O acontecimento contado anteriormente, em que Dylan saiu a passear pelas ruas de Ouro Preto no período natalino de 2023, teve desfecho no dia 24 de dezembro de 2024, um ano após Dylan avistar Anabel perto da árvore de natal em frente ao museu da Inconfidência.
No ano de 2023 Dylan avistou Anabel próximo a árvore de natal e se encantou por ela, por duas vezes ela apareceu diante da aclarada árvore, parecia querer dizer alguma coisa, mas quando Dylan tentava encontrá-la, ela sumia como num passe de mágica.
As únicas pistas de que ela era mesmo uma imagem real, foi um enigma deixado por ela que dizia: “O QUE É BONITO NOS SEDUZ, MAS ISSO É POUCO DIANTE DO SER. O TEMPO DIRÁ SE É AMOR”.
Essa frase em tom enigmático foi para Dylan como um mantra, recitado em tom melódico dentro de sua agitada cabeça.
Todos os dias ele pensava o que significava aquelas palavras escritas em letras maiúsculas num simples pedaço de papel.
Dylan havia ficado impressionado com a beleza de Anabel, mas lamentou não ter conseguido trocar um singelo olhar ou até mesmo breves palavras. Sem imaginar o paradeiro de Anabel, e sem saber o que fazer, Dylan aceitou uma proposta de trabalho numa outra cidade, mas não parou de pensar na mulher que viu de relance no Natal de vinte e três. Analisava todos os dias o papel com aqueles impressionantes dizeres em letras maiúsculas.
O ano foi passando até que o chegou dezembro de 2024. Dylan chegou a ouro Preto três dias antes do Natal. A ideia era encontrar Anabel até o findar do dia vinte e cinco. Mas ele estava triste, achava remota a possibilidade de encontrá-la novamente. Não tinha a menor ideia se ela era ouro-pretana ou uma forasteira em passagem pela cidade. Quem era Anabel? Porque ela deixou aquele papel? Será que era para ele mesmo? Perguntas que precisavam de respostas.
Dylan Voltou a sua terra para passar o Natal com a família e com a esperança de encontrar Anabel.
No dia que ele chegou a cidade, as luzes de Natal já estavam acesas. Saiu de casa e foi a rua como fizera em 2023. A tristeza se misturava com a esperança de rever Anabel e poder falar com ela. Nesse dia caminhou entre as luzes, até chegar a praça Tiradentes, olhou discretamente cada cantinho do lugar e foi embora.
Voltou na véspera do Natal de 2024, o relógio do museu da Inconfidência marcava vinte e duas horas. Dylan se encontrava no início da rua direita para quem segue sentido cinema e rua São José. Os minutos iam passando e ele triste esperava a meia noite. A pouca esperança que ele ainda nutria em si, se esvaía cada vez mais. Agora seu plano era esperar a meia noite e depois ir para casa. Talvez tudo tenha sido um sonho. Mas logo ele pensava nas palavras escritas em letras maiúsculas.
Quando faltava quinze minutos para o dia vinte e cinco, uma mulher que havia chegado a praça vindo da rua Brigadeiro Musqueira, aquela rua que começa na Praça Tiradentes e vai até o Teatro Municipal casa da Ópera, ao lado da Igreja do Carmo, se dirigiu em direção a árvore de Natal. Dylan que estava de cabeça baixa, não a viu chegar. Depois de um minuto mais ou menos ele levantou a cabeça e viu a mulher perto da árvore. Quase que um sorriso se desenhou, mas as características nada tinham a ver com Anabel. Cabelos curtos, cachecol, e uma sombrinha com desenhos de flores coloridas que a protegia da chuva fina que caía na Praça Tiradentes.
Faltava cinco minutos, ele ergueu a cabeça e endireitou seu olhar para o topo da árvore, como que fazendo preces ao céu. Seu olhar veio passando pelas luzes na descendente, até chegar na base da árvore. De repente seu olhar encontrou o olhar da mulher que havia vindo da rua Brigadeiro Musqueira. Imediatamente ele disse em seu pensamento: é ela.
Fixou o olhar na mulher e seguiu sem tirar os olhos dela até estar frente a frente.
Ele a chamou pelo nome de Anabel em tom interrogativo, ela sorriu e o chamou pelo nome de Dylan. Ele então prosseguiu na conversa dizendo que ela estava diferente em relação ao ano anterior, ela logo respondeu que só havia mudado o visual.
Dylan contou a ela que o seu ano havia sido recheado de ansiedade e dedicação ao estudo da frase enigmática que ela deixara no último Natal, e finalizou elogiando a beleza da voz dela. Anabel sorriu e comentou que era necessário fazer aquilo, explicando em seguida.
Disse que seu nome não era Anabel, que se chamava Isadora, o nome escrito no papel foi escolhido aletoriamente sem razão de ser. Prosseguiu dizendo que no natal passado havia deixado que a visse, mas decidiu não o encontrar. Notou que ficou interessado, então pensou naquele enigma. Só daria a resposta se um dia os dois se encontrassem de novo, isso significaria que tinha algo que valeria a pena.
Isadora então perguntou a Dylan se ele não lembrava dela, e ele triste disse não se lembrar, mas que não parecia estranha para ele.
Ela não explicou o motivo da pergunta e fez outra. Perguntou porque ele foi a praça Tiradentes um ano depois, antes mesmo dela terminar, ele disse que tinha a esperança de encontrá-la novamente, e que o ano de 2024 foi de muita expectativa e espera. Disse ainda que pensou nela todos os dias, mas que não tinha outra explicação. Isadora então falou para ele que havia chegado a hora de revelar o significado do enigma. E prosseguiu dizendo que há doze anos Dylan havia dito que ela era linda, mas que não poderia ficar ao seu lado porque não conseguiria oferecer a vida de rainha que ela merecia, e partiu sem ouvir o que ela tinha a dizer. Essa foi a primeira conversa que Dylan teve com Isadora nesse sentido.
Quando ela disse essas palavras, Dylan se lembrou e começou a chorar. Por alguns minutos Isadora cessou o relato e amparou em seu ombro, o rosto trêmulo de Dylan. O silêncio perdurou por uns dois minutos, até que Dylan pronunciou algumas palavras entre soluços e lágrimas. Ele disse que ela havia ficado muito mais bonita, e que agora entendia o motivo pelo qual ela não saía da sua cabeça. E pediu desculpas pelo seu medo, reiterando que seu pensamento era protegê-la.
Naquele dia ele pensou que ela merecia alguém melhor do que ele.
Isadora então disse a Dylan que naquele dia ela iria dizer que estava apaixonada por ele e que ficariam juntos, mas ele não deu chance a ela.
E a frase em letras maiúsculas? Perguntou Dylan ainda em seus braços.
“O QUE É BONITO NOS SEDUZ, MAS ISSO É POUCO DIANTE DO SER. O TEMPO DIRÁ SE É AMOR”.
Isso significa que a beleza, por si só, é quase irrelevante; ela nos atrai, mas ainda falta alguma coisa. Eu imaginei que se você não esquecesse aquele instante e tentasse me encontrar, isso significaria que eu nunca saí da sua memória. A beleza se torna insignificante diante do ser, pois ser atraente e não ter um bom caráter não é interessante; portanto, "ser" tem uma grandeza imensa. O tempo revelará se existe amor, pois mesmo após muito tempo, o amor permanece guardado em nosso interior. Você procurou por mim sem recordar quem eu era; na verdade, seu coração reconhecia minha essência, enquanto sua mente já não lembrava do meu nome, mas você ainda assim me procurou.
O tempo disse que é amor e eu nunca deixei de te amar. Quanto a vida de rainha que achou como motivo para se afastar de mim, devo dizer que quero reinar num castelo de sonhos, onde ser é mais importante que ter e o mais importante de tudo é que nele esteja você.
Já era Natal em Ouro Preto quando Dylan e Juliana Valéria desceram a rua direita abraçados e vivendo seus primeiros momentos juntos.
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