Valdete Braga Serei eu que estou cansada ou o mundo está errado? Às vezes penso que o problema está em mim, que talvez eu seja muito exigente, mas quando vejo outras pessoas com o mesmo sentimento, percebo que não. Os valores estão mudados, mesmo. As pessoas estão confundindo liberdade com excessos. Livres todos devemos ser, e quem não é ou não se sente, deve lutar para isto, está corretíssimo. Mas não podemos nos esquecer da máxima “a minha liberdade termina onde começa a do outro”. Tenho percebido, principalmente nos mais jovens, uma certa confusão entre liberdade e abuso. No embalo do politicamente correto, onde uma hora se pode tudo e na outra não se pode nada, dependendo do contexto do acontecimento, a coisa vira uma salada, que no final ninguém consegue entender. Eu sou de uma época em que certo era certo e errado era errado, bem definido. Obrigação de cuidar dos filhos era dos pais (deixando claro que dos dois, pai e mãe) e obrigação de filho era respeitar os pais. Criança não dava má resposta nos mais velhos e os mais velhos sentavam as crianças no colo sem sequer passar pela cabeça qualquer intenção que não fosse a do carinho paternal. Falar palavrão com os pais? Sair batendo porta? Se alguém se atravesse o mundo vinha abaixo. O resultado foi uma geração responsável, correta e honesta. Obviamente, havia casos e casos, e mais obviamente ainda, nem todos desta geração se tornaram pessoas do bem; Mas era regra, e não exceção. Atualmente, a exceção virou regra. Crianças tratam os pais como servos, estamos criando a geração do “eu quero”. Eles querem, querem e querem. Pior: exigem. Pior ainda: com ou sem condições, os pais dão. É mais fácil, mais cômodo fazer todas as vontades do que explicar porque não pode ser como eles querem. Educar dá trabalho. A criança cresce sem limites e quando adolescente, os problemas se agravam. Não aceitam regras, querem sair e chegar a hora que quiserem, e os pais se tornam unicamente provedores. As más respostas se transformam em palavrões e palavras de baixo calão, que não se deve falar com ninguém, menos ainda com pai e mãe. O “eu quero” se transforma em “eu exijo”, surgem chantagens e ameaças e a coisa vai só piorando. Todos os jovens são assim? Claro que não. Existem jovens respeitadores? Claro que sim. Nada deve ser generalizado. Falo de um contexto amplo, de infelizmente, e digo infelizmente com muita tristeza, um comportamento que vem crescendo assustadoramente entre adolescentes de todas as classes sociais. Basta dar uma volta pela cidade nos finais de semana ou dias de festas e ver a quantidade de meninos e meninas menores de idade nas “baladas”, com copos de bebidas alcoólicas, ou até coisas mais fortes. Será que os pais sabem onde seus filhos estão? Arrisco-me a dizer que não. Arrisco-me a dizer, novamente sem generalizar, que a maioria destes pais são aqueles que quando o filho ou filha eram criança, não corrigiam as más respostas e portas batidas na cara, atendiam os “eu quero” sem poder e quando se deram conta, não tinham mais controle. Alguns ainda se perguntam “onde eu errei”. Triste realidade que poderia ter sido evitada, como foi em gerações passadas. Nesta parte é que entra a má interpretação do politicamente correto. Quando se fala em gerações passadas, alguns entendem como aquela criação cruel com surras de cinto, com crianças que morriam de medo dos pais, que não podiam abrir a boca, reprimidas e humilhadas em sua condição de filhos. Não é nada disso, de jeito nenhum. Até porque, isto ficou muito lá atrás, e, estava, também, erradíssimo. Sabemos que existem casos até hoje, mas é aí também que entra a relação regra-exceção. Se em um passado mais remoto, o modelo de criação era cruel, isso não pode servir de parâmetro para que hoje ele seja nulo. Filhos que mandam nos pais quando crianças, tornar-se-ão fatalmente jovens desajustados e pais que se permitem serem dominados pelos filhos sofrerão as conseqüências no futuro sofrimento do próprio filho. Respeito é fundamental. E não existe respeito se não houver educação.
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