Coisas do Cotidiano: Leia “Assim e Assado”, por Antoniomar Lima
Em “Coisas do Cotidiano”, o escritor, poeta e graduado em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Antoniomar Lima, visa percorrer “esse espaço fronteiriço, entre a grandeza da história e a leveza atribuída à vida cotidiana.”
Quem sabe, possa parecer uma visão excessivamente schopenhaueriana, mas desde o fatídico instante que Adão e Eva jogaram às favas a imortalidade, nosso cotidiano é pontuado de perdas e danos, no qual passamos a viver situações absurdas e contraditórias, e pior que, às vezes - sem nos darmos conta – não sabemos se por costume, pois segundo o ditado ‘o costume do cachimbo é que faz a boca torta! ’
Entretanto, o que conspira contra nós é que não temos, ou quem sabe, perdemos, ou mesmo nunca tivemos, a capacidade de prevermos o que nos espera a frente, pois se assim fosse, talvez podiamos nos preparar adequadamente e não sofreríamos tantos perrengues - apesar de vez por outra surgirem candidatos com pouco tempo de validade, incorporarem o dom divino da previsão.
Racionalmente não podemos deixar de reconhecer que tal pretensão humana não passa de uma utopia, que temos que nos virar nos limites de nossa condição de seres de carne e osso que vivem num mundo real, longe das ficções que tivemos quando crianças e das que encontramos escritas nos livros e, mesmo das visões romantizadas que nossos antepassados relataram dum mundo mágico, sem tocarem, às vezes, nas dores e nas lágrimas sofridas pelo caminho...
Não é à toa que vez por outra somos surpreendidos à semelhança de Édipo, rei de Tebas que na tragédia escrita por Sófocles, caíra na armadilha da própria inteligência ao subestimar a advertência do oráculo de delfos, vindo a assassinar Laio, o pai e desposar a mãe, Jocasta, decretando seu pesadelo eterno diante da impotência terrena.
Convivemos com perdas e danos desde o nascimento, pois posteriormente, cientes de tudo que nos rodeia, percebemos que já havia um montante que apenas não olhamos a olho nu que, evidentemente, de algum modo causa uma catarse na imaginação.
Seria uma insensatez aceitarmos de mão beijada as coisas desagradáveis que acontecem e que nos obrigam a recomeçar com o intuito de fazermos e darmos nosso melhor, mesmo sabendo que é uma chance que temos de crescer e sairmos mais fortes, entretanto, a indignação permanece, pois em tese pensamos 'depois da tempestade' que deveria ser 'assim e assado'.
É uma constatação que foge a nossa concepção humana que, querendo ou não, temos que entender para que a esperança que é a lenha da fogueira do recomeço permaneça acesa em todos os momentos de nossa existência.
Laudate Dominum
Deixar Um Comentário