Abolição da escravatura: por que os estudantes precisam compreender esse período da história do Brasil?
Aprender sobre o passado escravista auxilia os jovens a se tornarem cidadãos mais críticos e conscientes do panorama social, cultural e econômico brasileiro.
Quando o assunto é a História do Brasil, os estudantes se deparam com um tema extremamente relevante: o passado escravocrata. Embora a abolição já tenha sido vista como o rompimento imediato desse regime, hoje se entende que a ausência de políticas sociais e compensatórias para os ex-escravizados deixou consequências evidentes, as quais explicam a atual desigualdade entre a população branca e a negra. Torna-se, portanto, difícil celebrar o dia 13 de maio de 1888, em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, como um “Dia da Abolição da Escravatura” efetivo.
Para enfatizar a importância de estudar sobre esse período, Gabriel Onofre, autor de História do Sistema de Ensino pH,[JJ1] ressalta alguns dados: “O Brasil foi o maior território escravista do hemisfério ocidental por trezentos anos, recebendo de maneira forçada aproximadamente 5 milhões de seres humanos escravizados, 40% do total de negros e negras que desembarcaram nas Américas entre os séculos XVI e XIX”.
Segundo o profissional, compreender a história da escravidão e da abolição é fundamental para que os jovens entendam o Brasil de hoje em termos sociais, culturais e econômicos. Não se trata, portanto, apenas de uma questão acadêmica, mas sim da oportunidade de refletir sobre o passado e estabelecer um país mais igualitário e democrático no futuro.
O que os estudantes devem saber sobre a história da escravidão no Brasil?
A história da escravidão possui muitas dimensões (social, cultural, econômica e política). Embora todo estudo sobre o tema seja importante, alguns aspectos merecem destaque, pensando de um ponto de vista pessoal e dos vestibulares. O autor do Sistema pH destaca os seguintes tópicos:
- a luta dos escravizados contra a escravidão;
- o protagonismo de escravizados e ex-escravizados no período da abolição;
- a história das mulheres escravizadas;
- ex-escravizados nas mais diversas esferas durante o período colonial e pós-colonial.
No âmbito escolar, o estudo pode acontecer de forma interdisciplinar, sobretudo pelas disciplinas História, Geografia e Sociologia. Um exemplo de proposta é a pesquisa e o estudo sobre as diferentes dimensões da desigualdade racial no Brasil, produto da herança escravista.
O que mais cai sobre a escravidão nas provas e vestibulares?
Nos últimos anos, as questões de provas e vestibulares sobre o tema trouxeram enfoque ao protagonismo dos escravizados, ex-escravizados e negros livres para o fim da escravidão. “Além disso, tem sido recorrente o aparecimento de questões que tratam do contexto pós-abolição, sobretudo chamando a atenção para a herança negativa da escravidão e da forma como a abolição foi conduzida pelas elites brasileiras”, afirma Onofre.
Como se aprofundar sobre o tema?
Para aprender ainda mais sobre a escravidão no Brasil e suas consequências, os estudantes podem buscar recursos além das aulas e materiais didáticos. Gabriel Onofre, autor do Sistema de Ensino pH, sugere algumas obras sobre o assunto:
1- Documentário “A Última Abolição”, dirigido por Alice Gomes (2018)
Com a participação de estudiosos, o documentário trata do período da abolição da escravidão, destacando a agência da população negra na luta pela libertação. O longa-metragem traz uma reflexão importante sobre o papel das mulheres na resistência, abordando também as discussões da elite, a assinatura da Lei Áurea e os reflexos de todo esse histórico na sociedade atual.
2- Livro “A sociedade perfeita: as origens da desigualdade social no Brasil”, de João Fragoso
Escrita pelo historiador João Fragoso, a obra reflete, de forma original e didática, sobre a história da desigualdade brasileira. Segundo o autor, as raízes da desigualdade não podem ser atribuídas apenas ao capitalismo comercial, mas também na persistência de relações feudais ibéricas. Para os estudantes, é uma leitura extremamente produtiva, repleta de documentações que reforçam as análises.
3- Trilogia de livros “Escravidão”, de Laurentino Gomes
Com uma linguagem acessível, os três livros do escritor e jornalista Laurentino Gomes sintetizam muitos trabalhos sobre a escravidão. O primeiro volume, focado na África e na captura dos escravos, foi lançado em 2019; o segundo, que se concentra na descoberta do ouro na América do Sul e na necessidade de mão de obra, em 2021; e o último livro, que reflete sobre o tráfico ilegal e os movimentos abolicionistas, chegou às livrarias em 2022. Logo, os estudantes terão acesso a uma visão atualizada e repleta de dados sobre o assunto.
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