Uma amiga tem uma filha de dezoito anos que, por sua vez, é mãe de uma menina de quase dois. Moram ela e a filha com os pais, ela não trabalha e estuda à noite. Cuida da filha durante o dia e quando sai para estudar a avó cuida da criança, que, segundo ela, não dá o menor trabalho. Dia desses a mamãe chegou nervosinha em casa, cheia do estresse, batendo porta e revoltadíssima, indignada porque não conseguiu vaga em uma creche para a filha. Que era um absurdo, que este país é uma vergonha, que o governo isso e aquilo, etc, etc. Minha amiga não falou nada, esperou o chilique passar, e no dia seguinte chamou o esposo para conversarem os três. Logicamente, não vou me lembrar em detalhes as palavras dela, mas o sentido foi perfeito e, com sua autorização, tentarei relatar o mais fielmente possível. - Minha filha, você foi mãe aos dezesseis anos de idade, e o seu namorado sumiu no mundo sem sequer querer saber da criança. Lembra-se da conversa que tivemos na época? Eu e seu pai fomos muito claros e você entendeu. Procuramos criá-la da melhor maneira que sabíamos, e você sempre foi uma boa filha e boa pessoa. É claro que não iríamos abandoná-la numa hora dessas. Mas deixamos claro também que a partir daquele momento sua vida teria outro rumo. Mesmo com a pouca idade, você tinha uma filha para criar e a filha era sua, não nossa. Nós a apoiaríamos e daríamos o suporte que precisasse, mas você era a mãe. Não era mais uma adolescente sem maiores responsabilidades, com todos os finais de semanas e feriados livres para os amigos e as baladas. A partir daquele momento você era a responsável por uma vida que não pediu para vir ao mundo. Lembra-se disso, minha filha? A moça disse que sim e começou a chorar. Minha amiga disse que abraçou-a e perguntou se em algum momento ela se arrependeu por ter tido a filha. “Claro que não, mãe, você sabe disso”. Ela respondeu que era exatamente por saber disto que estava tendo aquela conversa. Que ela era uma moça privilegiada, que tem a sorte que poucas na situação dela têm, de estudar em uma boa escola e com o dia totalmente livre apenas para estudar e cuidar da filha. Lembrou a ela de quantas mães existem que, casadas ou solteiras, precisam trabalhar oito ou mais horas por dia, levantam de madrugada e chegam em casa tarde e cansadas, e não têm com quem deixar os filhos, e que a vaga que ela tanto queria poderia ser de uma delas. Continuou me contando que precisou ser dura quando à revolta do dia anterior e esclareceu à filha que a obrigação de criar a neta não era da creche, do país nem do governo, mas exclusivamente dela. Que ela era privilegiada por ter condição para isto, e que na idade certa, a menina iria para a escola, é lógico. Mas ter ataque histérico por não conseguir colocar um bebê de dois anos na creche para ficar no facebook ou whatssap, era uma irresponsabilidade muito grande. Apoiei totalmente a atitude da minha amiga. Quem dera todas as mães agissem como ela!
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