“Gente perfeita é muita chata” por Valdete Braga

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Por Tino Ansaloni Publicado em 09/11/2016, 21:07 - Atualizado em 22/02/2021, 15:28
Por Valdete Braga Ando meio cansada de gente perfeita. Sinto falta de pessoas comuns, que erram, que não sabem tudo, não dominam todos os assuntos e não estão sempre certas. Sinto saudades da expressão “eu não sei”. Vivemos uma época em que todo mundo sabe tudo! O que tem de super gênios por aí não é brincadeira. Sempre que algum assunto polêmico entra em pauta, eles aparecem. E como aparecem! Alguns falam com tanta propriedade que parece que estavam no local do acontecido. No virtual a perfeição é ainda maior. Protegidos pela tela do computador, fica muito mais fácil não terem defeitos. Nestas horas surgem os super entendidos. E ai de quem discordar! A “equipe sabe tudo” parte para agressões pessoais com uma naturalidade de assustar. Quem não pensa como os perfeitos é burro, manipulado, ignorante, etc. No início, este tipo de atitude era comum em assuntos políticos. Agora está se ampliando para praticamente todos os temas. Alguns, de tão ridículos, acabam se tornando engraçados, como uma briga feia que presenciei no facebook, entre uma fã e uma não fã de determinado artista. Motivo: a separação do mesmo. Uma era a favor e a outra contra a separação. Dá para entender? As pessoas estão perdendo tanto a noção e tão preocupadas em estarem sempre certas, que duas amigas brigaram por causa da separação de alguém que nem sabe que elas existem. E os argumentos eram exatamente dentro desta perfeição da qual falo. Uma não admitia em hipótese alguma que a outra pudesse ter algum embasamento no que falava. Por isso ficou tão divertido. Entre duas opiniões diversas, sobre um assunto medíocre, só não saiu tapa porque a conversa era virtual. A crença na própria perfeição é tamanha, que não importa o quão fútil seja o motivo, a pessoa jura que está certa e não admite sequer a possibilidade do contrário. Afinal, seres perfeitos não erram, nem se enganam. E isso vale desde a futilidade de uma notícia de sites de fofocas, até temas de relevância para o país. A expressão da moda é “eu penso assim” e se eu penso assim é assim que é. Quem pensa diferente está errado e ponto final. O que estes seres superiores e acima do bem e do mal não entendem e não entenderão nunca é que diferença de opiniões acrescentam e não restringem o diálogo e que estes ficam, inclusive, muito mais interessantes, quando há diversidade neles. Tudo isto sem contar que gente perfeita costuma ser muito chata. A imperfeição faz parte do ser humano e a partir do momento em que um ser humano se torna, ou julga se tornar, o modelo ideal de vida, ele perde a sua essência. Gente perfeita deixa de ser gente. “Eu não sei”, “vou procurar saber”, “você pode me ajudar, por favor?” são considerados, pela “equipe da perfeição” como expressões de fraqueza. Coitados. Não conseguem entender, em sua pseudo verdade absoluta, que ninguém é obrigado e nem capacitado a saber tudo. O ser humano normal, aquele que ri e chora, é feliz e sofre, enfim, aquele que vive como ser imperfeito e normal que somos todos nós, não pode e nem deve saber tudo. E este, chamado burro por não concordar com algum “perfeito”, é o verdadeiro inteligente, porque admite sua imperfeição. Ao admitir não saber tudo, ele tende a aprender e a tornar-se uma pessoa melhor. Quem já atingiu a perfeição, está aqui neste planeta fazendo o que?

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