O poeta maranhense Odylo Costa Filho (1914/1979) costumava dizer que não exigia atestado ideológico de seus amigos para que estes frequentassem a sua casa que estava sempre de portas abertas. Comungo com essa opinião. Acho que não podemos nos comportar como se estivéssemos sempre certos, como donos da verdade, que somente a nossa opinião tem que prevalecer e as dos outros não sejam levadas em consideração. Isto é, não têm sentido, não valem nada.
Não é por aí que a coisa funciona. Seja qual for a opinião de outrem, não custa nada dar ouvidos. Agindo assim, aprendemos muito uns com os outros.
Machado de Assis (1839/1908) quando escreveu que “cada cabeça é uma sentença”, em algum grau, baseou-se nessa situação, nesse entroncamento de ideologias.
O escritor americano Walter Lippmann (1889/1974) rechaça “quando todos pensam igual é porque ninguém está pensando”.
Desde o episódio da Torre de Babel que redundou na dispersão das línguas, já ninguém se entendia; agora, com a permanência da mesma e com o desenvolvimento tecnológico, o entendimento deu uma complicada; entretanto, segundo Miguel de Cervantes (1547/1616) aí que reside a chave: “nunca houve no mundo duas opiniões iguais, nem dois fios de cabelo ou grãos. A qualidade mais universal é a diversidade”.
O que está acontecendo hoje, incluindo as redes sociais, é justamente o seguinte: 'se você não fizer parte de um grupo, ou mesmo ir contra certas ideologias, você não é bem-vindo’. Isso é um absurdo. Cada ser humano é uma instituição distinta; é um mundo à parte e, não deveria ser ignorada por defender seu ponto de vista, pois como podemos obrigar uma pessoa pensar da mesma forma que pensamos? Cada um é o que é, e deve ser respeitada por isso. As leis para coibir ‘exageros e extrapolações’ existem pra quê? ainda na mesma toada, Thomas Jefferson arremata: “quando os homens são éticos, as leis são desnecessárias; quando os homens são corruptos, as leis são inúteis.”
Enfim, voltando ao âmbito particular. É bobagem querermos exigir de outrem atestado ideológico para que a amizade se estabeleça. Nesse caso, deve ou deveria haver o mútuo respeito, como dizia Tancredo Neves: “briguem as ideias, não os homens”. Isto é, que as diferenças se restrinjam ao campo das ideias e nos entendamos com sensatez e sabedoria como seres humanos.
Laudate Dominum
"Coisas do Cotidiano"
Em "Coisas do Cotidiano", o escritor, poeta e graduando em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Antoniomar Lima, busca percorrer “esse espaço fronteiriço, entre a grandeza da história e a leveza atribuída à vida cotidiana”.
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