Microagressões e assédio no ambiente de trabalho são desafios silenciosos para segurança psicológica

Lideranças tóxicas, cargas de trabalho excessivas e o uso inadequado da linguagem no ambiente corporativo são fatores que evidenciam essas questões

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 16/10/2024, 13:32 - Atualizado em 16/10/2024, 13:32
Imagem ilustrativa. Crédito — Reprodução / Freepik. Siga no Google News

As microagressões no ambiente de trabalho permanecem um desafio para líderes que buscam harmonia entre colaboradores. Um estudo da McKinsey & Company aponta que, além da desigualdade de gênero, as mulheres enfrentam um número significativo de microagressões. Esse cenário é agravado por lideranças tóxicas, assédio e cargas de trabalho excessivas. 

Pesquisa com dados e cases foram apresentados no 1º dia do 2º Summit Internacional de Segurança Psicológica, realizado nesta segunda-feira, 14 de outubro, em São Paulo, pelo Instituto Internacional de Segurança Psicológica (IISP).

Nesse contexto, o Estudo 2023 – Canal de Denúncias da IAUDIT Tecnologias revela que 41,64% dos entrevistados relataram experiências de assédio moral, abuso de poder, agressão física e desvios de comportamento no ambiente corporativo. Além disso, o levantamento indica que 46% dos denunciantes identificam especificamente o funcionário responsável pelo ato, com 37,61% dos denunciados sendo líderes, supervisores ou encarregados.

Patrícia Ansarah, fundadora do Instituto de Segurança Psicológica (IISP) e organizadora do Summit, destaca que a segurança psicológica no ambiente de trabalho depende também da compreensão de temas frequentemente delicados. “Microagressões, embora sutis, podem afetar profundamente o bem-estar emocional dos colaboradores, enquanto o assédio é uma forma mais intensa e prejudicial de comportamento inadequado. É crucial que as organizações cultivem uma cultura de respeito e empatia, promovendo diálogos abertos sobre essas questões. Dessa forma, poderemos criar um ambiente de trabalho mais seguro, onde todos se sintam valorizados e respeitados”, conclui.

Um dos painelistas no evento, o professor, pesquisador e especialista em temas relacionados ao significado do trabalho, Alexandre Pellaes, destaca que as microagressões se manifestam por meio de pequenas atitudes, comentários e comportamentos. Segundo ele, esses atos, acumulados ao longo do tempo, comprometem a saúde mental e a capacidade de ação. “Essas violências não se limitam às estruturas organizacionais, elas aparecem nas interações diárias entre colegas, líderes e subordinados, muitas vezes resultantes de escolhas e ações individuais”, destaca.

Segundo um levantamento apresentado por Alexandre, algumas dinâmicas ocultas podem revelar exemplos de microagressões e seus impactos no cotidiano. Um exemplo é o elogio em público seguido de sabotagem em particular. “O chefe aparenta apoiar um funcionário, mas age contra ele nos bastidores”, explica. Outra forma de microagressão é a imposição de autoridade com base no cargo, ignorando a competência e o conhecimento em favor do status. Além disso, a criação de um "glamour" em torno da sobrecarga de trabalho também entra nessa lista. “Isso acontece quando a empresa ou o chefe valoriza aqueles que trabalham até tarde, fomentando uma cultura de exaustão”, detalha.

No estudo, ele também destaca a diferença de tratamento entre pessoas com contribuições iguais, a mistura de relações sociais com desempenho profissional e a falta de respeito durante apresentações, como quando alguém se distrai olhando memes no celular. “Isso demonstra desrespeito pelo tempo e pela intenção de trabalho dos outros”, explica. Além disso, Alexandre aponta que o uso de apelos emocionais para obter vantagens é outra forma de microagressão, seja quando funcionários se apresentam como vítimas ou quando a empresa promove uma imagem de "família".

Impacto das palavras

O especialista observa que, ao identificar os fatores que afetam a segurança psicológica, muitos aspectos ainda obscuros podem ser desmistificados. “Existe muito daquilo que não é dito. À medida que abordamos esses temas, espera-se que se torne mais comum discutir questões como essa, fundamentando-se na fala e na escuta”, afirma.

Vivian Rio Stella, doutora em linguística e também painelista no 2º Summit Internacional de Segurança Psicológica, compartilha essa perspectiva ao destacar o impacto das palavras nas decisões e relações corporativas. “Nas empresas, silêncios comunicam muitas coisas. Há um grande número de coisas não ditas por medo de retaliação, olhares enviesados ou interpretações. É fundamental discutir os silêncios que foram normalizados”, enfatiza.

Ela também ressalta a importância de diferenciar microagressões de assédio. Enquanto o assédio é definido de forma normativa, a noção de microagressão começou a ser discutida há cerca de 40 anos. “A microagressão é o que passa do pensamento para a ação. A diferença reside na intenção e no modo de agir. O assédio, por sua vez, é caracterizado pela intensidade da ação, que pode se manifestar em frequência e tom mais agressivo”, explica.

A jornalista, palestrante e pesquisadora de temas que envolvem saúde mental, Izabella Camargo, mediadora do painel no Summit, ressalta a importância da segurança psicológica no ambiente de trabalho, enfatizando que, embora a liderança tenha um papel fundamental em promovê-la, a participação de todos é crucial. “A segurança psicológica começa com a liderança, mas todos precisam falar. Cabe a nós, que estamos criando a cultura da nossa empresa, trabalhando para algum lugar, já dizer que aquilo se trata de um trabalho. Trabalho não é a família. Por isso, é importante observar que conversa estamos repetindo, que linguagem estamos usando. É preciso pensar em tudo isso”, conclui.

Sobre o Instituto Internacional em Segurança Psicológica

O Instituto Internacional em Segurança Psicológica (IISP) é uma organização lançada com o propósito de apoiar empresas corajosas a liderar a transformação do jeito de fazer negócios, preparando a liderança para uma gestão mais consciente e humana, por meio da Segurança Psicológica.

Precursora do conceito de Segurança Psicológica no Brasil, a psicóloga organizacional Patricia Ansarah - com mais de 20 anos atuando em RH e como executiva de grandes empresas - criou o instituto para endossar o pioneirismo e dar visibilidade ao tema no Brasil e levar soluções integradas por meio da segurança psicológica para o desenvolvimento de times e organizações.

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