A obrigatoriedade do final de semana
Chegando a um evento de encerramento do Festival de Inverno, uma colega (colega, não amiga) veio toda saltitante encontrar-me, já com as frases prontas, sem sequer lembrar-se do “boa noite”. Ainda no saguão, ela aproximou-se e, em um tom de evidente reprovação, disse:
- Até que enfim te encontro. Está muito sumida. Você precisa sair mais.
Por coincidência (ou não) eu havia me encontrado na semana anterior com a irmã dela, uma pessoa muito simpática e bem mais discreta. Engoli as várias respostas que me vieram à cabeça, diante do inconveniente comentário, e principalmente devido ao tom, e respondi, o mais calmamente possível:
- Olá, tudo bem? (Fiz questão do cumprimento). Estive com sua irmã no evento de sábado. Ela não lhe deu o abraço que mandei?
O problema da sutiliza é que às vezes ela é tão sutil que não atinge o alvo, e foi o que aconteceu. A indiscreta não entendeu a “direta” e continuou tagarelando por uns cinco minutos, em um monólogo, no mínimo, cansativo.
Quando ela deu uma pausa, pedi licença e segui em direção à mesa onde algumas pessoas já me esperavam. Sentei e contei a história, já achando graça da indiscrição e falta de compreensão pela resposta dada.
Eu nunca consegui entender esta “necessidade” que algumas pessoas têm de sair todo final de semana. Claro que sair é bom, e cada um deve se divertir como melhor lhe aprouver. Se a pessoa tem programa todo final de semana e gosta disto, é super saudável que vá e se divirta. Que ela saia todos os dias, se for do seu agrado. Nada contra, muito pelo contrário.
O que não dá para aceitar é esta “obrigação”. Se for por vontade ou prazer, que a pessoa saia de casa de segunda a segunda, fico feliz que se divirta. Mas se ela quiser ficar em casa, que fique também, sem cobranças. Não me refiro, obviamente, a ficar enfurnada dentro de casa por semanas ou meses, claro que não. Aí já é um extremo preocupante e que deve ser evitado. Mas eu gostaria de saber onde está escrito que, quando chega o sábado, a pessoa é obrigada a ir para a rua. Qual é a lei que determina a saída aos finais de semana, com vontade ou sem vontade, com prazer ou emburrada, só para não ficar em casa?
Adolescentes são assim, é próprio da idade. Para eles sair aos finais de semana é quase um ritual e não são raros os desentendimentos entre pais e filhos (eu disse adolescentes) por isto. Mas pessoas adultas e donas do seu nariz têm o direito de optar o que querem fazer, e balada todo sábado ou domingo não precisa e nem deve ser, necessariamente, uma obrigação.
O comentário da minha colega não teria nada demais, se não fosse o insuportável tom de crítica. Em uma época onde todo mundo critica todo mundo por tudo, ficou mais antipático ainda. Se dito em outro tom, seria apenas um comentário como outro qualquer, mas como ela faz parte do grupo da obrigatoriedade de sair todo final de semana, mesmo sem vontade, ficou irritante.
Aliás, como alguém pode se divertir sem vontade? Impossível. Por isto eu digo que saio sim, vou a eventos, festas, ao teatro, quando tem, e ao cinema, quando tinha, mas faço-o quando e onde quero. Quem me encontrar em alguma festa, pode ter certeza que eu não estou ali por obrigação, e nem precisa ser final de semana. E se eu decidir ficar em casa, ficarei, por puro prazer, mesmo que seja sábado ou domingo.
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