“Samba de Preto Velho”: Sérgio Pererê lança quarto disco do ano e primeiro da carreira dedicado ao samba
São 12 músicas que passeiam por diversos subgêneros do samba, em diálogo com influências afro-brasileiras como o maracatu, o jongo e a umbanda.
Um dos principais representantes da música afro-mineira, o cantor, compositor e multi instrumentista Sérgio Pererê transita por universos infinitos quando o assunto é música: do dos tambores de matriz africana às flautas; do Carnaval ao cancioneiro apaixonado. Com quase 30 anos de carreira, e uma bagagem fonográfica invejável, Pererê se dedica agora pela primeira vez ao gênero musical que reflete a alma do brasileiro, como ele mesmo define o disco “Samba de Preto Velho”.
O lançamento é especial, com show gratuito para acompanhar a chegada de 2025, na Praça Alto Glória, no bairro Glória, no dia 31/12 (terça-feira), a partir das 21h. Antes, o público acompanha o Samba da Januário, a partir das 14h, como aquecimento para a festa de Ano Novo. O show é o primeiro de uma circulação com patrocínio da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), via Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais.
Mantendo uma produção de alto nível, este é o quarto disco de Sérgio Pererê lançado apenas em 2024, sucessor de “Canções de Outono” (Natura Musical), primeiro álbum do mineiro dedicado às modas de sofrência e gravado junto a 14 cantoras, incluindo Mônica Salmaso, Fernanda Takai e Letrux; “Sérgio Pererê e Bloco Oficina Tambolelê”, que celebra os 25 anos do Tambolelê, um dos precursores dos blocos afro em Minas Gerais, conhecido por desenvolver ritmos próprios; e “Bentu”, gravado com a cantora e violonista paulista Badi Assad — um dos principais nomes do violão brasileiro contemporâneo.
Agora, com pique de sobra para criar sua própria roda em mais um projeto inédito, é a vez do samba. “Acredito que todo cantor e compositor brasileiro precisa passar pelo samba. O samba esteve presente na minha vida e na minha história, de modo que, houve uma época, na minha infância, que eu não entendi o samba como gênero musical, mas como um estado de consciência e de espírito. E até hoje é assim. Ou seja, o samba é, de fato, a alma do povo brasileiro. Por isso, é preciso conhecê-lo”, avalia Pererê.
Samba afro-mineiro
Em “Samba de Preto Velho”, Pererê apresenta 12 composições próprias, algumas escritas há mais de dez anos, mas todas baseadas em ramificações do samba. As músicas seguem as toadas do ijexá, do samba de gafieira e do partido alto, por exemplo, mas carregam também raízes da música afro-brasileira, essência primária de Pererê, como as células rítmicas do candomblé, da umbanda, do maracatu, do jongo e do calango.
A direção musical é do multi-artista Acauã Rane que, além de produtor, compositor e arranjador, levou para o disco sua vivência como alabê — sacerdote responsável pela música nos rituais de candomblé. “O Acauã foi mais do que um produtor musical. Ele convocou o grupo de músicos, dirigiu as gravações, criou os arranjos. Fiz uma gravação de todas as músicas com o cavaquinho para ele conhecer e, a partir daí, o Acauã criou os belos arranjos do disco”, conta Pererê.
De fato, os arranjos de “Samba de Preto Velho” brilham com força, fazendo jus às gravações clássicas de bambas do gênero. Não por acaso, “Brilho Perfeito”, segunda faixa do disco, é um samba de gafieira arranjado com belas flautas, e influenciado pela escola clássica de Zeca Pagodinho. Já “Estrela Guia”, que abre o álbum, traz um ijexá que remete à atmosfera dos sambas de Gilberto Gil.
Por outro lado, “Canto do Teimoso” insere no samba uma das características mais marcantes de Pererê: os cânticos declamados à capela, quase como orações (“a minha fé vem lá do fundo do mar / foi de pedra em pedra que fiz meu caminho do lado de cá”). Já a canção “Xapanã” estreita ainda mais os laços simbólicos do trabalho junto ao universo do candomblé, prestando homenagem a Omolu, orixá da doença e da curas, da terra e do sol.
A sonoridade do disco ganha corpo com a presença de craques do samba, como Daniel Guedes (pandeiro e efeitos), Rodrigo Martins (surdo, tantan, efeitos e coro), Rudney Carvalho (in memorian, cavaco), Rafael Di Souza (violão, guitarra e coro) e Marcos Frederico (bandolim). Completam a banda Acauã Rane, responsável pelo baixo e pelos coros, e Ney Corrêa (bateria).
Um dos pontos altos do álbum são as participações de Fran Januário e Vivi Amaral, duas das principais intérpretes das rodas de samba de Belo Horizonte, idealizadoras do projeto “Samba de Origem”, que valoriza o protagonismo da mulher negra no samba. Elas dividem a faixa “Mais Samba e Menos Lágrimas” com Pererê, em um refrão contagiante: “de tanto jogar flores no mar / acho que mereço amor / com as bênçãos de Iemanjá”.
“Samba de Preto Velho” foi gravado ao vivo, em maio de 2021, no Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte, durante a pandemia, sem a presença do público. A mixagem e a masterização ficaram por conta de André Cabelo, do Estúdio Engenho.
Samba da Januário
O Samba da Januário emerge como uma expressão autêntica e territorial da musicalidade mineira. É marcado pela voz de Fran Januário, mulher preta, periférica, compositora e educadora musical, que há cinco anos vem marcando espaço no circuito do samba em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Com formação em Música e mais de 20 anos de carreira, Fran Januário obteve experiência artística durante turnê pela Europa, em 2018. Até aqui, o Samba da Januário já realizou diversas edições que ultrapassaram barreiras geográficas e contaram com participações de nomes como Dona Eliza, Santiago Reither, Waltinho Sete Cordas, Sérgio Pererê, Fabiana Cozza, Flávio Renegado, Manu Dias, Zaza Desiderio, Marcos Flávio e Carlinhos de Jesus.
SERVIÇO | Show de lançamento do disco “Samba de Preto Velho”, de Sérgio Pererê | Abertura com roda Samba da Januário
Quando. 31/12 (terça-feira)
14h - Samba da Januário | 21h - Samba de Preto Velho, com Sérgio Pererê
Onde. Praça Alto Glória (Rua Faustino Cardoso, 81, Novo Glória)
Quanto. Entrada gratuita, sem a necessidade de retirada de ingressos
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