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Prosa na Janela: “Um salto divino, o retorno”, por Roberto dos Santos

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 27/08/2019, 15:55 - Atualizado em 27/08/2019, 15:55
Roberto Santos, 49 anos, nascido em Dores de Guanhães, chegou ao Distrito Ouro-pretano de Antonio Pereira em 1979. É porteiro na Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e tem uma sensibilidade peculiar na apresentação de seus textos. É casado com Márcia, que é a aguerrida diretora da Escola Municipal Alfredo Baeta e têm o filho Antônio, de 15 anos. Siga no Google News

Marco Aurélio esteve em Santo Antônio do Salto para realizar um trabalho publicitário para a Empresa onde trabalhava. Tinha a incumbência de explorar as belezas naturais do lugar.

A pedra de Santo Antônio foi o motivo que o levou ao pequeno povoado que surgiu ao pé da serra de Lavras Novas por ocasião da exploração aurífera.

Empreendedores da área do ecoturismo pesquisando as montanhas de Minas descobriram esse simpático paredão rochoso que os Saltenses têm a sua porta. Logo intuíram que as adjacências certamente guardavam belezas pouco exploradas. Essa era a missão de Marco Aurélio, ir até a pedra de Santo Antônio, constatar a veracidade das pesquisas e descobrir o que Santo Antônio do Salto tinha além dessa maravilha.

Cumpriu a risca o cronograma estabelecido e apresentou na Empresa seus levantamentos sugerindo um amplo projeto de alcance internacional, baseado nas maravilhas que viu e sentiu.

O trabalho que apresentou após retornar a fortaleza, não contemplou uma maravilha que o próprio Marco Aurélio tinha como sendo a principal de todas.

Quando ele chegou ao Salto e parou as margens do famoso canal para observar o deslocar das águas, conheceu Larissa que surgiu na curva do caminho em companhia de outras mulheres. Desse encontro nasceu o amor dos dois. Levou esse sentimento contigo para a cidade que trabalhava e morava. Mas antes da partida prometeu voltar e viver com a Saltense mais bela, a eternidade desse amor.

Larissa falava com ele todos os dias e esperava o momento de viverem juntos para sempre.

Já há alguns meses em Fortaleza e planejando retornar ao salto para rever sua amada, Marco Aurélio recebeu um convite para apresentar seu trabalho na matriz da empresa na cidade de Veneza na Itália.

Um misto de alegria e tristeza povoou sua mente. A satisfação de ser lembrado para liderar uma equipe cuja missão era elaborar dois projetos turísticos de âmbito internacional, confrontava com a dificuldade em ver a bela moça.

Mudaria para Veneza imediatamente, pois o tempo de execução do projeto estava estabelecido em seis meses.

Um telefonema regado à tristeza e pesar revelaram esses planos a Larissa. A moça entendeu a importância do momento para seu amor, mesmo assim movida pela saudade que sentia não se conteve e pôs-se a chorar.  Do outro lado da linha Marco Aurélio também chorava, pois a distância que os separavam seria aumentada ainda mais.

Dias depois já estava instalado em Veneza esboçando o projeto no qual o fez ir pra lá. Paralelamente visitava as montanhas da Itália, sobretudo as dolomitas – cadeias de montanhas – repletas de belezas naturais, propícias a serem visitadas em todas as estações. No que se referia a Santo Antônio do Salto, Marco Aurélio trabalhava para apresentar esse cantinho de Ouro Preto ao resto do mundo. Seu projeto estava repleto de inovações para aguçar nas pessoas o desejo de conhecer as maravilhas naturais pouco exploradas no Salto. As possibilidades se multiplicavam quando submetidas a sua criatividade.

A outra parte do projeto tinha o mesmo direcionamento. Estudar formas de fazer dos Alpes Italianos - com enfoque nas dolomitas - um roteiro mais amplamente divulgado, aproveitando o fato de seus 141 mil hectares constarem como Patrimônio Natural da UNESCO desde 2009. Havia no entendimento do grupo, iniciativas capazes de maximizar o ecoturismo naquela parte do planeta.

No período em que trabalhou nesses dois projetos, poucas vezes veio ao Brasil. Visitou os pais rapidamente, mas não conseguiu viajar até o Salto para ver Larissa devido ao pouco tempo e os mais de dois mil quilômetros que separam os dois lugares.

O tempo foi passando até que tudo foi finalizado. E como prêmio pelo êxito da missão recebeu da alta cúpula da empresa trinta dias para descansar e se refazer.

Marco Aurélio voltou ao Brasil e descansou dois dias. Enquanto descansava tentou falar inúmeras vezes com seu amor Saltense, mas não conseguiu.

Após cinco dias de tentativas frustradas, pensou um jeito alternativo de contato, na esperança de conseguir falar com ela.

Ligava para vizinhos e outros números aleatórios que conseguia, mas as respostas eram sempre evasivas, provocando desconforto, tristeza e medo.

Apressou-se em decorrência das incertezas e partiu para Minas Gerais. Queria falar da saudade que sentiu, das noites que em sonho pôde vê-la, das novidades e da surpresa que ansiava partilhar.

Dois dias depois desembarcou na capital mineira, alugou um carro, colocou uma canção romântica e embrenhou pelas estradas de Minas. Algumas horas depois trafegando a menos de quarenta quilômetros por hora, margeava o canal do Salto. Parou de novo onde encontrou Larissa pela primeira vez, deixou a mente vagar, reviveu na memória a cena e o exato momento em que seu coração foi arrebatado. Essa viagem ao passado desenhou sorrisos no rosto saudoso do garboso rapaz.

Apressou em retomar o caminho, pois o povoado já estava próximo e a saudade o corroía a ponto de lhe faltar o ar.  

Atravessou a ponte sobre o canal, e devagarzinho avançou pela Rua Jovino de Souza até chegar à pousada onde hospedou quando lá esteve.

Esperava ver Larissa, mas ela não estava no povoado. Havia se deslocado a sede do município, para fazer compras e resolver algumas pendências.

Assim que ficou a par dessa informação, Marco Aurélio se instalou, tomou banho, vestiu roupas leves e tomou café.

O ônibus só chegaria ao fim da tarde. Ele então após o almoço dormiu por duas horas e depois sentou na guia do meio fio e de lá não arredou pé.

Quando o sol já havia ido embora, e a noite quase chegando, ouviu o barulho de um veículo pesado vindo lá em baixo. Ergueu-se, observou e constatou que era o ônibus onde seu amor viajava. Era o único que passava por ali.

Em menos de três minutos o ônibus passou diante dele e parou num ponto a poucos metros de onde estava. Ela desembarcou, ele respirou fundo, abriu um sorriso e chamou por ela.

Surpresa , Larissa olhou, abaixou a cabeça e seguiu na direção dele. Marco Aurélio notou algo estranho na reação da moça. Parecia não estar feliz com a presença dele. Depois de tanto tempo sem se verem, o rapaz esperava um caloroso abraço, um beijo que o fizesse esquecer toda a dor da saudade, mas a frieza e certa indiferença assustou Marco Aurélio.

— Você não me ama mais?

Disse o moço sem entender a reação de Larissa.

  — Estou cansada amanhã conversaremos.

As palavras de Larissa atingiram o peito de Marco Aurélio como que uma flecha pontiaguda a transpassar-lhe. A alma sofria, o coração doía, a mente sem rumo vagava.

Foi um dos momentos mais triste da sua vida. O Fortalezense ficou acordado boa parte da noite pensando o que fez a seu amor que a desencantara. Não encontrando respostas, cansado de chorar e temeroso por um desfecho que não lhe agradasse, dormiu. Acordou cedo e foi tomar café, pois não havia comido nada no jantar.

As malas já estavam prontas em cima da cama aguardando o que parecia ser a última conversa.

Larissa o convidou para caminharem até a igreja de Santo Antônio e lá conversariam.

Assim foi feito. Chegando próximo à simpática igreja bem na praça principal da comunidade, Marco Aurélio pediu que aguardasse um pouco, desviou alguns passos da rota combinada, parou na mercearia e comprou uma garrafinha de água para ele e outra para ela, entre um gole e outro a conversa teve inicio.

— O que foi que eu fiz?

Perguntou o rapaz tentando entender a reviravolta que aconteceu.

— Você veio ao Brasil, foi na casa de seus pais e não veio me ver. Fez isso mais de uma vez. Ligava pra mim, mas não vinha aqui.

O rapaz para explicar, dizia que não teve tempo e que precisava resolver pendências que ficaram para traz.

— Larissa insistia em dizer que ele jamais casaria com ela, e que devia dizer isso logo para não perderem tempo.

Marco Aurélio já estava cansado de tentar explicar seus motivos. Larissa estava irredutível, até mencionou ter conversado com outras pessoas que concordaram com o pensamento dela.

O rapaz vendo que ela estava influenciada por opiniões de terceiros, franziu a testa reconhecendo a gravidade da situação e deu sinal de desistência.

Apenas perguntou a ela se ainda o amava.

Ela sem titubear disse que pensou nele todos os dias em que esteve ausente. Disse também que passava perto do lugar onde se conheceram e a imagem dele se formava nitidamente em sua mente.

Que o amava demais, porém achava que ele não era homem para ela.

Larissa estava confusa, surgia em sua cabeça comparações entre seu jeito simples de viver e o modo de vida de Marco Aurélio. O que ela colocava como empecilho para se entregar a esse amor, era exatamente o que ele mais gostava nela. A sua simplicidade.

Ele então pegou as garrafas já vazias e descartou, tomou-a pela mão e pediu que voltassem à pousada.

La chegando, recomendou que esperasse na mesa da cozinha e foi até o quarto. Retornou com uma pasta na mão, colocou a sobre a mesa, tomou café e pôs- se a parlar.

Marco Aurélio disse mais uma vez que a amava e que não conseguia imaginar o futuro sem ela. Disse também que não deixou de pensar nela um só minuto.

— Quando deixei esse lugar aconchegante, ficou pra traz um pedaço de mim que era você. Eu tinha que voltar como voltei.

— Então porque não veio me ver quando voltou ao Brasil? Eu não me aguentava de saudade.

Ele tirou um maço de folhas de sua pasta e disse:

— Aqui está a explicação, de que tanto deseja. Passou as mãos dela a papelada e pediu desculpas.

Ao ler os dizeres do documento, Larissa deu um pulo da cadeira e chorando se jogou nos braços de Marco Aurélio que também chorava.

Ainda abraçados, o rapaz falava ao pé do ouvido da bela Saltense.

Eu não pude vir lhe ver, porque precisava assinar esses papéis. Tinha que voltar imediatamente a Veneza para concluir os trabalhos em curso o mais rápido possível, pois a saudade me consumia. Era minha intenção pedi-la em casamento, eu não suportaria ter que passar mais algum tempo longe de você.

Esses papéis documentam a compra de uma casa em Fortaleza, cujas dependências hão de testemunhar nosso amor.  Um lugar que preparei para vivermos juntos para sempre.

Depois do choro, afagos, beijos e abraços, ele retirou de sua pasta mais uma folha de papel e entregou a ela. Ela não entendeu o que dizia as palavras e pediu explicação.

— Nessa folha está a relação de todos os terrenos e casas a venda aqui no Salto. É para você escolher a nossa segunda morada. Tentaremos viver a medida do possível nos dois lugares. Não quero afasta-la de seu povo.

Tudo isso só será possível se quiser casar comigo. E emendou a pergunta:

— Você quer casar comigo?

Larissa baixou a cabeça envergonhada pelas coisas que pensou dele. Marco Aurélio ficou apreensivo, afinal a moça emudeceu.

De repente ela começou a falar:

 — Me perdoa por tudo que pensei de você. Ele sorriu desarmado e feliz, e o sim tão esperado ele ouviu baixinho ao pé do ouvido.

Abraçou a moça com tanto amor que o tempo pareceu parar. Larissa se entregou de vez aos carinhos do rapaz e aquele dia foi o mais feliz de suas vidas.

Eles se casaram, e ora estavam no Salto, ora em Fortaleza. E assim Marco Aurélio e Larissa deram fluência a um amor que nasceu às margens do canal do Salto, um simpático distrito de Ouro Preto, que além das belezas naturais, foi palco de uma belíssima história de amor.

Marco Aurélio foi a Veneza supervisionar a implantação do projeto desenvolvido e levou seu amor, depois voltaram e ficaram alguns meses em Santo Antônio do Salto, para a implantação da fase Saltense do projeto.

Enquanto tudo se desenvolvia a contento, uma vida estava em desenvolvimento no ventre de Larissa, e a futura mamãe juntamente com o Fortalezense que tanto amava se faziam as pessoas mais felizes da face terra.

E mais uma vez o amor venceu, afinal ele é um combustível essencial à vida.

E viva o amor.

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