contudo a confirmação da autoria da carta por parte dele seria como que a cereja do bolo, o ápice. 

Aquiles Levou a carta para o trabalho e leu. Foi o dia mais feliz de sua vida. Rachel perguntou nas últimas linhas se era ele mesmo quem escreveu a carta, mas se não fosse que a perdoasse, não tinha mais como voltar atrás, algo que ela não sabia explicar não deixou que pensasse em outra pessoa e acabou se apaixonando por ele.

Pediu que ele a esperasse próximo a casa dela, que na verdade era a poucos metros da dele.

Quando o sol já havia ido embora ela chegou, e Aquiles já a aguardava. Sem rodeios ela fez a primeira indagação:

— Foi você que escreveu a carta?

Aquiles com olhos cheios de lágrima respondeu:

— Sim fui eu.

Ela sem dizer mais nada se aproximou dele desejando que o tempo parasse. Um abraço interminável foi o ato a seguir, as palavras foram desnecessárias, só os corações se manifestaram, era um silêncio tamanho, que se ouvia a respiração de ambos. O silêncio que imperava naquele momento, era regado a lágrimas que brotavam de um choro contido, onde ambos inertes nos braços um do outro deram fim a todas as incertezas. 

Aquiles havia lido a carta durante o dia, e ficado feliz ao saber que Rachel estaria para sempre ao seu lado, mas Rachel fez questão de dizer que embora tenha respondido as palavras de Aquiles, a carta nunca teria fim, pois dali em diante as palavras não mais seriam escritas numa folha de papel, mas ditas melodicamente ao pé do ouvido.

E assim o amor se fez, cercados por caminhos inimagináveis, cujo estopim foi uma carta, e como todas as cartas de amor são belas, não tinha como dar errado, uma carta de amor só precisa trazer e/ou levar amor, o resto acontece de coração para coração.

Deixar Um Comentário