A ouro-pretana Selena era tão linda que na primeira vez que a vi meu coração estremeceu como se fosse um terremoto em alta magnitude. Eu senti meu coração bater como se fosse sopapos de dentro para fora, mas eu não sentia dor. As batidas do meu coração eram tão intensas, mas apesar da pujança o efeito provocado era uma enorme sensação de felicidade e alguma coisa que eu ainda não sabia o que era. Selena era tão simples e ao mesmo tempo altiva. No seu olhar eu via também indícios de uma fragilidade que a deixava ainda mais bela. Ressalto que essa fragilidade nada tinha a ver com sintomas de fraqueza, mas o termo fragilidade nesse caso se aplicava a sua delicadeza e seu jeito como que uma flor que exalava beleza, e que como tal precisava ser cuidada.
Essas palavras foram ditas por Tácio numa noite de Maio, onde o céu estava repleto de azul e crivado de estrelas brilhantes. Ele tentava descrever a mulher no qual se encantara, e que havia falado uma única vez e visto apenas duas vezes.
Tácio era um ouro-pretano que gostava de observar as estrelas e a lua. Ficava horas olhando para o alto tentando descobrir algo novo se movendo lá em cima. Naquela noite de Maio notou uma estrela com um brilho mais acentuado que as demais, institivamente fixou seu olhar onde ela estava e depois de algum tempo começou a falar de Selena como se estivesse estabelecido uma conexão com aquele corpo celeste de luz própria.
Acabara de arrumar uma confidente celestial para dividir sua ansiedade, e a bela Selena era o assunto interminável.
Era mais ou menos uma hora da manhã, quando ele em prantos, falava para sua estrela confidente sobre a encantadora mulher:
— Querida estrela, você precisa conhecer minha amada. Ela brilha tanto quanto você.
Meu coração chega a doer quando a vejo, mas é uma dor de amor, na verdade não sei se é dor ou calafrio, é uma coisa inexplicável. Se você visse a beleza do olhar dela, iria entender porque as palavras me fogem quando tento descrevê-la. Os cabelos longos em alguns momentos judiam de mim! Sinto ciúmes dos delicados fios a repousar sobre seu ombro. Olho para ela e imagino seu perfume, entro em êxtase porque meus olhos não suportam tamanha beleza.
A madrugada reinava na noite de Ouro Preto, as horas passavam num compasso silencioso, Tácio nem se dava conta do adiantar da hora. As luzes da cidade pareciam repousar de tão quieta a claridade. Ele da janela do seu quarto estava estático a olhar para as alturas.
E Tácio continuava seu papo com a estrela de brilho farto:
— Selena tem um narizinho lindo, tem um sorriso que me tira do prumo, de tão belo.
Ah! Minha querida estrela! Ainda me falta uma coisa que anseio demais. Ouvir mais uma vez a voz de Selena. As poucas vezes que a ouvi foram como uma deleitante canção de amor, que em acordes suaves me levaram ao delírio.
Não posso deixar de dizer uma coisa importante:
Sabe tudo isso que acabei de falar com você? Essa beleza expressa por todo o corpo dela e que no final representa um todo?
São reflexos da grande beleza que há dentro dela, eu sinto. É como se fosse um transbordamento de si, mas em forma de ondas invisíveis que se propagam no externo de seu corpo reluzindo dos pés a cabeça.
Minha querida estrela, Selena é a mulher mais linda que já vi.
De repente Tácio percebe um alaranjado surgindo por detrás dos montes que abraçam Ouro Preto e vê que o sol já estava chegando. Olhou pela última vez para sua estrela amiga e percebeu que o brilho já estava quase cessando. Viu então que sua estrela amiga já estava indo dormir, porque as estrelas dormem de dia. Despediu-se dela dizendo que o papo continuaria numa outra noite. E antes de fechar a janela viu o sol e a lua lá ao longe e sussurrou:
— Será que o sol e a lua estão namorando? Trocando olhares naquela imensidão de azul? Sem se preocupar em buscar as respostas para as perguntas, fechou a janela e foi dormir pensando na encantadora Selena, a mulher mais linda da cidade.
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