Prosa na Janela: Leia “Sonho ou realidade?”, por Roberto dos Santos

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 03/08/2018, 22:40 - Atualizado em 03/08/2018, 22:40
Roberto Santos, 47 anos, nascido em Dores de Guanhães, chegou ao Distrito Ouro-pretano de Antonio Pereira em 1979. É porteiro na Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP e tem uma sensibilidade peculiar na apresentação de seus textos. É casado com Márcia, que é a aguerrida diretora da Escola Municipal Alfredo Baeta e têm o filho Antônio, de 13 anos. E ele encontrou o amor naquele olhar terno e naquela voz que soava melódica, mesmo tímida. Os cabelos eram curtos e proporcionais ao rosto angelical. O ritmo compassado de seu caminhar, dava a seu corpo um gingado só seu. A estatura mediana comportava grande beleza. A leveza de seus passos se misturavam as folhas secas que estavam sobre a trilha como que um tapete preparado pelo acaso para acolher os pés da bela mulher. Os raios de sol que chegavam até ela depois de passarem pelo verde das árvores eram como fachos de luz a procura-la. Estava indo para um ponto mais alto para observar o por do sol, muitas outras pessoas ainda fariam o mesmo caminho, porém ainda era cedo e só ela caminhava pelos poucos metros de mata fechada. Todos esses adjetivos foram usados por Túlio para qualificar uma mulher que caminhava entre as árvores. Ele do alto de uma pedra a sombra de uma enorme árvore observava o caminhar de Lara. Assim ela se apresentou quando ele a gritou convidando para que contornasse a rocha e fosse até ele. Ela hesitou, mas o tom da voz de Túlio soou agradável e aparou a ponta de medo que a situação por si só trazia. Lara o saudou com um aperto de mão e disse novamente o seu nome. Túlio também se apresentou, e logo tratou de acalma-la e desfazer qualquer desconforto que porventura sua presença pudesse causar a recém-chegada. Explicou de forma sucinta o motivo de estar ali e o porquê das pessoas preferirem o espaço mais abaixo para apreciarem o por do sol. Após a explicação de Túlio, Lara sentiu-se segura e a vontade. Bem devagarinho foi se desenhando em seus lábios um sorriso encantador e imediatamente o sorriso dela encontrou o dele, era a certeza de que as palavras de Túlio a convencera de que ele não era um perigo para ela. Quando tudo estava bem, ele continuou a dar-lhe os detalhes que ninguém via. Lara o interrompeu e perguntou-lhe o motivo da solidão, o porquê de não dividir com ninguém tudo que ele havia contado a ela e que em instantes ela testemunharia. O sorriso se desfez e Túlio silenciou-se. Lara observando que isso lhe causara certo desconforto mudou o rumo da conversa e focaram na imagem do astro rei que se aproximava da montanha lá do outro lado. Túlio tomou Lara pela mão e há conduziu um pouco mais para o lado. Ela ficou de frente para uma árvore robusta que cresceu numa erosão na montanha e que só era vista daquele ponto. Aquela fenda na montanha parecia propositalmente esconder a grande árvore dos olhares dos expectadores que aguardavam o por do sol. As máquinas fotográficas e os celulares registravam o momento, mas o que eles não sabiam era que Lara tinha a sua frente o vislumbre de um algo mais. Túlio narrava com riqueza de detalhes o que ia acontecendo. Repentinamente apontou para a árvore na saliência da serra e pediu a Lara que direcionasse olhar naquela direção. Num instante os raios solares incidiram sobre ela com intensidade. A grande árvore parecia pegar fogo e esse espetáculo durou aproximadamente dois minutos. Lara se viu envolvida por uma emoção incontida e abraçou Túlio agradecendo-o pelo momento sublime. E o sol se escondeu atrás da montanha, era a última manifestação do sol naquele dia. Túlio e Lara ficaram amigos e combinaram novo encontro naquele mesmo lugar no dia seguinte. E tudo se repetiu novamente sem que ninguém ousasse se aproximar da árvore. Aquele observatório “vip” mais uma vez se manteve oculto e exclusivo de Túlio e Lara. Um dia seria descoberto, eles sabiam disso, porém enquanto isso não acontecia aproveitavam ao máximo cada momento. Naquele dia assim que o sol se foi, Lara se despediu de Túlio e disse que um dia voltava para revê-lo. Túlio se entristeceu, o temor em não mais ver aquela mulher bela e agradável, o impulsionou em dizer-lhe para ficar, mas ela disse que precisava mesmo ir embora, não podia ficar mais. O pouco tempo que conviveram foi suficiente para que fizessem morada um no coração do outro. Túlio estava com o rosto umedecido pelas lágrimas da saudade, seu coração batia forte e descompassado, queria dizer a Lara que se apaixonara por ela, mas a coragem lhe faltou. Laura queria ouvir exatamente o que Túlio não conseguiu dizer a ela. Chorando Lara afastou dois passos. Túlio perguntou onde morava e ela sussurrou baixinho que era de Ouro Preto. Túlio morava em Mariana, mas o temor em perdê-la transformou a distância entre as duas cidades em quilômetros sem fim. Lara contornou a aquele monte e quando chegou lá embaixo acenou para Tulio, e em meio às lágrimas sorriu para ele. Depois apanhou um artefato no chão e escreveu na pedra três palavras. O homem movido por um impulso incontrolável se dirigiu para lá. Depois de contornar a inclinação e chegar lá em baixo não a viu mais. Correu na direção da pedra para ver o que estava escrito e nesse momento acordou. Viu-se de olhos abertos num lugar que nada se assemelhava ao que estava instantes atrás. Ergueu a cabeça e a escuridão da noite não lhe permitiu ver nada. Acendeu a luz e sentou-se na cama, e nessa hora percebera que tudo não passara de um sonho lindo. Chorou como nunca havia chorado antes, se recusava a acreditar que tudo tinha sido apenas um sonho. Não pode ser, dizia ele desolado. A imagem daquela mulher não se desfazia de sua mente. Naquela noite ele não conseguiu dormir. Ficou se perguntando o que foi que ela escreveu na pedra, e continuava a acreditar que não havia sido apenas um sonho. Túlio mudou para Ouro Preto, para tentar encontrar seu amor. Ele sentia o cheiro dela, tinha na mente o suave som da voz de Lara. Numa dessas noites frias, Túlio envolveu-se num edredom e ficou boa parte da madrugada olhando as estrelas e relembrando os acontecimentos que marcaram sua vida e que ele se recusava vivencia-los no campo da imaginação. Tudo era muito real para ele. Nos dias que seguiram Túlio visitou todos os mirantes de Ouro Preto, tentando encontrar a árvore de fogo. Foi ao Pico Itacolomy, aos morros de Ouro Preto, tentou ver o por do sol de vários lugares para ver se descobria a pedra com a inscrição. Andou a pé pela cidade toda. Subiu e desceu ladeiras, venceu milhares de degraus nas escadarias dos becos e igrejas de Vila Rica, mas não encontrou sua Lara. Conseguiu uma lista telefônica e investigou todas as mulheres de nome Lara e nenhuma delas era a que procurava, todas as noites ele dormia e desejava sonhar com ela, pois já começara a se convencer de que tudo era mesmo um sonho. Mas Túlio queria demais saber o que Lara havia escrito na Pedra, já não importava mais se fosse sonho ou realidade. O tempo foi passando e Túlio sentia saudades dela. O por de sol de Ouro Preto era belo, mas sem a árvore de fogo e a presença de Lara, ele não tinha sentido para ele. Numa dessas noites frias de julho, Tulio dormiu cansado e sem pensar em nada mergulhou num sono profundo. Já era madrugada quando acordou gritando “eu te amo”, a casa ficou pequena para comportar toda a sua euforia. Abriu a porta e saiu correndo pela rua bradando repetidas vezes as três palavras. Algumas janelas se abriam tentando entender o motivo de tanta falazada. Mas a expressão de alegria estampada no rosto de Túlio acalmou a todos e mesmo sem entender nada fecharam as janelas e voltaram a dormir. A hora já estava adiantada. Encontrou duas pessoas que passavam na rua e disse a elas que viu no sonho o que Lara havia escrito na pedra. Quando perguntado quem era Lara, explicava, mas ninguém entendia nada. Depois desse dia Túlio vivia sempre feliz, não sei se ele conseguiu encontrar de novo com ela, mas depois que descobrira o que estava escrito na pedra, sua vida mudou. Quem sabe ele encontrou de novo com Lara e não quis falar pra ninguém, afinal ninguém iria acreditar mesmo. Quem sabe conseguiu sonhar de novo e naquele lindo por do sol reencontrou Lara, ou talvez a simples descoberta da inscrição na pedra tenha sido suficiente para fazê-lo feliz. O que aconteceu ninguém sabe, mas com certeza vou prestar mais atenção quando o sol de Ouro preto estiver indo embora. Quem sabe por detrás deste espetáculo de beleza não se esconde uma história de amor que Vila Rica ainda não conhece.

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