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Prosa na Janela: “Para sempre Manu”, por Roberto dos Santos

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 20/09/2019, 14:20 - Atualizado em 20/09/2019, 14:20
Roberto Santos, 49 anos, nascido em Dores de Guanhães, chegou ao Distrito Ouro-pretano de Antonio Pereira em 1979. É porteiro na Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e tem uma sensibilidade peculiar na apresentação de seus textos. É casado com Márcia, que é a aguerrida diretora da Escola Municipal Alfredo Baeta e têm o filho Antônio, de 15 anos. Siga no Google News

Eu descansava a sombra de uma árvore, próximo ao chafariz do Pilar, a minha frente à suntuosa Basílica de mesmo nome, projetava sobre mim uma imensa sombra que mais parecia um abraço.

A majestosa construção me protegia do sol que naquela hora se fazia intenso. Muitas pessoas a fotografava, e ela inerte e bela atraia sobre si lentes do mundo inteiro querendo captar e eternizar essa imagem cheia de religiosidade e história.

Eu na verdade estava na hora do almoço, e resolvi sentar ali enquanto esperava a hora de retornar ao trabalho que não era distante do local.

Pois bem, em acréscimo a toda essa beleza descrita, meus olhos perceberam outra imagem também muito bonita. As pessoas que estavam nas imediações parecem não ter notado tamanha beleza, pois seus corpos estavam posicionados contrários à direção a que vinha.

Bem próximo à porta lateral que dá acesso a sacristia da Basílica do Pilar, um barulho suave e cadenciado, atraiu minha atenção. Quando me virei, a imagem de uma linda mulher se deslocava lentamente na minha direção.

O som que inicialmente atraíra minha atenção viera do bonito sapato que adornava seus delicados pés. O suave som nascia do toque de seus pés na centenária calçada.

Ela vinha tão bela que me preparei para vê-la passar, respirei fundo, ajeitei a gola da camisa, me levantei, respirei fundo de novo e sem desviar olhar para não perder nenhum de seus movimentos, esperei sua passagem. Um gingado suave e natural dava um bailar sutil a seu corpo bonito. O braço direito balançava solto equilibrando-a, o esquerdo apoiava sobre a bolsa, acrescentando charme e graciosidade.

A cabeça ereta com leve declínio para a esquerda mirava o ponto futuro.

Essas observações eu fiz em menos de três minutos, tempo aproximado que ela precisou para chegar até onde eu estava. Ela não era uma adolescente, nem uma moça na flor da juventude, mas uma mulher madura e belíssima.

O meu estado de contemplação era notório. As pessoas que antes eu observava nas imediações, agora eu não sabia mais onde estavam e nem o que faziam. Meus olhos eram exclusivos daquela linda mulher.

Quando chegou diante de mim, eu a saudei com voz forte desejando-lhe boa tarde, ela sorriu e disse oi.  Antes mesmo da monossilábica resposta, eu já havia me apaixonado. O sorriso desarmado e lindo bastou para que isso acontecesse. Naquela hora desejei que o tempo parrasse para eternizar aquela sensação nunca sentida. Seu perfume entrou pelas minhas narinas e me tomou por inteiro. Uma porção dela estava em mim. Quando me olhou, me desconsertei a ponto de ficar fora dos eixos.

Sonhei acordado, e meu pensamento não me deixou na mão, conduziu – me numa viagem alucinante. Confesso que não pensei em me apaixonar, mas meu coração não resistiu a tanta beleza. Por várias vezes estive naquele ponto do Chafariz mais ou menos na mesma hora em que a vi pela primeira vez e sempre a via passar. Acho que nem imaginava que me bagunçava todo quando passava graciosa diante de mim. E por dois ou três minutos ela fazia valer minha vida inteira. Enfeitava meu viver.

A constância em estar ali para vê-la, me possibilitou descobrir que se chamava Manuela. Eu não quis aborda-la por não saber nada a seu respeito, e também por não querer dar chance ao adeus.

Reitero o pensamento de não querer me apaixonar, mas não resistindo aos encantos de Manu – assim passei a chama-la silenciosamente- me entreguei a um amor de alma. Sem toca-la eu a sentia. A canção “você é linda” de Caetano Veloso, era o que me ligava a ela. Quando a ouvia, fechava os olhos e Manu se formava em minha mente, o mundo parava, e eu a amava com todo o furor de minha alma. 

Descobri a felicidade nesse jeito gostoso de amar, e quase todos os dias eu voltava ao pilar para vê-la, e quando isso acontecia, eu erguia os braços para o céu igual as torres da grandiosa Basílica, e elevava preces a Deus em agradecimento por tudo.

Essa história de amor certamente os livros não vão contar, a exemplo de tantas outras que ocultas, alimentam essa magia que os ares ouro-pretanos escondem. Muitas delas vividas nas senzalas em meio à dor da escravidão.

Quanto a minha Manu, continuei a ama-la sem saber se ela me amou.

Quando aconteceu? Quem sou eu? Isso agora é mero detalhe, importa mesmo é saber que Manu estará pra sempre em meu coração e que o tempo não existe quando falamos de amor.

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