Coisas do Cotidiano: Leia “A Palmatória de Dona Calu”, por Antoniomar Lima
Em “Coisas do Cotidiano”, o escritor, poeta e graduado em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Antoniomar Lima, visa percorrer “esse espaço fronteiriço, entre a grandeza da história e a leveza atribuída à vida cotidiana.”
Sem o apoio de uma tecnologia, eu e muitos da minha geração estudamos precariamente, pois se quiséssemos fazer trabalhos, pesquisas escolares tínhamos que ir para as bibliotecas, pôr a mão na massa, ou melhor, os olhos, diretamente, nos livros, seja para procurar a origem e o significado de palavras ou mesmo sobre algum assunto antigo.
Aliás, passávamos o dia inteiro nessa ladainha e, mesmo assim, a tarefa ficava incompleta, mas dava para o gasto.
Diferentemente da atual geração que mesmo com tudo mastigado, tendo a seu favor a polivalência da tecnologia - pois é só dar uma googada e zás-trás, eis as respostas para quaisquer perguntas -, tínhamos que nos virar para estudar.
Segundo uma professora amiga 'conta-se nos dedos quem espontaneamente se atreva a pegar livros, mesmo em PDFs, para ler com afinco. Talvez essa seja a causa de muitas desinformações sobre os nossos grandes escritores, artistas etc. e tal.'
É compreensível que ninguém seja obrigado a instruir-se, ler, saber de tudo. Mas em se tratando de pessoas que tencionam seguir carreira sobretudo no campo político é de deixar boquiaberto um mediano leitor a desenvoltura da safra atual.
Digo isso porque esses dias assisti um vídeo que me deixou estarrecido ao saber do desconhecimento de um governador que, ao ganhar um livro de poesia de presente num programa de rádio e, que para espanto do próprio apresentador, não sabia quem era Adélia Prado. Conterrânea sua, maior poeta brasileira viva que reside na modesta Divinópolis.
Mas mudando da água para o vinho, lembro que na minha época, em cada bairro havia alguém (comumente mulheres) que dava aulas particulares, aulas de reforço que ajudaram quem era perspicaz, o que não era meu caso quando adolescente que sempre fui muito lento, pensava demais como até hoje, mas que nunca dispensou uma sadia leitura.
Tive umas três professoras – sem uma formação técnica - que basicamente se restringiam a corrigir as tarefas rudimentares (antiga preceptora), mas a que ficou no meu imaginário foi a dona Calu - não ela em si, pois esse subterfúgio fazia parte daquele tempo - que com uma palmatória em riste me tirava todo o interesse de raciocinar, acentuando minha ojeriza pelos números, pois eu já chegava com cara de choro, tomado pelo pânico de voltar para casa com as palmas das mãos vermelhas.
Por isso, não sinto a mais ínfima saudade da palmatória – apesar de não descartar a possibilidade dela ter ajudado muita gente, o qual não me incluo, pois se esse objeto conseguiu jogar um professor de matemática para o escanteio; por outro lado, fez sobreviver, aos trancos e barrancos, um de língua portuguesa.
Laudate Dominum
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