Leia “Tão normal que virou hábito”, na Coluna Valdete Braga

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Por Tino Ansaloni Publicado em 26/01/2016, 18:51 - Atualizado em 26/01/2016, 18:52
Valdete Braga Antigamente, se falava “papel aceita tudo”. Hoje é a tela do computador. Em tempos virtuais, as notícias nos chegam praticamente (às vezes, literalmente) em tempo real. Se por um lado isto é bom, por outro, precisamos tomar cuidado com o que lemos ou escrevemos. Mais preocupante do que a leitura, é o visual, não apenas por chegar mais rápido, mas porque, em época onde crianças, jovens e adultos “vivem” mais dentro do mundo virtual do que em suas próprias casas, as pessoas ficam cada vez mais preguiçosas para ler e interpretar o que lêem. Tudo chega pronto, e é muito mais fácil e cômodo a comunicação visual. Fotos, vídeos, mostram o que as palavras não conseguem. Diz o ditado que “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Pode ser. O problema é que imagens podem ser captadas nos mais diversos contextos. Por exemplo, se eu recebo uma “notícia” enviada por celular sobre um acidente recente, nem abro. Sei que virão fotos de cadáveres desmembrados, bizarrices que podem ser tudo, menos notícia. Noticiar um acidente automobilístico, desbarrancamento, enchentes, enfim, tragédias, sejam de que tipo forem, é uma coisa. Sair compartilhando fotos de pedaços de corpos é outra, muito diferente. Principalmente em época onde um aparelho celular nas mãos e estar no lugar do ocorrido, torna qualquer pessoa jornalista, repórter ou fotógrafo. Ética ficou no passado. Respeito ao próximo, então, deixou de existir desde a época dos folhetins. Vivemos o mundo do tudo pode, tudo é permitido, e que se dane o sentimento alheio. E daí que a família da vítima vai deparar com pedaços do corpo do ente querido espalhado pela tela dos aparelhos de desconhecidos? E daí que os moradores da casa soterrada tenham sua tragédia exposta para quem quiser ver e compartilhar? “Eu estava lá com o meu celular e filmei mesmo”, já ouvi dizerem. Aí pergunto: “mas para que? A troco de que compartilhar isso? Qual o objetivo?” A pessoa não sabe responder, ficou tão normal, que virou hábito. Há casos de pessoas que saem correndo do carro parado no engarrafamento para “registrar” a vítima arrebentada no asfalto. E, no mesmo momento, já joga nas redes sociais. Quanta falta de sensibilidade! Graças a Deus, existe também o oposto. Como exemplo, cito um vídeo, bastante divulgado, das fases de uma lagarta no casulo, até virar borboleta e sair voando. Lindo. A pessoa teve a paciência de filmar dia a dia, até o momento em que a borboleta está totalmente formada e “sai para a vida”. Existem outros, similares, de fenômenos da natureza, crianças em situações engraçadas ou emocionantes, animais, etc. Não estou dizendo que todas as pessoas só compartilham tragédias, até porque generalização é um grande erro. A reflexão aqui é até onde temos o direito à invasão da privacidade alheia. “Noticiar” não é sair por aí expondo pessoas, seja em situações mais sérias, seja em casos mais amenos. Não há nada de “notícia” em fotografar uma cabeça decepada, por exemplo e jogar em redes sociais como “furo de reportagem”. Pelo contrário, isso é uma agressão às pessoas sérias, que realmente noticiam. Assim como não vejo graça nenhuma em postar alguém em situação vexatória ou humilhante. Quando a pessoa fala de si mesma, tudo bem. É a vida dela, se ela quiser se fotografar ao avesso e postar em redes sociais, não é da conta de ninguém. Mas invadir a vida do outro através de um celular, fotografar cenas vexatórias ou embaraçosas e jogar na internet, além de ser de extremo mau gosto, é cruel. A tela do computador, como o papel antigamente, realmente aceita tudo. Mas nós não precisamos aceitar. Para isto existe a tecla deletar.

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