Por Valdete Braga
Quando o conheci, imediatamente o seu tamanho chamou-me a atenção. Era esta a impressão que ele causava em todos, mas para mim, cuja pessoa de 1,80 metros é considerada muito alta, alguém de 1,92 é quase um gigante. Amigos brincavam que para conversarmos eu precisaria subir em um banquinho ou ele se ajoelhar.
Com o tempo, fui me acostumando. Ele mesmo brincava com a própria estatura, dizia que não sabia com o que os pais o haviam alimentado, para crescer tanto.
Não sei porque, assim que o conheci, senti uma coisa estranha, aquela história do anjo de guarda não bater, como diz o ditado. Não que ele tivesse feito alguma coisa, foi questão mesmo de falta de empatia, à primeira vista.
Como não sou de me deixar levar pela primeira impressão, e tínhamos vários amigos em comum, fui levando a coisa em banho maria, tratava-o educadamente, mas sempre evitando uma aproximação maior. Alguma coisa acendia os meus instintos de que ele não era uma boa pessoa. Não conseguia explicar e na verdade não havia explicação. Eu poderia estar errada, afinal, acabara de conhecê-lo e não cabia a mim julgar, quem sou eu para julgar alguém? Só o que eu sentia era que aquele homem enorme em estatura não me parecia nada grande em sentimentos.
Mas como aparências enganam, eu engolia a minha antipatia gratuita e mantinha as aparências, até porque ele nunca me fez nada de mal. Algum tempo depois de conhecê-lo e com a convivência mais acentuada, sempre devido aos amigos em comum, a antipatia, em lugar de diminuir, aumentava, e foi ficando cada vez mais difícil. Sempre me chamavam para sair, às vezes nos encontrávamos na casa de alguém, e comecei a me sentir incomodada. Nunca o convidei para a minha casa. Não me sentia a vontade para isto.
Oito meses depois de conhecê-lo, comecei a sair de cena. Com muito jogo de cintura e cuidado para não ofender ninguém, passei a arrumar uma desculpa aqui, outra ali, fui me afastando aos poucos, passei a freqüentar outros lugares, e quando o via era aquele tradicional “está sumida”. Via-o na rua, acenava, mas não parava para conversar, sempre com pressa. Não houve um rompimento, nem havia razão para isto. Nem eu mesma sabia explicar a minha antipatia à primeira vista. Talvez fosse pura implicância. Logo ele foi transferido, saiu de Ouro Preto e nunca mais o vi.
Três anos se passaram. Estava em um almoço beneficente com uma amiga, quando quem adentra no salão? O próprio. Assim que ele entrou, minha amiga mudou totalmente a fisionomia e perguntou se eu me importaria em ir para o fundo do salão. Disse que não e fomos para a última mesma. Ela perguntou-me:
– Você conhece aquele moço que entrou? O grandão?
– Conheço, mas não o vejo há um bom tempo. A última notícia que tive dele, é que tinha saído de Ouro Preto, mas faz tempo – respondi.
Ela falou, com a voz irritada:
– É meu ex cunhado. Ficou um ano casado com a minha irmã, e ela tem seqüelas até hoje do que passou com ele.
Não deu mais detalhes e eu também não perguntei, é óbvio. Não sei o que aconteceu entre o casal e nem é da minha conta, mas minha amiga ficou visivelmente abalada com a presença dele.
Três anos depois da última vez que o vi, fiquei pensando em como o mundo é pequeno. Tão pequeno como aquele homem grande.
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