Uma das maiores dificuldades que enfrentamos como seres nesta capa humana é conseguir separar a razão da emoção e saber a hora de usar uma ou outra. Considero-me uma pessoa forte. A vida me ensinou a sê-lo e agradeço todos os dias por isso. Um amigo sempre diz que eu sou “uma rocha”. Eu dou risada e digo que não chega a tanto, apenas confio nos invisíveis que me acompanham sempre e nunca me abandonam e isto me fortalece. “Rocha” é a mãe que perde o filho para as drogas e segue em frente pelos outros que ficaram. “Rocha” é o filho que vê marginais roubarem o caixa da loja e depois atirarem no pai que morre em seus braços. Tantos exemplos de vida de pessoas, essas sim, verdadeiras rochas! Quem sou eu perto delas? Mas sou humana e cada um sabe a sua dor. Faz pouco mais de um mês passei por uma situação tão surreal, tão impossível de acontecer até que aconteceu, que perdi o chão. Fui jogada em um abismo sem fundo, fiquei perdida e desolada como há muito tempo não acontecia. Sabe essas coisas de que a gente sempre pensa estar livre, que só acontece com os outros? Pois de um momento para outro, em uma questão de segundos, lá estava eu a vivenciando. Quanta dor, meu Deus! Esse meu amigo, abençoados sejam aqueles que têm amigos verdadeiros, acompanhou comigo o meu drama, sempre me dizendo o quanto eu era mais do que aquilo, o quanto meu sofrimento era injustificável e o quanto a questão não merecia tanto sofrimento de minha parte. Eu só conseguia chorar, a dor era tanta que ultrapassou o emocional e tive de procurar médico, porque atingiu o corpo físico. O peito doía fisicamente e meu rosto ficou deformado pelas lágrimas. Meu amigo sempre perguntando o que estava acontecendo com “minha rochinha” como ele me chama às vezes. Para ele, acostumado a me ver tão forte, era difícil entender, para mim era óbvio e justificável, pois foi muito duro o que aconteceu e atingiu-me no fundo da alma. O tempo foi passando, dias, semanas, e o sofrimento foi deixando de ser eterno. Ainda doía, mas eu já conseguia pensar. O racional foi chegando aos poucos, devagarzinho e se deixando mostrar. Sempre com o auxilio das forças superiores, a emoção foi dando lugar à razão, até que eu entendesse. Devido à forma brusca e inesperada como aconteceu, pelo fato de até então para mim ser algo impossível de acontecer, o choque levou embora o meu lado racional. Por semanas, mais de um mês, eu fui pura emoção, e, embora este seja o nosso melhor lado, não pode ser o único. Precisamos dos dois para nosso equilíbrio terreno. Vivendo só pela emoção, era simplesmente impossível eu ter passado pelo que passei. Como conviver com o impossível? Ou eu estava enlouquecendo ou havia alguma coisa muito errada. À medida que a razão voltou a tomar lugar em minha alma, as coisas foram clareando e o abismo se dissipando. A emoção pode cegar, a razão nos faz enxergar. Uma precisa da outra. Confesso que prefiro a primeira, mas ela não sobrevive sozinha, assim como a luz não sobrevive sem a sombra. O erro foi meu. Fui invigilante e deixei a emoção se sobrepor à razão de tal forma, que ela foi embora. Somente quando ela voltou, eu me reequilibrei. Ainda dói, porque toda injustiça dói. Mas, descontando o exagero do meu amigo em eu ser uma “rocha”, a minha força está voltando e volta mais restabelecida do que nunca. A ferida ainda não cicatrizou totalmente, mas já não está tão aberta e exposta. Enquanto eu vou equacionando a razão e a emoção novamente, ela vai se fechando. Acredito que ainda vá demorar um pouco, porque a lâmina era muito afiada e o corte foi muito profundo, mas aos poucos, com coragem, honestidade e Fé, ela vai se fechando. Um dia será somente mais uma cicatriz a ser apresentada como aprendizado quando eu chegar do lado de lá. E como nada é por acaso, creio que esta experiência, dolorosa sim, assustadora sim, decepcionante sim, tenha sido para o Bem. Pelo menos uma coisa de positivo eu posso garantir que ela já me ensinou: nunca mais eu vou deixar a razão se afastar totalmente. Quem sabe tenha sido este o objetivo de tudo?
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