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Prosa na Janela: Leia “Encontro e reencontro”, por Roberto dos Santos

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Por João Paulo Silva Publicado em 15/01/2019, 11:08 - Atualizado em 03/07/2019, 20:53

Roberto Santos, 48 anos, nascido em Dores de Guanhães, chegou ao Distrito Ouro-pretano de Antonio Pereira em 1979. É porteiro na Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e tem uma sensibilidade peculiar na apresentação de seus textos. É casado com Márcia, que é a aguerrida diretora da Escola Municipal Alfredo Baeta e têm o filho Antônio, de 13 anos.

Emanuel conheceu Helena numa linda manhã de terça feira quando passava pela Rua Randolpho Bretas, a conhecida Rua da escadinha. Ele havia deixado seu carro estacionado próximo à capela do Senhor do Bom fim, na Rua Antônio de Albuquerque próximo à igreja do Pilar. Pretendia chegar a Rua a São José sendo aquele caminho a melhor opção.

Helena descia a rua pela calçada, às pedras em que pisava estavam molhadas pelo sereno da noite. A via íngreme estava fechada nas duas extremidades impossibilitando veículos automotores de trafegar por ela. Medida preventiva tomada pelas autoridades de trânsito de Ouro Preto devido ao risco iminente de acidentes.

Bastou um instante de descuido para que fosse ao chão. Nem mesmo o tênis de boa aderência que usava próprio para as práticas esportivas evitou sua queda.

Emanuel que subia pela escada lateral própria para o trânsito de pedestres avistou a alguns metros dele, Helena tentando erguer-se. Embora estivesse sentada no chão, a queda não lhe trouxe consequências que merecesse maiores preocupações. Emanuel apressou o passo para prestar-lhe auxílio.

Chegando próximo a ela sentiu seu delicioso perfume, mas não disse nada. Na sequência estendeu-lhe a mão e o entrelaçar delas provocou certo frenesi. Quando os olhares se cruzaram, trazendo no mesmo ato um sorriso espontâneo e belo, uma chuva de sensações tomou conta dele.

Quando Helena disse obrigado em agradecimento a gentileza de Emanuel, o som da voz da moça soou-lhe agradável aos seus ouvidos.

Emanuel que já havia percorrido boa parte da subida refez com Helena o mesmo percurso na descendente levando-a até o carro pra que se refizesse do susto da queda. A caminhada feita do local da queda até o carro de Emanuel aconteceu bem devagar. Inconscientemente ou não, o moço aproveitava o percurso para reviver todas as sensações que sentira no primeiro contato.

Quando Helena já estava indo embora, Emanuel perguntou se ela caminhava sempre por ali e a alguns passos dele, acenou positivamente com a cabeça e já tendo despedido seguiu seu caminho.

No dia seguinte e por mais dois meses eles se encontraram no perímetro entre a Capela de Nosso Senhor do Bomfim e a Rua São José. Nunca pararam para conversar, mas se cumprimentavam sempre pelo nome.

Emanuel ansiava por ouvir a voz de Helena já esperando o lindo sorriso que se formava no momento da saudação e que durava apenas alguns segundos. Em busca desse espetáculo de beleza ele procurava todos os dias encontrar com ela.

A pele cor de chocolate da bela moça era um acréscimo de beleza a todo o conjunto amplamente bonito. Brilhava quando as gotículas de suor umedeciam e percorriam seu corpo.

Isso aconteceu por quase um ano até que por cinco dias seguidos ele não conseguiu vê-la. Como passava por ali só para encontra-la e viver preciosos segundos, não tinha nenhuma informação que pudesse levar a ela, refez o trajeto em dias alternados sem obter sucesso.

O insucesso na constante procura o fez tristonho e tomar a decisão de não mais passar por lá.

Helena foi um pedacinho do céu em sua vida, mas ele precisava seguir seu caminho.

E dentro das voltas que o mundo dá, Emanuel casou-se e foi embora de Ouro Preto.

Muito tempo se passou e já com cinquenta anos de idade ele volta à cidade para ficar. Seu casamento havia acabado e já fazia cinco anos que não vivia com a mulher com quem se casou.

Um amigo ao visita-lo na cidade grande notou que a tristeza e a solidão estavam tirando sua alegria de viver. Arrumou para ele um trabalho em Ouro Preto, e como não teve filhos no seu casamento aceitou prontamente. Ficou feliz em viver de novo próximo dos familiares e amigos.

Pouco tempo depois já estava ambientado e visivelmente mais animado. Saia quase todas as noites para caminhar pelas Ruas, becos e ladeiras da tricentenária cidade.

Era uma sexta feira à noite quando subia a rua da escadinha em seu costumeiro passeio, quando uma mulher que regulava a idade com ele passou rapidamente e deixou um rastro de um perfume agradabilíssimo. Esse cheiro que ficou para traz deixado pela anônima que desceu a rua da escadinha também estava dentro dele, mas ele apenas parou e depois seguiu em frente.

No dia seguinte a mulher passou de novo, e suas narinas se deleitaram naquele cheiro envolvente que mexia com ele.

No domingo ele não saiu de casa, mas na segunda feira cumpriu com seu costumeiro hábito e saiu para caminhar. Quando estava no primeiro degrau pronto para subir a rua da escadinha lembrou-se do cheiro que nos dias anteriores ele se deparou na subida.

Ergueu a cabeça e movido por uma força diferente, subiu com os olhos fixos no ultimo degrau. Desejava saber quem era a mulher que usava aquele perfume que estava entranhado nele.

Antes que atingisse metade da subida ele avistou a mulher iniciando a passos largos a descida da rua, parou e esperou que ela passasse para então saciar aquele impulso que o fez desejar encontra-la.

Quando ela estava a quatro passos dele, sem nenhuma explicação gritou por Helena. Ela o olhou e instantaneamente e o chamou de Emanuel. A moça percorreu os quatro passos que faltavam para o encontro e se abraçaram tão envolvente que pareciam um.

Ainda abraçados Emanuel falou baixinho no ouvido de Helena:

Seu cheiro me trouxe aqui, só sei dizer que de repente estava diante de ti e com a certeza de que era você. Teu cheiro trouxe de dentro de mim a tua imagem e não importa que hoje esteja mais madura, a tua alma encontrou a minha e nela estávamos eternizados.

Emanuel quis saber como ela o reconhecera, e ela ainda envolta pelo interminável abraço, sussurrou baixinho no ouvido dele:

Ao som da sua voz eu te vi, e foi nesse momento que minha alma encontrou a sua, não tive dúvidas.

Tudo estava muito bonito, mas e se Helena estivesse casada? Pensava Emanuel temendo a resposta. Por outro lado Helena tinha em sua cabeça os mesmos questionamentos.

Mas Emanuel com receio de ir embora e tudo se repetir novamente, ousou e perguntou com jeito se ela se casara.

Ela respondeu que ficou pouco tempo casada, que não teve filhos e que há onze anos vivia sozinha, pois seu casamento não foi o que pensava e culminou numa dolorosa separação.

Sem que ela perguntasse, ele disse tudo referente a seu casamento e a separação. Era notória na face dos amantes a alegria desse reencontro, tinham ao alcance das mãos a possibilidade do recomeço.

Apenas mais uma coisa precisava ser esclarecida para que tudo se tornasse novo no restante do caminho.

Emanuel perguntou o motivo de ela ter parado de caminhar e disse que subiu a Rua em dias alternados e não conseguiu encontra-la.

Ela disse que voltou um tempo depois, mas também não o encontrou a caminhar. Explicou que ficou fora da cidade por dois meses para fazer um curso de qualificação profissional exigido pela empresa em que trabalhava. Como era muito jovem e em inicio de carreira não pode fazer diferente. Quando voltou teve seu horário de trabalho mudado, tendo que caminhar a noite sendo essa sua única alternativa.

E ainda acrescentou:

Quando te encontrei pela primeira vez, eu não estava caminhando, pois o trajeto diário que eu cumpria, passava pela igreja do Rosário. Naquele dia estava indo encontrar uma amiga. Como te encontrei e sabendo que passaria de novo, mudei de trajeto só para te encontrar. E todos os dias eu esperava que me parrasse e aí eu pudesse dizer que estava te amando.

Emanuel com lágrimas nos olhos disse a Helena que não tinha o costume de caminhar, mas depois daquele dia transformou essa prática em lei.

Disse ainda que os trajes de caminhada era apenas um pretexto para ter dez segundos do sorriso dela, e sentir o perfume inebriante que enchia seus dias de alegria.

Ambos choraram copiosamente ao perceber o tempo que perderam por não se declararem quando o amor ardia em seus corações.

O amor adormecido no coração de Emanuel acordou como a fúria de vulcão e curou todas feridas.

Helena esqueceu tudo que a fizera sofrer e entregou a esse amor pronta para experimentar todas as sensações nunca sentidas.

Deram se as mãos e dessa vez lentamente terminaram de subir juntos, degrau por degrau da famosa Rua da escadinha.

Emanuel e Helena todos os dias trocavam juras de amor, se tornaram apenas um e viviam um pouco do céu em vida de tanta felicidade que sentiam.

Não lamentaram o tempo perdido, apenas procuraram viver intensamente o resto de suas vidas.

7 Comments

  1. silvio 15/01/2019 em 12:15- Responder

    Excelente texto esta de parabéns meu amigo

  2. Evandro Junior 15/01/2019 em 12:51- Responder

    Vc é conhece demais!!

  3. Evandro Junior 15/01/2019 em 12:52- Responder

    Parabéns parceiro! Cada dia melhor.

  4. Queles 15/01/2019 em 13:10- Responder

    Lindo demais!!!!!

  5. Edson Reis 16/01/2019 em 08:12- Responder

    Simplesmente fantástico. Fico a pensar, quando se tornará um best-seller?

  6. Francilene 16/01/2019 em 17:53- Responder

    Muito lindo!! Parabéns!!

  7. Francilene 16/01/2019 em 17:57- Responder

    Lindo texto!!Parabéns!

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