Valdete Braga Faço parte de uma geração onde o certo era certo e o errado era errado, independente de quem cometia o ato. Cantávamos o Hino Nacional na Escola, a matéria Português era chamada Língua Pátria e tínhamos aula de Educação, Moral e Cívica. Não tem tanto tempo assim. Obviamente, crianças não sabem o significado de regime político, não têm noção do que seja ditadura ou democracia, muito menos intenções subliminares que podiam haver – ou não – nos bastidores. Deus nos livre de qualquer tipo de ditadura, mas Deus abençoe os professores bem intencionados, que se preocupavam em passar para as crianças valores cívicos. Deus abençoe os nossos pais, que nos ensinavam que roubar é errado, que corrupção (mesmo sem utilizarem esta palavra) é errado e que todos merecem respeito, independente de pensarem igual ou diferente de nós. Quando criança, aprendi a respeitar o próximo. Na juventude, aprendi que as minhas convicções diferentes não me davam o direito de condenar o outro. Aprendi que devemos nos espelhar na honestidade e bom caráter. Aos 18 anos, quando votei pela primeira vez, procurei candidatos que eu acreditava (estando certa ou não) fossem, acima de tudo, honestos. Procurava me informar se o candidato era probo, correto, pessoa cujo exemplo eu podia seguir. Faço parte de uma geração que quando tirou o título de eleitor não votou para Presidente da República. Isso veio depois e erramos feio. Digo “erramos” como Nação, porque independente de quem votou em quem, o Presidente foi eleito pela maioria, para ser cassado antes do término do mandato. Com o erro fomos aprendendo, e mil vezes termos errado em uma democracia a continuarmos na ditadura. Continuamos aprendendo. Ora acertando, ora errando, mas procurando o melhor. Por isto assusta-me a mentalidade instalada na política atual. Estamos às portas das eleições do segundo turno para o cargo máximo do país. Dois candidatos, duas correntes. Isso é normal, prova da democracia pela qual tantos lutaram e muitos pagaram um alto preço. O que não deveria ser normal é essa mentalidade de “um roubou, mas o outro também”, “um é corrupto, mas o outro também”. Não se procura o candidato mais honesto, e sim o menos desonesto. Não se fala em votar no candidato probo, mas no “menos corrupto”. Então corrupção é coisa normal? Mensalões, desvio de verba pública, são fatos naturais? Parece que sim, já que as opções se mostram entre “quem fez menos”. Isto sem contar o nível das campanhas. De um lado temos “playboys” e “coxinhas”, do outro “comunas” e “petralhas”, em uma campanha política onde imperam o desrespeito de ambos os lados. Liberdade de imprensa nunca foi tão confundida com falta de respeito ou educação. Palavrões e piadas de mau gosto, charges ofensivas, agressões gratuitas disputam espaço na mídia de maneira tão acintosa que os mais esclarecidos acabam se afastando. Quero escolher o melhor. Quero votar no melhor, não no menos pior. Entendo que se todos pensássemos igual não haveria necessidade de eleição. Bendito seja o regime democrático, onde temos o direito de escolha, seja para acertar ou errar. Mas essa escolha deveria ser pelo que o escolhido tem de melhor e não pelo que o preterido tem de pior.
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