Por Valdete Braga Se eu não tivesse visto e ouvido, não teria acreditado. A mocinha ocupava toda a calçada, com uns cinco pares de sapatos, ou mais. Sentada, com um short minúsculo (o que não vem ao caso, mas vale registrar) ela limpava um, tendo os outros do lado. Para não pisar nos sapatos, as pessoas desciam da calçada. Eu mesma fiz isto, automaticamente. Rua pouco movimentada, não teria prestado maior atenção, não fosse o diálogo que se seguiu, logo após eu descer do passeio. Atrás de mim, vinha um casal de meia idade. A mulher disse: - Minha filha, limpe esses sapatos em outro lugar, está atrapalhando as pessoas de passarem. Em um tom arrogante, a menina respondeu: - A rua é pública. A mulher balançou a cabeça e falou, em um tom de ironia e complacência, ao mesmo tempo: - Sim, a rua é pública, mas um pouquinho de bom senso não faz mal a ninguém. Seguiu caminho sem render assunto e começamos a conversar sobre o ocorrido. Eu não a conhecia, mas ela me reconheceu, e enquanto nossos caminhos eram o mesmo, seguimos andando e conversando. Falamos sobre o quanto as pessoas estão egoístas, do despreparo de muitos para viverem em sociedade e de como coisas tão simples demonstram isto. Eu disse ao casal que havia descido da calçada tão automaticamente, que nem me dei conta do absurdo da situação. No meu entender, nem é questão de bom senso, mas de educação, mesmo. Não sei se teria a mesma fleuma daquela senhora tão fina; talvez eu mandasse a menina aprender a ser mais educada. Quem sabe por isso eu não tenha prestado atenção ao fato com mais cuidado? Esta frase “a rua é pública” é muito comum e cabe em vários contextos, mas usá-la como motivo para ocupar a calçada para limpar sapatos... a que ponto chegamos!
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