Ouro Preto-MG divulga balanço dos estragos causados pelas chuvas e pede que população continue atenta

Prefeitura Municipal da cidade histórica de Minas tem se valido de estratégias de segurança e tecnologia para garantir a segurança da população. Mesmo sem a ameaça do ciclone Curumim, o aparecimento do Sol em alguns pontos da região e uma possível estiagem, a Defesa Civil alerta que ainda não é o momento das pessoas baixarem a guarda.

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Por João Paulo Silva Publicado em 27/01/2020, 18:06 - Atualizado em 28/01/2020, 09:05
Foto-Reunião com as forças de segurança expõe a situação na cidade após as chuvas dos últimos dias. Crédito-Tino Ansaloni/Jornal Voz Ativa. Siga no Google News

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Uma entrevista coletiva com as forças de segurança de Ouro Preto-MG aconteceu, na manhã desta segunda-feira (27/01), no gabinete da Prefeitura Municipal da cidade histórica. a

Números do fim de semana

A Defesa Civil relatou que no mês de janeiro caiu 70% a mais de chuva do que o esperado, e que realizou quase 500 atendimentos de sexta-feira a domingo.

Já o Corpo de Bombeiros contabilizou 58 ocorrências no mesmo período, sendo uma delas por soterramento. A vítima foi socorrida a tempo e já recebeu alta médica.

Até o momento existem 30 famílias desalojadas, 72 pessoas em casas de amigos e parentes, duas famílias desabrigadas, duas casas danificadas e uma casa parcialmente destruída.

Algumas ruas e estradas foram interditadas na sexta-feira, mas os caminhos já foram desobstruídos pela Secretaria de Obras, com apoio de comerciantes locais que auxiliaram no envio de maquinário e mão de obra.

A Coletiva

A intenção do encontro foi informar a sociedade sobre as inúmeras ações relacionadas às chuvas que atingiram o munícipio nos últimos dias, expor o balanço de ocorrências na região, além de alertar a importância dos cidadãos se manterem atentos a novos riscos. Além do prefeito Júlio Pimenta e do vice Tico Miranda, a coletiva de imprensa contou com a presença do vereador Geraldo Mendes, representando a Câmara Municipal, de secretários municipais, membros do Corpo de Bombeiros Militar, da Defesa Civil, da Polícia Militar e demais autoridades.

Ação Conjunta

Antônio Ramos, secretário de Defesa Social de Ouro Preto, fez um apanhado de todas as ações realizadas em conjunto com os órgãos de segurança no município, que contou com a participação efetiva da Guarda Municipal, Polícia Militar, Fiscalização de Posturas, Corpo de Bombeiros, entre outros. “Tivemos como foco formar uma rede de proteção e prevenção à vida devido às fortes chuvas na região. Esse esforço conjunto, pautado em reuniões e estratégias, nos permitiu enfrentar a situação e atender ao chamado de aproximadamente 400 pessoas que pediram auxílio à Defesa Civil em questões ligadas a deslizamentos, desmoronamentos, alagamentos e outras intempéries”.

Ainda de acordo com o secretário, Ouro Preto não registrou nenhuma ocorrência fatal causada pelas fortes precipitações ocorridas principalmente na quinta (23) e sexta (24) da semana passada. Um jovem foi dado como desaparecido após tentar recuperar uma bola no rio Maynarte, no distrito de Santo Antônio do Salto. “Contudo, informações do Corpo de Bombeiros dão conta de que o fato não está diretamente ligado às enchentes”. As buscas pelo rapaz de 19 anos chegaram ao fim na manhã desta segunda (27). O corpo foi encontrado numa das locas formadas pelas águas, em meio a enormes blocos de pedra, caraterísticos do rio na região.

Já última sexta-feira, também foi registrado o desabamento de uma casa no bairro Santa Cruz. A vítima, na faixa de 50 anos, foi primeiramente socorrida por moradores da localidade e em seguida amparada pelo Corpo de Bombeiros. As últimas informações é de que Erli Poll que sofreu escoriações e fraturas na costela já recebeu alta e seu estado de saúde é estável.

“Embora as chuvas tenham sido intensas, elas causaram menos danos do que prevíamos. Um plantão, juntamente à Secretaria de Ação Social nos atendeu em questões como recomendações de retirada de pessoas em suas residências. Todas as retiradas foram preventivas, agora faremos uma análise com o objetivo de verificar aquelas pessoas que poderão retornar às suas residências”.

Projeto de intervenção

O prefeito Júlio Pimenta agradeceu a todos os órgãos de segurança e secretarias municipais pelo trabalho integrado que vem sendo desenvolvido em prol dos ouro-pretanos. Ainda de acordo com o chefe do executivo, a prefeitura tem amparado todas as trinta famílias que sofreram as consequências das chuvas e estão desalojadas ou desabrigadas.

 “Os pontos críticos registrados em Ouro Preto estão sob análise e constante monitoramento por parte da Defesa Civil. Caso se julgue necessário, esses pontos serão novamente interditados. Pedimos também que todos permanecem em estado de alerta e que as autoridades sejam informadas diante à iminência de riscos. É preciso que fiquemos atentos caso outras famílias precisam ser retiradas de suas casas”.

Júlio Pimenta revelou que outros trabalhos de caráter preventivo estão em andamento no município. “Dezoito setores definidos pela Defesa Civil estão passando por uma sondagem. A intenção é finalizar um projeto de intervenção nesses locais situados tanto na sede quanto nos distritos”.

O vereador Geraldo Mendes elogiou as ações conjuntas das forças de segurança.

“Primeiramente, parabenizo a todos pela presteza diante das ocorrências e pelo trabalho de prevenção. Eu tenho certeza que todos concordam que foi o diferencial. Ter a tecnologia disponível para estar um passo à frente é sempre importante. Há questões que devem ser trazidas para o lado político também e sempre debatê-las e avançar. No final do ano passado houve a polêmica sobre projeto de lei para o empréstimo, com o qual seria possível o asfaltamento das vias ligando a diversos distritos a sede e infelizmente não obtivemos os votos necessários para a aprovação.

Sempre falamos que facilitar a vida de quem mora nos distritos, proporciona a não vinda dos moradores desses distritos para a sede. Onde esses moradores iriam construir se viessem para a cidade? Provavelmente nas encostas e nessa época do ano, são gerados esses problemas. Quanto mais valorizarmos a vida das pessoas nos distritos, melhor e o asfalto é uma dessas maneiras, encurtando distâncias. Infelizmente a politicagem falou mais alto e não obtivemos êxito, num primeiro momento, em ter essas obras. O plano diretor é outra questão para a qual devemos dar atenção, pois, está em discussão sua reformulação, possibilitando a construção de bairros inteiros com segurança” Encerra Geraldo".                

O tenente Veríssimo da Polícia Militar ressaltou o comprometimento e eficiência de todos os órgãos de defesa envolvidos nas ações preventivas no município. “A sexta-feira chegou com um volume expressivo de água e com todas as informações relativas a esse cenário já estudadas, pudemos fazer um monitoramento em tempo real, contribuindo efetivamente com órgãos mais técnicos. Todos os militares se encontram em regime de prontidão, ou seja, em condição de ser acionados a qualquer momento”.

Sargento Juscelino Gonçalves afirmou que o Corpo de Bombeiros Militar tem atuado pontualmente em todas as ocorrências. “Somente nestes dias, desde a sexta-feira, registramos quase 60 ocorrências, dentre elas, essa grave envolvendo o cidadão no bairro Santa Cruz. Destaco aqui a importância da tecnologia da informação que tem contribuído de forma eficiente com o nosso trabalho e o empenho da Polícia Militar juntamente ao SAMU. Há muito tempo eu não via tanta gente comprometida em uma ação de proteção civil como essa, por isso eu devo parabenizar a prefeitura e todos os órgãos envolvidos. Nosso trabalho continua, ainda não é hora de relaxar”.

Tecnologia

Rafael Mendes, chefe do Setor de Tecnologia da Prefeitura ressaltou a utilidade do aplicativo “Defesa Civil - Ouro Preto”. A tecnologia, desenvolvida juntamente à Defesa Civil e focada na autoproteção, mapeia todas as áreas de risco enquadradas nas categorias “alto” ou “muito alto”, tanto na Sede quanto nos distritos.  As regiões foram mapeadas pelo Serviço Geológico do Brasil em 2016 e por meio dela é possível saber até mesmo se uma residência se encontra dentro de uma área de risco (Baixe Aqui).

O aplicativo da Defesa Civil de Ouro Preto permite ao cidadão verificar as áreas de risco mapeadas no município, acompanhar a quantidade de chuva e contribuir relatando possíveis incidentes através de fotos. Crédito-Reprodução/Play Store

Além disso, um site da Prefeitura Municipal também está disponível para a população (Acesse Aqui). Por meio da página, a população pode acessar alertas de chuvas, notícias, ocorrências de desastres e mapeamento de áreas de risco.

Foto-Site da Defesa Civil de Ouro Preto-MG. Crédito-Reprodução.

Outra ferramenta essencial à população tem sido o WhatsApp da Defesa Civil. Por meio dele, as pessoas podem entrar em contato com o órgão, pois, com o aumento das ocorrências de desastre na cidade, as linhas telefônicas têm ficado bastante congestionamento. O número 3559-3121 pode contribuir com a agilidade das demandas.

Já o secretário de Obras e Urbanismo, Paulo Morais, fez um apelo para que a sociedade continue em estado de alerta. “Solicitamos que a população continue em alerta. Caso ocorra algum deslizamento, ainda que pequeno, os órgãos da prefeitura devem ser imediatamente acionados. A presença do sol não deve ser motivo para que as pessoas deixem a prudência de lado”.

Curumim perde força

Em entrevista ao jornalista Tino Ansaloni do Jornal Voz Ativa, o Geólogo da Defesa Civil de Ouro Preto, Charles Murta trouxe diversos esclarecimentos sobre a situação de emergência tanto no Estado quanto no Município devido às chuvas.

Ele também ressaltou o trabalho integrado entre as equipes do Município. “Desde 2012 trabalhando na Defesa Civil, nunca vi uma articulação tão efetiva da Prefeitura com todos os órgãos de defesa social e saúde em um momento de crise dessa magnitude. Todos os órgãos levaram em consideração nossas instruções e respeitaram nossas observações. Isso permitiu atuação imediata, efetiva e com resultados”.

De acordo com o especialista, o ciclone subtropical denominado pela Marinha como Curumim, que havia se formando entre o Norte do Estado do Rio de Janeiro e o Sul do Espírito Santo, se desfez quando tocou o continente. Portanto, a tendência nos próximos dias é uma condição do tempo mais estável, com diminuição significativa das chuvas.

“Essa condição nos propicia uma janela para atuação e acompanhamento dos casos críticos. Agora é o momento de fazermos um balanço geral de tudo o que aconteceu, priorizando ainda as áreas de risco que podem estar sujeitas a novos deslizamentos. Mas lembrando sempre que todos devem ter atenção máxima. Nós ainda temos fevereiro e março que podem trazer grandes volumes de chuva, pois o que está regendo o período chuvoso nesse ano é a elevação da temperatura no Oceano Atlântico. De modo que essa elevação da temperatura em até quatro graus, pode favorecer a entrada de frentes frias e o seu estacionamento ao longo de todo o Sudeste, criando um corredor de umidade que vem desde a Amazônia trazendo chuvas significativas e constantes para a região”.

“Nós não estamos livres ainda, durante esse período chuvoso, de eventos severos como esse. A formação de outro ciclone subtropical como esse é raro, mas possível. Para isso basta a presença de um ponto de baixa pressão situado no mesmo local da costa do Atlântico”.

Estado de alerta

Ainda de acordo com Charles Murta, o sol que aparece agora é motivo de observação contínua da Defesa Civil, porque após grandes eventos pluviométricos é comum que o Sol se abra e após alguns dias venham novos deslizamentos devido ao rebaixamento do nível d’água, associado ao aumento da temperatura.

“A população não deve imaginar que o tempo aberto significa uma diminuição dos riscos. Pedimos inclusive que todos aqueles que tiveram suas residências atingidas por movimentos de deslizamento de terra que não façam escavações nesse momento ou remova esse material. A ação pode fazer com que o local seja atingido por novos deslizamentos devido ao material situado na parte superior destes pontos. É preciso aguardar um período de estiagem bem grande para só depois voltar em segurança para as suas casas”. 

Muros de arrimo

Murta alerta também sobre a utilização indevida dos muros de arrimo, um tipo específico de muro que serve para suportar a terra, além de isolar o terreno. “Nós que realizamos o atendimento de diversas ocorrências em Ouro Preto, infelizmente, presenciamos a perda de bens materiais e muros de contenção executados de forma negligente. Por vezes, o valor a ser investido em um projeto sob a responsabilidade técnica vale muito mais do que a economia. Não justifica deixar de contratar um profissional capacitado. Quando se trata de proteção de vida, não há economia. Se o cidadão não possui condições de contratar um profissional nesse momento, deve aguardara até que o possa fazê-lo”.

Ocupação desordenada

Outro alerta: de acordo com Charles Murta, quando a ocupação urbana se dá de maneira desordenada ou a pessoa escava a fim de construir a sua casa, fazendo degraus sob o talude, ou seja, uma casa em cima da outra, isso vai fragilizando o terreno em declive. “Tal fator favorece o deslizamento quando o solo está muito encharcado”.

Por exemplo, a residência que desabou na última sexta-feira no bairro Santa Cruz estava muito próxima a um corte no barranco. Isso é um risco muito grande, principalmente se não houve a proteção de um muro de arrimo muito bem projetado e executado. “Ao que parece, o movimento que aconteceu acima do imóvel está relacionado a esse corte no barranco. Iremos voltar ao local com a intenção de fazer uma análise mais detalhada dos motivos que levaram ao deslizamento de terra e consequente demolição do imóvel”.

Não baixe a guarda

Mesmo sem a ameaça do ciclone Curumim, o aparecimento do Sol em alguns pontos da região e uma possível estiagem, Charles Murta alerta que ainda não é o momento das pessoas baixarem a guarda. “A população deve sempre estar atenta, acompanhar os noticiários e informes da Defesa Civil. Lembrando que a informação é a principal chave de proteção de cada um dos indivíduos, familiares e seus entes queridos. Estejam sempre juntos conosco, porque a Defesa Civil não é formada apenas pelos seus agentes, mas por cada cidadão. A Defesa Civil somos todos nós!”, finalizou o engenheiro.

Foto-Reunião contou com a presença de autoridades dos mais variados segmentos e áreas distintas. Crédito-Ane Souz/PMOP.

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