Barulho, poeira e risco de desabamento: Atividade minerária aterroriza moradores do Castro em Barão de Cocais

Moradores participaram de audiência pública sobre impactos da atividade minerária na região nesta segunda (12/5).

Home » Barulho, poeira e risco de desabamento: Atividade minerária aterroriza moradores do Castro em Barão de Cocais
Por JornalVozAtiva.com Publicado em 13/05/2025, 08:51 - Atualizado em 13/05/2025, 15:15
Foto — Reprodução. Crédito — Guilherme Dardanhan/ALMG. Siga no Google News

A rotina dos moradores da comunidade do Castro, na zona rural de Barão de Cocais, é marcada por um cotidiano insuportável de barulho constante, nuvens de poeira, residências com rachaduras alarmantes e severas restrições de locomoção. A dramática situação, atribuída à intensa atividade minerária na região, foi exposta em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta segunda-feira (12/5/25).

A presidente da Associação do Castro, Iderlane Cristina da Conceição, revelou que ao menos cinco empresas de mineração cercam a comunidade, sendo a “Via do Minério”, principal rota de tráfego dos veículos pesados das mineradoras, um corte direto no tecido social da localidade.

O quadro se agravou, segundo Iderlane Cristina, com a instalação do Centro de Distribuição de Barão (CDB) há dois anos. Apesar de situado em terreno da Vale, o empreendimento serve também a outras mineradoras, concentrando vagões e trens essenciais para o escoamento da produção mineral.

“Nossas casas estão avariadas, à beira do colapso. Há laudos técnicos que interditam moradias. Nossos animais são atropelados, a poeira e a lama invadem a comunidade e as fontes de água estão secando”, desabafou Iderlane Cristina da Conceição.

A líder comunitária relatou ainda o impacto na saúde infantil: “As crianças da comunidade sofrem com inúmeras infecções respiratórias por causa da poeira. Minha própria neta é um desses casos, e precisei vir para Belo Horizonte para cuidar dela. É uma tristeza ter que abandonar o lar que compramos para viver em paz, porque a mineração nos roubou essa tranquilidade”.

A vice-presidente da Associação da Comunidade do Castro, Glace Oliveira, endossou as denúncias, residente há 22 anos no local e testemunha do agravamento dos problemas mesmo antes da chegada do CDB.

O barulho incessante de máquinas e caminhões carregados de minério é um tormento constante. “Algumas casas ficam a menos de 200 metros do Centro de Distribuição de Minério. É impossível ter uma noite de sono”, lamentou Glace Oliveira.

Comunidade Clama por Contrapartidas Diante dos Impactos

A tesoureira suplente da associação, Kátia Ferreira, apresentou um plano de ação elaborado pelos moradores para mitigar os problemas.

“Não somos contra a mineração em si. Mas exigimos um equilíbrio, para que a atividade não nos traga apenas prejuízos”, declarou Kátia Ferreira.

As principais demandas da comunidade incluem:

Construção de um centro comunitário com espaços para lazer e esportes.
Participação ativa nas decisões relacionadas à Via do Minério.
Acompanhamento psicológico para os moradores afetados.
Desenvolvimento de atividades para crianças, como reforço escolar e aulas de dança.
Implementação de projetos de empreendedorismo local.
Capacitação profissional para inserção nas empresas da Via do Minério.
Criação de uma área verde para a comunidade.
Construção de um viaduto para melhorar a mobilidade.

Juliano do Nascimento, operador de equipamentos da Vale e morador da comunidade, defendeu a urgência de uma “mineração responsável”.

“Uma mineração que desrespeita as pessoas e o meio ambiente não é sustentável. Em Barão, vivenciamos um boom da mineração, com novas minas e estradas surgindo a cada dia. É fundamental que essa atividade seja conduzida com respeito”, enfatizou Juliano do Nascimento.

Defesa Civil Municipal Alerta para Danos Estruturais Generalizados

A coordenadora da Defesa Civil Municipal de Barão de Cocais, Helena Batista, revelou um cenário preocupante: “Todas as casas do Castro, sejam elas novas ou antigas, apresentam algum tipo de patologia estrutural: trincas, rachaduras e, em alguns casos, tetos comprometidos. Há relatos consistentes de que a passagem de máquinas pesadas muito perto das residências durante a construção do CDB causou esses danos. E hoje, o intenso fluxo de caminhões na localidade, apesar do controle de velocidade, muitas vezes não é respeitado”.

Parlamentares Buscam Solução Integrada para Crise Comunitária

O deputado Lucas Lasmar (Rede), proponente da audiência, defendeu a necessidade de uma solução conjunta para os problemas da comunidade, envolvendo o poder público, os moradores e as empresas de mineração.

O parlamentar reforçou o pleito da comunidade por contrapartidas, inclusive através de requerimentos da comissão, e sugeriu que parte da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem) destinada ao município seja direcionada para atender às necessidades do Castro.

Oito dos onze vereadores de Barão de Cocais participaram da audiência, manifestando apoio unânime aos moradores.

O presidente da Câmara Municipal, Tiago Antônio dos Santos (Tico), lamentou a “mineração desenfreada” na cidade. “Nós, vereadores, lutamos há muito tempo para que a população do Castro seja ouvida e devidamente compensada. Infelizmente, isso ainda não aconteceu”, afirmou Tico.

Órgãos Ambientais Detalham Ações de Monitoramento e Fiscalização

A chefe da Unidade Regional de Regularização Ambiental do Leste Mineiro (Feam), Lirriet de Freitas, informou que o CDB protocolou o pedido de licenciamento ambiental. “Os impactos negativos foram devidamente mencionados no processo, e foram estabelecidas medidas mitigadoras para controle da qualidade do ar e de ruídos, além do gerenciamento do trânsito”, explicou. A Feam estabeleceu 18 condicionantes a serem cumpridas, com relatórios semestrais de viabilidade exigidos do empreendedor.

A superintendente de Inteligência da Subsecretaria de Fiscalização Ambiental da Semad, Elisangela de Oliveira, garantiu que a fiscalização atua mediante denúncias, e que todas as reclamações recebidas até o momento foram respondidas.

O coordenador da CDB Logística, Gustavo de Almeida, assegurou que o empreendimento realiza monitoramento ambiental contínuo das condicionantes, desde a fase de construção até a operação atual, e se mostrou aberto ao diálogo com a comunidade.

O gerente jurídico da Flapa Mineração, Eduardo Pinheiro, também expressou a disposição da empresa em dialogar e analisar as demandas da comunidade.

Foto — Reprodução. Crédito — Guilherme Dardanhan/ALMG.

Deixar Um Comentário