Os males do nacionalismo cristão

"O dia 8 de janeiro é uma vergonha para a democracia brasileira, mas também para parte da Igreja que esqueceu o Evangelho".

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Por Gutierres Fernandes Siqueira* Publicado em 14/01/2023, 15:42 - Atualizado em 14/01/2023, 15:43
Bolsonaristas não pouparam nem crucifixos durante invasão a Brasília. Crédito – Reprodução / Internet. Siga no Google News

O dia 8 de janeiro de 2023 ficará marcado como o pior dia da democracia brasileira desde a redemocratização. Nas filmagens é possível observar que parte dos extremistas oravam e carregavam Bíblias, o que faz crer que são evangélicos, base eleitoral importante do ex-presidente. É a extrema-direita religiosa em ação.

Este fenômeno não é novo, mas é crescente. Trata-se de uma forma de nacionalismo religioso que se concentra na promoção e proteção da religião cristã evangélica em uma determinada nação. Isso pode incluir a implementação de leis e políticas baseadas no evangelicalismo, a promoção de programas educacionais e culturais, e a defesa de práticas e costumes evangélicos. Mas, tudo isso, desprezando os valores da democracia liberal.

É fruto de uma leitura errônea do conceito de “nação cristã” ou “nação escolhida”. A ideia de “nação escolhida” é uma expressão bíblica que se refere ao povo de Israel, que conforme a tradição judaica e cristã, foi escolhido por Deus para ser um povo especial e receber a graça de Deus. Segundo a Bíblia, Deus escolheu o povo de Israel para ser um exemplo para outras nações.

Mas, conforme as Escrituras, apenas Israel serviu a Deus como nação escolhida. Depois de Israel, não houve, não há e nem haverá nação escolhida. Qualquer leitura que faça em qualquer país usurpa o papel da Igreja como nação escolhida. A Igreja não é nacional, mas transnacional; não é parte de uma cultura, mas abarca todas as culturas. Os nacionalistas cristãos querem fazer de sua nação um novo Israel, mas o novo Israel é a Igreja de Jesus Cristo.

O nacionalismo evangélico é também sedutor para muitos pastores e líderes da Igreja. Afinal, é uma forma de exercer poder. Mas, como todo tipo de poder, está envolto em vários perigos: 

1) Falta de humildade: geralmente produz arrogância e superioridade religiosa, contrária aos ensinamentos bíblicos de humildade e amor ao próximo. 

2) Desvio da missão: desvia a missão cristã e da mensagem do Evangelho a todas as pessoas e foca na defesa de interesses nacionais e eleitorais.

3) A polarização: leva a uma polarização religiosa e política na sociedade, prejudica a unidade e o diálogo entre diferentes grupos. Além disso, a polarização namora as obras da carne ao cultivar dissensão, ira e sectarismo.

4) Foco na política em vez da espiritualidade: o radicalismo leva os evangélicos a se concentrarem mais na política e no poder terreno do que na vida espiritual e no amor ao próximo. É excessivamente ativista e pouco piedoso; é engajado, mas nada generoso; é transtornador, mas nada transformador. 

5) Perigo de misturar religião e política: leva a conflitos e violência, e que os evangélicos devem se concentrar em praticar sua fé de forma pacífica e respeitosa. Embora seja impossível cultivar uma religião neutra politicamente, é necessário separar Igreja e Estado, fé e política. Separar não é divorciar completamente, mas é saber discernir quando a aproximação é saudável ou não.

6) Dependência da cultura do medo e teorias conspiratórias: o nacionalismo cristão, como todo nacionalismo, precisa de inimigos, nem que sejam inimigos imaginários inventados em teorias conspiratórias.  Em sua guerra cultural, os nacionalistas respiram ameaças e vivem em um mundo binário de constante estado de conflito. 

Vários extremistas depredaram o patrimônio público enquanto oravam. Esse tipo de ato é sacrilégio da fé. Jesus elogiou os pacificadores. Paulo disse que a nossa luta não é contra carne e sangue. O cristianismo nos ensinou que o amor é mais forte do que o poder das armas. O dia 8 de janeiro é uma vergonha para a democracia brasileira, mas também para parte da Igreja que esqueceu o Evangelho.

Gutierres Fernandes Siqueira é teólogo e jornalista; autor do livro “Quem tem medo dos evangélicos?” (Editora Mundo Cristão).

2 Comments

  1. Maria Maurita Moreira Rodrigues 15/01/2023 em 03:03- Responder

    Como evangélica, a princípio, considero o texto preconceituoso com tal religião. Mas não é só. O texto é também “muito razo”, cheio de generalizações, típico de achismos. Sendo assim, nem vou me dar ao trabalho de refutá-lo item a item. Por si só, esse texto já é insignificante. No mais, respeite minha religião porque eu respeito a sua.

  2. ANDERSON CLESSIO 24/01/2023 em 09:58- Responder

    Boa tarde que Deus aben
    çoe a todos, quero deixar aqui o cometário sobre esse assunto, acho que estão colocando a politica no lugar errado, sendo que os cristão deve anuniciar o evangelho sim e não guerra, só que esse texto coloca os evangelhos como vilão e não é assim que vejo, a politica não tem nada a ver com a o que está acontecendo no cenário nacional, se o povo defende o Bolsonário ok, se defende o Lula ok, mas, colocar todos evangelho de modo errado não posso aceita por que, o evangelho é novidade de vida e não de critica ou guerra como é falado aqui, se tem medo ok, se quer a verdade podemos conversar, só penso que não podemos continuar assim como estar, veja bem o que postar e postar com firmeza do que ver.

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