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Prosa na Janela: Leia “Carta de Amor”, por Roberto dos Santos

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Por João Paulo Silva Publicado em 11/02/2019, 17:33 - Atualizado em 03/07/2019, 21:20

Roberto Santos, 48 anos, nascido em Dores de Guanhães, chegou ao Distrito Ouro-pretano de Antonio Pereira em 1979. É porteiro na Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e tem uma sensibilidade peculiar na apresentação de seus textos. É casado com Márcia, que é a aguerrida diretora da Escola Municipal Alfredo Baeta e têm o filho Antônio, de 13 anos.

Para descrever o amor que sentia, um homem escolheu como confidente uma folha de papel.

Escreveu uma carta e nela rasgou seu coração num desabafo em que contou tudo que o amor lhe fez.

Já na primeira linha pôs se descrever a mulher que arrebatou seu coração.

Ela não era alta, tinha olhos de jabuticaba que brilhavam com muita intensidade, seus ombros eram lindos, seu sorriso inigualável, seus lábios pareciam cerejas mordiscadas quando o vermelho do batom coloria sua linda boca. Seus cabelos tocavam seu pescoço e ombros suavemente como que os acariciando. O nariz eu não sei como descrever só sei que era lindo. Quando andava parecia flutuar.

Que mulher linda!

Dizia o homem apaixonado quando a avistava caminhando pela rua. Uma deusa em forma de mulher que ele perdidamente se rendeu aos encantos.

O nome dos protagonistas apareceu nos relatos seguintes. O homem se chamava Enzo e a mulher Sophia.

E seguindo seu relato, se referia a voz de Sophia como acordes de uma bela canção. Esse som penetrava em seus ouvidos e chegava ao seu coração. De lá provocavam- lhe inúmeras sensações, fazendo-o cada vez mais apaixonado.

Sophia além de bela tinha bom coração.

Um dia três garotos perguntaram a ela se queria comprar limões e só para ajuda-los comprou boa parte deles e ainda deixou que ficassem com o troco. Enzo observava tudo bem próximo e percebeu a intenção dela quando sabatinava os jovens enquanto escolhia os limões.

A beleza que ele viu no rosto dela estava cintilante, era a transfiguração de sua beleza interior quando em fusão com seu rosto lindo. Era uma imagem linda e inesquecível. Neste dia ela vestia um vestido azul que juntamente com sua simplicidade compunha a imagem observada por Enzo.

E com essas palavras ele tentava colocar na carta a descrição de seu amor.

Mais adiante, pensou em fazê-la saber do que sentia, mas a prudência e o medo povoava sua cabeça. Mesmo assim era incessante seu desejo em descobrir uma forma de declarar-se a ela.

Sophia via Enzo passar todos os dias perto de sua casa e sem saber o que se passava, já o tinha como uma pessoa conhecida.

Numa manhã de sol de janeiro, ele estava próximo a casa dela quando a viu sair. O coração disparou e instintivamente se jogou ao chão. Ela assustou-se, pois estava a apenas alguns metros dele. Apressou o passo e chegou rapidamente onde ele estava e o ajudou a levantar. Foi à forma que encontrou para ficar perto dela por alguns instantes e deu certo, pois em meio às preocupações da queda, a moça perguntava sobre sua vida. Enquanto o diálogo transcorria, ele não cabia em si de tanta felicidade.

Quando já havia controlado o medo e a timidez, veio a sua cabeça um pensamento que o deteve. Talvez ela fosse comprometida, então preferiu esperar mais um pouco para saber mais sobre ela.

O seu amor aumentava de intensidade a cada dia. Em casa fechava os olhos e imaginava a linda mulher. Foi mais um jeito que descobriu de estar com ela. Ele já conhecia o cheiro dela e a voz de Sophia o estremecia.

Enzo estava tão envolvido com Sophia que preparou tudo para falar para ela que não conseguia mais suportar a distância que os separavam.

Decidiu correr todos os riscos, até o de perdê-la e objetivava falar para ela sobre todo amor que sentia.

Enzo deixou na janela da casa de Sophia uma pequena rosa vermelha, ele sabia da simpatia dela pelas flores, fato que poderia deixa-la dócil às palavras que almejava dizer. Embora pensasse que ela não tinha noção dos acontecimentos a sua volta.

Nos seus escritos, ainda relatou que fez outras coisas na tentativa se aproximar da moça, sem especificar o que seria.

Mas seus planos não deram certo. Sophia já desconfiada de que foi ele a deixar a rosa vermelha na sua janela, não lhe deu chance sequer de iniciar o plano que arquitetara.

Educadamente como era próprio dela, interrompeu a fala de Enzo e ali mesmo no caminho do mercado pôs fim aos anseios do moço que desejava há tempos conquistar o amor dela. Ele que havia esboçado pegar as sacolas de verduras e legumes que ela carregava, não teve tempo para tal gentileza.

Sophia não estava tão alheia às intenções de Enzo, ela já imaginava que ele ia falar-lhe. Antes que pronunciasse qualquer palavra, pediu que guardasse tudo dentro dele e não mais a procurasse.

Enzo emudeceu-se e trêmulo não tentou convencê-la a ouvi-lo. Percebeu de imediato que a bela mulher o confundira com um aproveitador qualquer.

Entristeceu-se por não ter podido dizer a ela que a amava, e que estava disposto a fazer tudo para conseguir o amor dela.

Pretendia dizer dos seus medos e falar dele para ela, queria pedir paciência, mas que depois de tudo dito e posto desejava seu abraço e seu beijo. Queria dizer que havia decidido transpor qualquer barreira se ela lhe desse uma chance de provar seu amor.

Enzo havia tomado à decisão de lutar pelo amor de Sophia, depois de tanto tempo. Mas não conseguiu chegar ao seu coração.

Depois pediu que o ouvisse pela última vez e que depois nunca mais em respeito a ela a procuraria.

Disse triste e cabisbaixo que não era aproveitador de mulheres, se assim o fosse sua abordagem seria diferente.

Disse que era o homem que a amava e que demorou muito para procura-la porque não queria que desse errado. E concluindo o aparte pedido, disse que a amaria para sempre.

Sem dizer adeus e envolto por um silêncio que corroía, ele foi se afastando. Era nítido e notório o choro contido.

Sophia ficou um pouco confusa imaginando ter sido injusta com o moço, mas manteve-se irredutível.

A carta tinha como última frase um grito de esperança:

“Talvez um dia ela entenda.”

A tristeza persistia no coração de Enzo, porque no dia que se revestiu de coragem, Sophia pôs fim a seus sonhos. E ele estava mesmo decidido.

No rodapé ainda escreveu:

Os nomes eu inventei, os locais não mencionei claramente, a cidade muito menos, tudo de propósito para que permaneça incógnito um amor que se tornou impossível, mas que ainda arde em meu peito.

Confidências contidas numa carta deixada ou esquecida no banco de uma praça e que a pessoa que a encontrou tornou pública. Não revelou seu nome nem o lugar que a encontrou, penso que em solidariedade ao autor que não quis revelar o seu nome e nem o de sua amada.

Não faço a mínima ideia porque quis manter-se no anonimato, mas confesso que me emocionei e que torci por ele, mas foi só o que pude fazer.

Um Comentário

  1. Mirtes Perucci 11/02/2019 em 21:06- Responder

    Nossa! Linda história de amor! Estava torcendo pra dar certo !??

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