Por Valdete Braga Há um ditado, bem antigo, que diz “a gente apanha tanto que aprende a bater”. Acontece, mas nem sempre é assim. Às vezes a gente simplesmente se cansa. Desiste. Não por covardia ou medo, mas por cansaço mesmo. Ou tristeza. Ou simplesmente por entender que não vale a pena. Obviamente, este “apanhar”, tanto do ditado quanto desta crônica, é em sentido figurado. Existem tantas formas de bater! Uma palavra mal pronunciada, um virar as costas quando a pessoa mais precisa de apoio, desdém, descaso... quantas vezes um fato importante para um é insignificante para outro. Nestas horas é que os verdadeiros amigos se mostram (ou não). Nunca desdenhe de um amigo. Ou dê uma “patada” nele. Por mais “bobo” que o problema dele possa ser para você, para ele pode ter um peso enorme. Discordar, conversar, mostrar que a coisa não é bem assim, é outro assunto. Amigos não precisam e nem devem concordar sempre. Mas nada justifica pouco caso com o outro. As pessoas são diferentes. Umas mais sensíveis, outras menos. Isto não torna ninguém melhor nem pior, apenas diferentes. E o mínimo que se pode fazer é respeitar esta diferença. Quantas vezes a mesma atitude que se tem com uma pessoa e ela não liga a mínima, se tivermos com outra ela se magoa? Não custa nada nos controlarmos. Não falo em melindres ou ego, esta é outra conversa. Falo de sentimentos. Da pessoa se magoar com uma resposta atravessada de alguém que considera ou se sentir ferida quando um amigo a ignora por motivo fútil, por exemplo. É verdade que há pessoas que se melindram por qualquer coisinha, que não possuem maturidade emocional, etc, mas estas são assim com todo mundo, é da personalidade delas, e, mesmo tomando cuidado para não machucar gratuitamente, ninguém é obrigado a pisar em ovos e medir cada palavra devido ao problema delas. São exceções, não regra. Falo aqui de relacionamentos comuns, de pessoas comuns, que têm uma vida comum e sentimentos comuns. Que muitas vezes não aprendem a bater porque apanharam (e é melhor assim) mas que depois do segundo, terceiro, quarto “tapa” metafórico, optam por dar um basta e passam a evitar o agressor metafórico. Chega-se a um ponto que cansa. É muito triste, mas inevitável. Aprendendo a bater ou não, ninguém merece apanhar repetidamente. Aliás, ninguém merece apanhar nenhuma vez, mas dependendo da situação, do contexto, é possível relevar. (No contexto do ditado, é lógico). Não somos perfeitos, e assim como somos magoados hoje, estamos sujeitos a, em um momento de estresse ou dependendo do que estejamos vivendo, magoarmos alguém amanhã, sem intenção. Nada que um pedido de desculpas ou uma boa conversa não resolva. Inaceitável é tornar-se recorrente. Aí ou colocamos um ponto final, ou a mágoa cresce a ponto de não ter volta. E, querem saber o que é mais triste nisto tudo? O outro nem percebe. E é aí que o ditado é falho. Muitas vezes, nesta “surra metafórica” a única prejudicada é a vítima.
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