Matuê narra uma odisseia no rap em novo álbum

Lançado de surpresa nesta segunda-feira (09), projeto foi gravado de forma 100% analógica e era aguardado pelos fãs há dois anos.

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Por JornalVozAtiva.com Publicado em 11/09/2024, 11:38 - Atualizado em 11/09/2024, 11:42
Foto — Matuê. Crédito — Reprodução redes sociais. Siga no Google News

Um presente dedicado aos jovens. É como Matuê define “333”, seu mais novo álbum, lançado de surpresa às 15h33 desta segunda-feira (09). Gravado com métodos analógicos, o disco é o resultado do amadurecimento pessoal do artista. Além disso, foi concebido como uma narrativa cinemática, inspirada pela jornada do herói e por vivências do rapper no mercado fonográfico. 

“‘333’ nasce depois de um longo período de bloqueio criativo”, divide o músico, que vem instigando fãs sobre seu segundo registro de estúdio há cerca de dois anos. Ou seja, o projeto é extremamente aguardado por seu público. “Após o sucesso de ‘Máquina do Tempo’, tive que me reconectar com o que importava de fato. Foi um processo de amadurecimento pessoal e os estágios disso são narrados nessas faixas”

Para contar essa história de autoconhecimento, Matuê assume o papel de narrador e personagem principal. Nesse processo de crescimento, nosso herói busca a dominação dos planos físico, mental e espiritual de suas vivências. 

A faixa inaugural “CRACK COM MUCILON” apresenta o primeiro capítulo dessa odisséia, ambientando o ouvinte no início de carreira de um jovem artista. Deslumbrado pelas possibilidades do sucesso, esse eu-lírico versa sobre como é a visão do topo. Aqui, inclusive, o beat conta com um sample da faixa “Oceano”, de Djavan, autorizado pessoalmente pelo cantor alagoano. 

Após estabelecer esse cenário, Matuê avança em sua narrativa. Aos poucos, seu personagem vai entendendo que o sucesso tem suas armadilhas: “Toma cuidado com quem tu fala da tua vida / Tem umas baratas que a gente vai ter exterminar”, ele versa em “ISSO É SÉRIO”, que conta com a participação do rapper Brandão

ORGULHO DE SER 085

Para não esquecer quem é em meio a tantas vozes positivas e negativas, o herói de “333” recorre ao orgulho por suas raízes – fincadas em Fortaleza, Ceará, onde nasceu. É o abraço ao seu plano físico. Inclusive, 100% do novo disco foi concebido, gravado e produzido presencialmente na capital cearense. 

Aliás, a cidade vira ao mesmo tempo personagem e objeto de observação na jornada narrada. Isso acontece principalmente em “4TAL”, em parceria com Teto. Já em “1993”Matuê se mostra em estado de alerta, para não “se foder na armadilha do ego” e nem se deixar levar pelos olhares de inveja que percebe em seu meio. 

Para se blindar desses males, o eu-lírico entende que se faz necessário o domínio de seu plano espiritual. Isso se reflete na faixa “O SOM”, que narra esse processo de espiritualização por meio de sua sonoridade, que passeia por momentos de psicodelia e mantras sonoros, fortemente inspirados pela música indiana. “Pra curar, deixa o som ecoar”, canta Matuê. Por sua vez, “CASTLEVANIA” usa de uma sinfonia noturna de sintetizadores para narrar também o processo de domínio e expansão do plano mental do artista. 

PRESENTE À JUVENTUDE

Se o álbum é um presente de esperança dedicado aos jovens, a cinematográfica “V DE VILÃO” surge como um choque de realidade sobre as violências institucionais e físicas presentes na sociedade. Capítulo mais tenso da história até aqui, a faixa apresenta momentos de quebra na produção, sugerindo o caos social em que a juventude está inserida e, muitas vezes, sujeita. 

Já em “MARIA”Matuê canta sobre como a energia feminina o ajuda a organizar seu caos mental. “A sua presença é o que me faz sorrir / Antes eu achava normal ter que me maltratar”, ele versa. 

Essa reorganização é necessária para que o nosso herói, finalmente, entenda seu propósito no mundo. Isso acontece na faixa-título, “333”, que é ao mesmo tempo desabafo e celebração e resume a mensagem-chave do álbum. 

Em paz com suas vivências e com as escolhas que fez para alcançar o sucesso, Matuê reflete sobre o preço da fama, o poder do dinheiro na corrupção das pessoas e como navegar nesse universo sem perder sua essência. “Esse ouro eu encontrei no lixo / Sai da minha bota, eu vou acelerar”, ele avisa.

ODISSEIA SONORA NO RAP

Mas não é só por meio dos versos que o artista sócio-fundador da 30PRAUM conta sua história. A produção musical também serve como narradora aqui. Ele explica: “A gente começa ‘333’ com o personagem vivendo seu auge na cena, então me inspirei em beats mais clássicos de rap e trap”. É o que acontece em “IMAGINA ESSE CENÁRIO”, aguardada parceria com Veigh, faixa 2 do disco. 

“Os pontos de virada na produção, em que entram a psicodelia e as batidas mais inusitadas, rolam exatamente quando esse personagem se abre para a expansão da mente e do espírito, ou quando ele percebe que nem tudo são flores no topo, saca?”, ele conta, referindo-se a momentos como “4AM”, “O SOM” e “CASTLEVANIA”, que apresenta sonoridades inéditas na cena do trap brasileiro, e também a “V DE VILÃO”

Todo esse processo criativo desemboca em “LIKE THIS”, faixa bônus da tracklist, que narra exatamente os caminhos que Matuê percorreu para conceber o novo disco. Aqui, o artista celebra todo o caminho sonoro percorrido na obra, incorporando referências diversas e inéditas em sua carreira, como o indie rock. Na letra, cantada em inglês, detalha seu propósito com o álbum: “Eu estava em busca do meu coração de novo”, canta.  

DOUTRINA

“Esse é o disco da minha vida”, celebra Matuê“Foi produzido do jeito que eu queria, no meu tempo, indo contra o que o mercado tenta exigir dos artistas. Tenho muito orgulho desse projeto e espero que essa jornada de iluminação, que vai de 0 a 333 nessas 12 faixas, inspire as pessoas positivamente”.

Essa intenção, de transmitir uma mensagem positiva, é um dos motes do projeto. O artista afirma ainda que enxerga “333” quase que como uma doutrina do autoconhecimento. “Passei por esse processo e saí mais forte dele, sabe? Torço pra que outras pessoas tenham essa oportunidade também”

Bem ao estilo de Matuê, o disco foi lançado de surpresa e de forma inusitada. Na tarde desta segunda-feira (09), ele subiu ao topo de uma estrutura de quinze metros de altura, montada especialmente para ele no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Em silêncio, ficou lá até às 3:33 da tarde. Esse tempo foi cronometrado por um grande timer presente no local. Ao final do período, “333” foi disponibilizado em todas as plataformas digitais. 

A ação, que teve ares de performance artística e chegou a ter 155 mil espectadores simultâneos em live no YouTube, foi a maneira encontrada pelo músico de refletir sobre sua posição como artista: a dualidade entre ser colocado no “topo” por seus fãs e, ainda assim, sentir-se vulnerável e exposto ao público. A reflexão passa ainda pelo senso de responsabilidade que o rapper carrega de sempre surpreender e se superar a cada lançamento. 

O segundo registro de estúdio de Matuê chega exatamente quatro anos após o lançamento de “Máquina do Tempo”, disco de estreia que o consagrou como uma das principais vozes do rap nacional e revolucionou o gênero. Exemplo disso é o fato de que, das seis maiores estreias de faixas na parada de sucesso do Spotify, todas são na voz do rapper cearense e cinco fazem parte de seu primeiro álbum. Além disso, o músico tem pelo menos 20 músicas com mais de 100 milhões de plays na mesma plataforma, sendo ainda dono da maior estreia de vídeo da história do YouTube Brasil, com 253 mil espectadores simultâneos. 

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