Coisas do Cotidiano: “A lição do Rei Midas”, por Antoniomar Lima

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Por Antoniomar Lima Publicado em 27/06/2022, 11:55 - Atualizado em 27/06/2022, 11:55
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Antoniomar Lima é graduado em Letras (licenciatura em Língua Portuguesa) pela UFOP e já publicou dois livros de poesias. Crédito — Arquivo pessoal. Siga no Google News

Entre as miríades de histórias da mitologia, a do rei Midas é uma daquelas que toda pessoa que é excessivamente gananciosa, ou pelo menos tem tendência para tal, deveria ler e refletir, pesando os prós e os contras antes de decidir-se se é isso mesmo que quer.

O pai de Midas que se chamava Górdio que, antes de tornar-se rei da Frigia era apenas um simples e humilde camponês morrera, consequentemente o filho herdou o reino.

Este já entronado, um dia, recebera a visita de alguns camponeses que trouxeram consigo um ancião bêbado que vagueava perdido por um dos caminhos do referido reino.

Logo ao bater com os olhos no homem, Midas viu que se tratava de Sileno, mestre e pai de criação de Baco, o deus da vinha e do vinho. Incontinenti, tomando-o pelo braço o conduziu para o filho.

Diante de tão nobre gesto de levar o pai até ele, Baco, resolve retribuir a gentileza concedendo-lhe qualquer pedido. E, Midas, esquecendo-se de sua origem humilde, gananciosamente, resolvera aproveitar-se da situação. Isto é, ao invés de simplesmente ter se restringido a fazer um bem sem quaisquer interesses em receber recompensa, a não ser a paz de espírito como se tivesse fazendo um bem para si mesmo, ali, diante das palavras de Baco decidira fazer o seguinte pedido: “faça com que tudo que eu toque se transforme em ouro!”. Percebendo a intenção de Midas, mesmo assim, resolvera atender ao pedido.

Saindo da presença de Baco, o rei Midas empolgado, certamente se sentindo o maior e mais poderoso rei, pelo caminho de volta para casa ia tocando em pedras que se transformavam em ouro, folhas e frutos…

Mas o pior estava por vir, pois, ao chegar em casa ao pedir aos seus criados que preparassem um banquete, ao tocar no pão incontinenti vira este transformado em ouro e ao levar a taça de vinho a boca, tocando com os lábios na mesma, viu estes se transformarem em ouro.

O pânico tomou conta dele ao constatar que era impossível alimentar-se ou beber água.

Sua filha, Phoebe, vendo seu desespero tentou socorrê-lo e, ao tocá-lo, transformou-se em uma estátua de ouro.

Mais desesperado ainda Midas, ali onde estava, contrito evocou Baco, pedindo que este o livrasse daquilo que, na verdade, era uma maldição. Baco consentiu e disse a Midas que deveria se banhar na fonte do rio Pactolo para que pudesse se lavar do castigo. Ao se lavar, Midas passou às águas do rio o poder de tudo transformar em ouro, sendo que a areia do Pactolo, no fundo, se tornara dourada.

Depois desse sufoco, ao ver as coisas e as pessoas restituídas, o rei Midas reconheceu que pensara tão somente e exclusivamente em si, levado por uma ganância desmedida. Afinal de contas, ele era um rei e não precisava recorrer a esse subterfúgio.

Ainda bem que ele acordara a tempo, senão as consequências poderiam ser piores. Ao fim, quase no término de sua existência resolve morar longe das cidades que ele acreditava ser o foco das ambições cegas e do desamor aos semelhantes.

A partir de então, reviu seus conceitos sobre a ambição desmedida e voltou a valorizar a vida simples de outrora, mesmo sendo um rei.

Laudate Dominum

“Coisas do Cotidiano”

Em “Coisas do Cotidiano”, o escritor, poeta e graduando em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Antoniomar Lima, busca percorrer “esse espaço fronteiriço, entre a grandeza da história e a leveza atribuída à vida cotidiana.”

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