Uma expressiva multidão, estimada em mais de 20 mil pessoas, convergiu para a Praça São Pedro nesta quarta-feira (23), a fim de expressar suas condolências e render tributo ao Papa Francisco. A cerimônia de velório público, iniciada às 11h (horário local), estender-se-á até a próxima sexta-feira (25/4).
Segundo informações da Santa Sé, o féretro foi posicionado diante do Altar da Confissão, no interior da Basílica de São Pedro, onde o coral entoou a Ladainha dos Santos em latim, rogando “pelo descanso de sua alma”. O cardeal camerlengo Kevin Farrel conduziu uma breve liturgia, que incluiu a leitura de um trecho do Evangelho de João, versando sobre o amor de Jesus por seus discípulos.
O Vaticano divulgou os horários de visitação à basílica, permitindo que os fiéis se despedissem do pontífice: quarta-feira, das 11h à meia-noite; quinta-feira (24), das 7h à meia-noite; e sexta-feira (25), das 7h às 19h.
O funeral de Francisco está agendado para o próximo sábado (26), com início às 10h, na Basílica de São Pedro. Após a cerimônia, o caixão será trasladado para a Basílica de Santa Maria Maior, onde será sepultado, em conformidade com o desejo do pontífice.
A cerimônia de sábado, conhecida como Missa de Exéquias, inaugura o Novendiali, um período de nove dias de luto e orações em honra ao Papa. A celebração, realizada no átrio da basílica, será presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício.
Ao término da celebração, serão realizados os ritos da Última Commendatio e da Valedictio, solenes despedidas que encerram as exéquias.
Líder da Igreja foi uma das vozes mais firmes diante dos dilemas centrais da vida contemporânea
Durante seu papado, Papa Francisco se destacou como uma figura de liderança global, com uma abordagem voltada à transformação social, à ética e à justiça. Seu pontificado foi marcado por posicionamentos sobre temas como desigualdade, crise climática e o impacto das tecnologias emergentes. Tornou-se um defensor constante de uma perspectiva humanista, em que o respeito à dignidade e ao bem-estar coletivo ocupam lugar central. Entre tantos gestos simbólicos e declarações públicas, cinco bandeiras se consolidaram como pilares de sua leitura sobre o mundo atual:
1. Combate à desigualdade
Francisco sempre defendeu a equidade, posicionando-se contra as disparidades econômicas e sociais que atingem milhões ao redor do planeta. Em suas falas, enfatizou que a erradicação da pobreza não é apenas uma questão de compaixão, mas uma necessidade estrutural, que exige repensar modelos econômicos e rever a distribuição de renda. Para ele, “a dignidade humana está intimamente ligada à eliminação da pobreza”, e a busca por um sistema mais justo deveria ser uma causa prioritária em escala global.
2. Preservação do meio ambiente
Em inúmeros pronunciamentos, Papa Francisco reforçou a urgência da pauta ambiental, tratando as mudanças climáticas como uma ameaça real à sobrevivência. Ele convocou líderes e cidadãos a adotarem medidas eficazes contra a destruição do meio ambiente, sublinhando que “a responsabilidade de cuidar da Terra não é apenas para com as futuras gerações, mas também para com todas as criaturas que nela habitam”. Seu conceito de “ecologia integral” propõe que sustentabilidade, justiça e dignidade caminhem juntas.
3. Diálogo inter-religioso e paz
O Papa sempre foi um defensor do diálogo entre religiões como instrumento de construção da paz e superação de conflitos. Em um cenário global marcado por tensões ideológicas e disputas identitárias, ele insistiu que o entendimento mútuo e o acolhimento da diversidade são essenciais para estabelecer conexões entre os povos. Sua atuação na diplomacia inter-religiosa visava não só à tolerância, mas à promoção de uma convivência baseada em fraternidade e respeito.
4. Crítica à lógica das redes sociais
O pontífice chamou atenção para os efeitos colaterais das redes sociais na formação da opinião pública, alertando que, apesar de seu potencial de conexão, essas plataformas podem levar a desinformação e polarização. Segundo ele, os meios digitais muitas vezes incentivam “uma comunicação superficial, alimentando divisões em vez de diálogo”. Para Adriano Santos, especialista em comunicação e sócio da Tamer Comunicação, essa crítica compreende uma técnica da lógica atual das redes, que operam com base na segmentação algorítmica e priorizam o engajamento imediato, dificultando o debate qualificado e a construção de um entendimento comum. “Ao dizer que as redes ‘alimentam divisões em vez de diálogo’, o Papa mostrou como essas plataformas priorizam a dissonância, dificultando trocas mais plurais”.
5. Desinformação e Inteligência Artificial
Sobre os riscos da desinformação, Francisco alertou para os efeitos das fake news, capazes de minar a confiança social e distorcer a realidade. Em relação à inteligência artificial, expressou preocupação com a manipulação de dados e o uso de tecnologias sem critérios éticos ou transparência. “A velocidade com que as notícias falsas e as ‘deepfakes’ se espalham é como uma bola de neve, que cresce rapidamente e dificulta cada vez mais a distinção entre o que é real e o que é falso”, afirma Santos, destacando os riscos associados e os impactos dessa dinâmica sobre a democracia.
Ao longo de sua jornada, Francisco sustentou o ideal de um mundo mais justo e fraterno, colocando a dignidade humana no centro das decisões — inclusive frente às novas ameaças trazidas pela era digital. Sua atuação ultrapassou os limites da Igreja e impactou diferentes esferas da vida pública, com posicionamentos firmes diante dos desafios do século XXI. Seu legado permanece atual, mobilizando não apenas fiéis, mas também pesquisadores, ativistas, educadores e líderes políticos que identificam em sua mensagem um chamado à responsabilidade coletiva.
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