Por Valdete Braga Comecei a assistir, junto com amigos, um debate político. Dez minutos depois, mudei de canal. Pronto! Sou alienada, desmotivada, desinteressada pelo que acontece no país e outros adjetivos correspondentes. Quer saber? – Respondi – então, que eu seja. Vou assistir a um filme. Não dou conta. A situação não vai bem e todo mundo sabe, mas de uns tempos para cá, alguns, infelizmente, crescentes, comentários, simplesmente não dão para engolir. Não entro no mérito partidário, não quero saber se a corrupção vem do partido do governo ou do da oposição; o que já extrapolou todos os limites do bom senso é esta história de “os do meu partido são inocentes, os do partido rival são culpados”. Há momentos em que parece que quem comete a corrupção é a sigla e não pessoas que estão politicamente ligadas a ela. Até a frase “é impossível fazer parte da política sem roubar”, eu ouvi. E – pasmem – ela foi dita por um militante dos mais ativistas, e não por um alienado como eu. De qual partido? Não importa. A frase, em si, é absurda. Dos dois lados, o que não falta é gente tentando justificar o injustificável. E eu sou obrigada a ficar assistindo? A “me informar”, a ver programas de televisão, sites ou blogs que, salvo raras exceções (existem exceções ainda, graças a Deus) juram sob a Bíblia a inocência dos que defendem e a culpa dos que acusam? Sou obrigada a ouvir “é impossível fazer política sem roubar” e continuar na conversa? Não, não sou! Para este tipo de mentalidade, viva a minha alienação! Vou assistir “Malévola” e deixo a discussão política na outra sala. O que não faltam nos dias atuais são “entendidos” sobre política. Todo mundo sabe, entende, justifica, defende, acusa... todo mundo é expert! Assistiu aqui, leu ali, conectou acolá... pois eu não tenho a pretensão de saber tudo. Assumo isto e não entro em discussões, se não tenho embasamento para apoiar minha opinião. Dizer “eu não sei”, é muito mais digno do que defender ou acusar sem saber o quê, baseado apenas em uma sigla partidária. Deixei a discussão que, eu sabia, fatalmente terminaria em briga, para os “entendidos” em uma sala, enquanto Malévola voava entre os dois reinos, na outra. Divertia-me “alienadamente” em uma parte de casa, enquanto brigas, agressões e ofensas aconteciam, “lúcidas”, em outra. A certa altura, para desanuviar, gritei lá para dentro: “passem longe das facas da cozinha, meninos!”. Alguém comentou que o assunto era sério e eu respondi que o assunto até podia ser, mas que a briga estava simplesmente ridícula. Não vejo outra palavra para definir uma briga onde os dois lados estão com a verdade absoluta. Se ambos são perfeitos, qual o motivo da desavença? Seguindo esta linha de que “culpado é quem roubou mais”, não há como argumentar. “O meu candidato levou um milhão, mas o seu levou dois”. “O meu partido participou de dois esquemas escusos, mas o seu participou de três”. ”Hoje existe corrupção, mas no passado existiu mais (ou vice-versa)”. Como discutir com quem pensa assim? Como ser “participativa”, “militante”, “defensora de idéias”, diante de argumentos tão pífios? Melhor deixar para os “entendidos”. Com quem vale a pena discutir, eu discuto. Onde compensa opinar, opino. Mas defender ou acusar baseado em algumas letras, cujo significado muitos dos que se prestam a este papel nem conhecem, é perda de tempo. É óbvio que eu não sou alienada, nem desmotivada e que me interesso pelo que acontece em meu país, sim! Apenas já passei da fase de precisar provar isto. E, repetindo, diante de certos quadros que se desenrolam frente aos nossos olhos, prefiro ser considerada assim.
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