Dívida bilionária ameaça escritório da ação de Mariana contra BHP em Londres
Balanço financeiro revela dívida de R$ 3,8 bilhões e auditoria levanta dúvidas sobre futuro da Pogust Goodhead, apesar de firma negar problemas e garantir andamento da ação.
O escritório de advocacia Pogust Goodhead, responsável pela representação de centenas de milhares de vítimas da tragédia de Mariana (MG) na ação bilionária movida contra a mineradora BHP em Londres, enfrenta uma grave crise financeira. Um balanço divulgado recentemente aponta para dívidas de curto prazo superiores a 500 milhões de libras, o equivalente a aproximadamente R$ 3,8 bilhões na cotação atual. A informação foi revelada pelo jornal britânico Law Gazette, e os números foram submetidos a uma auditoria independente que expressou “incerteza” sobre a capacidade de a empresa manter suas operações.
Apesar do cenário preocupante, a Pogust Goodhead, procurada pela reportagem, afirmou operar sob um modelo de atuação diferenciado e garantiu estar “bem financiada”, assegurando que a situação não impactará o andamento dos complexos processos judiciais.
O balanço financeiro referente ao ano de 2022, publicado com um significativo atraso de 18 meses, revela um faturamento recorde de 53 milhões de libras para o escritório naquele ano. Esse desempenho foi impulsionado, principalmente, por um acordo extrajudicial em uma ação movida contra a Volkswagen por danos ambientais. Contudo, o mesmo relatório financeiro também expôs um prejuízo operacional de 51 milhões de libras e um montante alarmante de 522 milhões de libras em dívidas com vencimento em um ano, contrastando com um total de ativos de apenas 7,5 milhões de libras.
Diante desse quadro, o auditor independente Geoff Wightwick, da empresa MHA, emitiu um parecer contundente, declarando que o grupo necessita de financiamento adicional para honrar seus compromissos financeiros. A auditoria também expressou “incerteza material” sobre a continuidade dos negócios da Pogust Goodhead.
Em entrevista concedida ao jornal O GLOBO em fevereiro deste ano, Tom Goodhead, sócio da firma, já havia admitido que o processo de Mariana impõe custos elevadíssimos, o que levou a cortes financeiros internos em 2023. Ele detalhou que apenas os custos com os advogados envolvidos na ação de Mariana consomem cerca de 2 milhões de libras por mês.
“Tivemos que fazer cortes no final do ano passado, porque esse caso nos levaria à falência. É muito caro. Custa 2 milhões de libras por mês só com os advogados do caso Mariana. Tive que tomar decisões para manter esse processo por anos”, declarou Goodhead na ocasião.
A ação coletiva em curso na Inglaterra representa os interesses de aproximadamente 620 mil vítimas da tragédia de Mariana, incluindo municípios e empresas afetadas pelo rompimento da barragem da Samarco em 2015. A BHP é uma das acionistas da Samarco. O escritório Pogust Goodhead busca uma indenização bilionária da mineradora, com um pedido de R$ 52 bilhões apenas para os municípios impactados.
A primeira fase do julgamento, que envolveu a apresentação de depoimentos de especialistas, foi concluída em março. A Corte de Londres já agendou para os dias 2 e 3 de julho a audiência referente à segunda fase do processo.
Apesar das informações alarmantes contidas no balanço financeiro e na auditoria, o escritório Pogust Goodhead, ao ser procurado, reiterou que não há risco para a continuidade de suas operações, buscando minimizar o impacto das notícias veiculadas na imprensa britânica sobre a crucial ação judicial que move em nome das vítimas da tragédia-crime de Mariana.
Veja a nota do Pogust Goodhead
“O modelo de atuação do escritório Pogust Goodhead é construído com base na força de nosso portfólio de ações, e não em ciclos financeiros tradicionais. O escritório continua bem financiado, com forte apoio de investidores e um valioso conjunto de processos que impulsionam retornos de longo prazo.
Diferentemente dos escritórios de advocacia tradicionais, nosso modelo financeiro reflete o valor de nossos processos e não a lucratividade de curto prazo. Temos financiamento sólido e um portfólio apoiado por ativos que garantem uma posição segura para receitas futuras.
O balanço das contas de 2022 não altera o andamento e a boa condução dos nossos processos, incluindo o caso Mariana. O Pogust Goodhead continua em uma posição forte para fazer justiça para mais de um milhão de clientes contra algumas das maiores empresas do mundo. Com processos emblemáticos como os casos contra a BHP e montadoras de carros atingindo estágios avançados, 2025 deverá ser o ano mais significativo até hoje para nossa empresa.”
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