Leia “Nas Estradas da Vida, Somos Peregrinos ou Andarilhos?”

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Por Pe. Edmar José da Silva Publicado em 30/05/2020, 14:53 - Atualizado em 30/05/2020, 14:56

Existe um pensador cristão, de origem francesa, com o qual muito me identifico, chamado Gabriel Marcel (1889-1973). Este filósofo constrói todo o seu sistema filosófico de cunho existencialista sobre a ideia de que o ser humano é “homo viator”, ou seja, é um ser a caminho ou um ser itinerante. A existência humana é dinâmica, um persistente caminhar, um itinerário aberto e inconcluso que precisa ser definido ou redefinido cotidianamente. E o mais importante: o ser humano pode escolher percorrer seu caminho existencial como andarilho ou como peregrino e qualquer uma destas escolhas terão consequências muito importantes para o seu próprio caminhar.

Quem é o peregrino? O peregrino é aquele ser humano que conhece o seu ponto de partida e qual caminho precisa percorrer para chegar ao seu destino ou à meta traçada por ele. O peregrino tem uma rota definida, um percurso determinado, um itinerário, um norte que deve ser seguido para alcançar o objetivo almejado. Pode até ser que exista mais de uma possibilidade para se chegar à meta almejada, mas o peregrino sabe que deve escolher uma dessas possibilidades. Para o peregrino, o caminhar não se faz de modo solitário, mas é uma experiência comunitária. Ele sempre caminha considerando os demais, sabendo da importância deles para seu crescimento humano e espiritual. Do ponto de vista existencial, o peregrino é aquele ser humano que tem propósitos bem definidos na vida, tem um projeto existencial e, por isso, traça metas e se esforça para alcançá-las, em vista do horizonte maior da sua existência. Caminhar neste mundo como peregrino não é fácil, mas dá mais segurança e firmeza na caminhada. Às vezes a caminhada é lenta, sofrida, mas alimentada pelo horizonte que se pretende alcançar.

Quem é o andarilho? O andarilho é aquele ser humano que, por motivos diversos, não sabe o seu ponto de partida, não tem clareza do lugar onde deseja chegar, por isso, também não tem convicção de qual caminho percorrer. Qualquer caminho para ele serve e não serve ao mesmo tempo. O andarilho é um desnorteado, um sem rumo, caminha solitário, nele há uma falência de propósito ou de meta a ser alcançada. Alguns podem até dizer que ele é verdadeiramente livre, não se aprisiona a nada e a ninguém. Tenho receio desta liberdade. O andarilho sofre muito porque, no contexto social, está desprovido do básico e é vítima de preconceitos e marginalização. Do ponto de vista existencial, o andarilho é aquele ser humano que caminha neste mundo de modo solitário, sem horizonte, sem meta ou sentido para a própria existência. Perdeu os sonhos e utopias e sem eles, muitas vezes, perdeu também o entusiasmo para caminhar. A utopia e os sonhos, como afirma Eduardo Galeano (escritor uruguaio), servem para nunca deixar de caminhar.

E você? Na sua experiência de vida, já escolheu como deseja percorrer o seu caminho existencial?  Creio que a vida fica menos pesada e exigente se caminhamos como peregrinos, tendo algo maior ou alguém que nos motive, nos sustente e dê sentido para a nossa caminhada. Permita-me te confidenciar: eu encontrei a minha razão de caminhar na fé, em Deus! Isso não significa que a minha caminhada seja fácil e romântica, mas significa que tenho um horizonte transcendental e sagrado que me faz perseverar como peregrino neste mundo tão complexo e tão desafiante, na companhia fraterna de outros peregrinos e andarilhos da vida.

Pe. Edmar José da Silva

Um Comentário

  1. Ivana 12/09/2024 em 09:36- Responder

    Gostei muito desse texto, parabens Pe. Edmar José da Silva, o senhor tem outros textos

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