Coisas do Cotidiano: Leia “Super-Heróis”, por Antoniomar Lima

Por Antoniomar Lima Publicado em 20/03/2024, 09:17 - Atualizado em 20/03/2024, 09:18

Antoniomar Lima é graduado em Letras (licenciatura em Língua Portuguesa) pela UFOP e já publicou dois livros de poesias. Crédito — Arquivo pessoal.

Quando criança, partindo de "algum ponto" que chamamos "do nada", demos início ao sonho de sermos alguma coisa nesse mundo, e como bem pontuou Fernando Pessoa ‘Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. ”

No meu tempo de guri, por exemplo, incorporei o personagem Tarzan e, por incrível que pareça, não lembro se a minha mãe ou eu mesmo que teceu uma tanga similar ao do homem das selvas, ao qual, acrescentei seu famoso grito que eu emitia - diga-se de passagem, totalmente fora do tom -, antes de atirar-me numa piscina, ou no poço que tinha ao lado da minha casa - tendo comigo a ilusão de que se tratava de uma imensa Cachoeira.

Tentei ser Batman e, Robin, meu parceiro, que existia apenas na minha voz quando eu solicitava sua presença que só eu via; fui o homem que se tornava invisível ao apertar um relógio do pulso (Gemini Man) e que depois vestia roupa, punha uma máscara, luvas para que voltasse a viver normalmente e, que certamente, alguém ao me ver diante nessa interpretação inocente dava risadas como as que eu dou hoje num oportuno flashback. Fui também Namor que antecedeu Aquaman – espécie de príncipe dos mares.      

Já adolescente, ao tomar consciência do mundo e das coisas que me rodeiam, tive a impressão que fui expulso d’algum paraíso. E, posteriormente, tive a confirmação dessa expulsão que foi por causa de uma “maçã” que Deus tinha avisado para que ninguém a comesse senão morreria e que o primeiro casal que habitava o jardim do Éden não resistiu e crau, motivo pelo qual a humanidade herdou a morte, dores e sofrimentos etecetera e tal, que fez com que vivamos a nos perguntar "por que tenho que pagar pelos erros dos meus antecedentes?"

Com o passar do tempo, no que tange aos super-heróis, descobri que os verdadeiros eram de carne e osso, com defeitos e virtudes, que não viviam no meio de "animais selvagens" numa mata fechada, inóspita e inacessível, mas numa  selva de pedra com problemas, mazelas, contradições e absurdos, que usavam máscaras, capas, somente nas festas carnavalescas; eram visíveis, mas existia um contingente "invisível" que vivia sem norte, desassistido pelos notáveis  e que, muito menos, habitavam no fundo do mar.  

Laudate Dominum