Dylan era ouro-pretano, embora seu nome sugerisse nacionalidade estrangeira. Quando chegou o Natal de 2023, ele planejou ir a Praça Tiradentes para ver o brilho das luzes e os efeitos provocados quando em contato com os monumentais vultos históricos existentes no local. Tinha na mente, esplendorosas imagens, brilho e beleza, passado e presente, uma fusão de tantas coisas bonitas que se desenhavam um espetáculo de rara beleza.
No dia escolhido para ir à praça Tiradentes, choveu muito em Ouro Preto, mas ele não mudou seus planos, vestiu-se de uma capa transparente e escolheu como ponto de partida para a centenária praça, o Largo do Rosário.
Dylan preparou-se como um desbravador numa grande expedição. Munido de uma câmera fotográfica, bateria reserva, e outros apetrechos que lhe assegurasse a conclusão do seu intento, partiu rumo a praça. Adentrou a rua Getúlio Vargas sentido Rua São José, do céu vertiam em forma de chuva, águas suaves e contínuas; era uma fina garoa que umedecia todos os recantos da cidade.
As calçadas centenárias da bela cidade de Ouro Preto pareciam um espelho, proporcionando um espetáculo de rara beleza.
Depois de passar pela Rua São José e chegar a praça Reinaldo Alves de Brito, o Largo do Cinema, Dylan já havia feito inúmeras fotos, eternizando momentos únicos só possíveis estando em Ouro Preto, uma das mais belas cidades do mundo.
Mas o momento mais marcante estava por vir. Quando seus pés tocaram o chão bem no ponto onde se encontram a rua Paraná, e a Praça Reinaldo Alves de Brito, quase em frente a Ladeira Antônio Vieira de Brito, início da rua conde de Bobadela, a rua direita, uma visão deslumbrante o deixou maravilhado.
A Rua direita estava molhada pela chuva que caía. Mansa e calma a águas proporcionavam, ao tocar as pedras da calçada, um brilho cintilante jamais visto por ele. Dylan posicionou sua câmera bem rente ao chão e clicou para eternizar um de seus mais belos registros. Era lindo o efeito gerado pela interação dos elementos, água da chuva, luzes geradas pelos pisca-piscas e lanternas de ferro, herança do período colonial, calçada molhada e monumentos refletidos no chão.
Dylan já havia subido boa parte da rua direita, quando parou para mais fotos. Estava a cinco passos da travessa Cônego Camilo Veloso, quando avistou lá em cima, a parte alta do casarão do antigo Pilão, hoje Centro Cultural e Turístico do Sistema FIEMG e na sua fachada luzes coloridas piscavam como numa dança coordenada. Eram as luzes de Natal iluminando a praça Tiradentes em Ouro Preto. Ele então após ter tirado algumas fotos, acelerou o passo na subida e em instantes já se encontrava no topo do morro e olhando para o prédio avistado lá de baixo. Mais alguns passos e tudo ficou ao alcance de sua vista. A imensa árvore próxima ao museu da Inconfidência, as luzes espalhadas por toda a praça foram alvos de sua câmera fotográfica, e extasiado caminhou canto a canto daquele belo lugar fotografando e experienciando todas as maravilhas próprias daquele riquíssimo espaço.
Dylan permaneceu na praça Tiradentes por longos minutos curtindo as luzes de Natal, e pensando no privilégio de morar em tão linda cidade. Depois de algum tempo, satisfeito pela noite magnífica que havia vivido, embora a chuva fina insistisse em cair sem cessar, ele seguiu em direção a Rua Senador Rocha Lagoa, a conhecida Rua das Flores.
Andando devagar e passando as fotos em sua câmera fotográfica, Dylan olhava atentamente os cliques feitos naquela sua estada na praça. Numa das fotos percebeu algo que instantaneamente lhe chamou a atenção, era a imagem de uma mulher olhando para sua câmera no momento do clique. Deu um zoom na imagem, e viu com clareza uma mulher sentada na calçada perto da árvore e olhando para ele.
Imediatamente pensou em como não havia notado aquele rosto bonito em meio as luzes que anunciavam a chegada do Natal.
Voltou atrás para ver se encontrava a bela mulher, mas ela já não estava mais lá. Na tentativa de encontrá-la ele andou pela praça, desceu a rua Cláudio Manoel, conhecida também como Rua do Ouvidor, passou pelo Largo de Coimbra, onde fica a feirinha de pedra sabão, passou do lado da igreja de São Francisco de Assis, e após transitar pela Rua Antônio Pereira, retornou à praça Tiradentes.
Todo o esforço de encontrar a mulher da foto foi em vão. Dylan chegou a pensar que esse acontecimento fosse algo da sua cabeça, mas olhou de novo para a foto e visualizou a presença da mulher, um pouco atônito se convenceu de que havia um fundo de realismo em tudo.
Sem mais nada a fazer ele foi embora feliz por ter vivido momentos prazerosos que foram coroados com as luzes natalinas da praça Tiradentes.
Quando chegou em casa, lá pelos lados do Bairro Cabeças já eram quase uma hora da manhã. Antes de ir dormir Dylan voltou a olhar as fotos, acessou seu cartão de memória via notebook e com mais nitidez e amplitude avaliou aquela única foto que a mulher apareceu. Não chegou a nenhuma conclusão exceto a de que a mulher era belíssima.
Contudo permaneceu intrigado e se perguntando como não havia percebido tamanha beleza no momento do clique.
Retornou na noite seguinte no mesmo horário, mas não detectou visualmente nada que remetesse aquela mulher misteriosa captada pelas lentes de sua câmera.
Na antevéspera do Natal ele voltou novamente a praça, caminhou um pouquinho entre as luzes e depois parou numa lanchonete, tomou suco de cacau com leite, uma de suas paixões. Alguns minutos depois foi embora sentido Rua das Flores. Na esquina, já acessando a citada rua, institivamente virou –se para dar uma última e despretensiosa olhada na direção da imensa árvore de Natal. De novo sentada na calçada se confundindo com as luzes, estava a mulher da foto. Dylan refez sua rota e dirigiu-se rumo a árvore reluzente em frente ao Museu da Inconfidência.
A praça Tiradentes estava tomada por pessoas passeando e curtindo as luzes. Ainda era cedo, o relógio no alto do museu da inconfidência ainda não havia marcado vinte uma hora.
Quando chegou próximo onde havia visto a mulher sentada, avistou apenas um papel preso numa pedra, parecia ter sido deixado por ela propositadamente.
Ele pegou o papel e nele estava escrito de forma centralizada em letras maiúsculas o que parecia ser um nome de mulher: “ ANABEL”.
Ainda em letras maiúsculas uma frase a ser interpretada: “O QUE É BONITO NOS SEDUZ, MAS ISSO É POUCO DIANTE DO SER. O TEMPO DIRÁ SE É AMOR”.
Dylan então intuiu naquele momento que o nome da misteriosa mulher era Anabel, só não entendeu o que ela quis dizer com a frase escrita logo após o nome.
Após esse acontecimento, Dylan foi embora seguindo em direção a Rua das Flores. Despretensiosamente olhou de novo na direção da árvore, mas dessa vez só as luzes brilhavam, parece que a mulher já havia dado o seu recado.
Na véspera do Natal, Dylan se arrumou todo, e foi para a praça Tiradentes esperar as badaladas da meia noite. As vinte e duas horas ele chegou. Sentou-se perto da árvore de Natal e não arredou o pé. Esperava encontrar Anabel, era assim que ele passou a chamar a mulher misteriosa no seu silêncio contemplativo.
O relógio do museu da inconfidência anunciou a chegada do natal de 2023, Dylan começou a entoar cantos natalinos juntamente com um grupo de pessoas que alegres festejavam um pouco mais a frente. Isso durou apenas alguns minutos. De repente o semblante de Dylan foi se entristecendo motivado por uma incerteza, uma confusão acerca de Anabel. Começou a se dar conta da estranheza dos acontecimentos, a achar loucura tudo aquilo. Pensou em ir embora, já se dando por vencido.
Já de pé, atendendo ao impulso natural, olhou para o local onde estava sentado, para ver se não havia caído nada de seu bolso, foi então que avistou um papel preso debaixo de uma pedra bem do lado onde se sentou quando chegou, imediatamente o pegou. Em letras maiúsculas estava escrito: FELIZ NATAL E LEMBRE-SE QUE SE FOR AMOR O TEMPO DIRÁ.
Dylan foi embora pensando em tudo aquilo e desejoso de encontrar Anabel. Era quase duas horas da manhã quando ele conseguiu dormir. Sonhou que no Natal de 2024 Anabel iria deixar-se conhecer e os dois passariam o Natal juntos.
Ainda em 2023, Dylan já sonhava com o natal de 2024. Era um pressentimento bom, uma coisa inexplicável. Uma coisa era certa, em 2024 ele voltaria a praça Tiradentes. Mesmo porque estava ansioso por saber o que Anabel quis dizer com a frase: “SE FOR AMOR O TEMPO DIRÁ”.
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