“A noite antes do natal, o desfecho”, por Roberto dos Santos

Por Roberto dos Santos Publicado em 02/01/2024, 15:20 - Atualizado em 02/01/2024, 15:20

A escrita de Roberto dos Santos, colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Crédito — Arquivo pessoal.

Carla Mara havia conhecido João Miguel quando passeava pela praça Tiradentes em Ouro Preto minas Gerais, observando as luzes que iluminavam a linda praça. Ela havia se encantado com a árvore de Natal colocada bem em frente ao museu da inconfidência.

Havia feito diante dela seus mais íntimos pedidos, conheceu João Murilo nas imediações e gostou dele. Ele também gostou dela, mas Carla Mara controlou a situação no intuito aproveitar ao máximo os momentos com João Murilo. Ela desejava ser pedida em namoro na noite antes do Natal, e não abria mão disso.

Seu coração já havia escolhido João Murilo, e a cada encontro ela tinha certeza de que ele era o homem a pedi-la em namoro.

João Murilo e Carla Mara se encontraram durante alguns dias antes do natal, um curtindo o outro, mas não falavam de amor, apenas aproveitavam os encontros intensamente. Ainda faltava algumas noites para o Natal, ele sabia que enquanto houvesse luzes, ele conseguiria encontrar com Carla Mara. Até que chegou a antevéspera do natal.

A cabeça de ambos tinha um só objetivo ficarem juntos, mas como fazer isso acontecer. João Murilo estava apreensivo porque as luzes não ficariam ali para sempre, por outro lado, Carla Mara admitia a possibilidade de nada acontecer na noite antes do Natal, mas não tirava da cabeça a ideia de que seria lindo ser pedida em namoro na noite antes do Natal.

Então sendo antevéspera do Natal prepararam com carinho o encontro do dia seguinte. Chegariam por volta das 20:00 horas a Praça Tiradentes, fariam um lanche juntos, e as 22:00 horas trocariam presentes ao lado da árvore de Natal.

Tudo foi sugestão dela pensando que todo esse clima natalino os envolvessem e João Murilo fizesse o pedido antes da meia-noite. O pedido de namoro era uma formalidade indispensável para ela, embora já se comportassem como namorados desde o momento em que se conheceram.

O relógio do Museu marcava 23:37 minutos, e João Murilo abraçado com Carla Mara não dizia nada. Apenas sentia o cheiro dela, acariciava os cabelos, a envolvia em longos abraços, olhava as luzes e continuava em silêncio a contempla-la. Carla Mara estava feliz, mas um pouco decepcionada. A noite antes do Natal já caminhava para o fim e tudo que ela havia sonhado não iria acontecer.

Ela então respirou fundo e tirou a ideia da cabeça e resolveu esperar pelo Natal. Um pouco mais relaxada, mas sem seu lindo sorriso, continuou com João Murilo a esperar pelo Natal.

Eram 23:45 quando surgiu vindo da rua direita quatro músicos, um com violão, outro com Saxofone, outro com Pandeiro, outro com contrabaixo. Os sons desses instrumentos eram reproduzidos por um carro de som bem a frente deles. As luzes da praça Tiradentes agora tinham trilha sonora.

O carro de som seguiu em direção à igreja do Carmo, tendo atrás os músicos a cantar músicas românticas. O que fez com que o pessoal que andava pela praça estranhasse um pouco. Afinal era natal, e normal seria cantarem músicas de Natal.

João Murilo pegou na mão de Carla Mara e a levou até a beirada da rua e ficaram a olhar.

Quando o carro de som passava do lado deles a margem da rua, do lado do carona saiu um papai Noel com flores na mão e entregou a Carla Mara. Nessa hora os músicos interromperam a canção que tocavam e iniciaram outra música que dizia: “VOCÊ É LINDA, MAIS QUE DEMAIS”.

Eram 23:55 quando ela leu o cartão que acompanhava as flores e de repente seu rosto se iluminou com um sorriso, em meio a uma cascata de lágrimas.

O cartão estava assinado por João Murilo e tinha os seguintes dizeres:

— Fiquei com medo da minha voz faltar, por isso recorri a essa folha de papel para dizer que te amo e te fazer uma importante pergunta. Você quer namorar comigo?

Carla Mara se atirou nos braços dele e disse sim. Abraços e beijos marcaram o momento.

Dois minutos depois, o relógio do museu da Inconfidência anunciava o Natal. O papai Noel apertou o passo e foi até eles e desejou feliz Natal, os músicos começaram a tocar canções de Natal e todos que estavam na praça aplaudiram com alegria e emoção. Os brados de feliz Natal se juntaram aos aplausos para o casal de namorados que a instantes antes oficializaram o namoro.

Ficaram um pouco mais e depois foram embora.

Carla Mara convidou João Murilo para passar o Natal com ela e assim ficou combinado.

As 12:00 do dia de Natal, João Murilo Chegou na casa de Carla Mara. Ela o apresentou aos seus parentes que celebravam em família a data sublime. E ela foi logo perguntando:

— Como você pensou em me pedir em namoro daquele jeito bonito?

João Murilo respondeu:

— Eu sou tímido e tinha medo de não conseguir dizer a você que a amo, que queria namorar com você. Com a chegada do Natal fiquei angustiado pensando que o fim estivesse próximo. Eu não podia deixar isso acontecer. Pensei então que teria que falar com você na noite antes do Natal. Fiz um pedido diante da árvore para que eu conseguisse falar com você antes do Natal.

Com a chegada do natal eu tinha medo de não mais vê-la e por isso pensei num jeito de fazê-la saber de tudo. Foi então que silenciosamente arquitetei tudo.

Carla Mara num choro contido e silencioso revelou a ele que também havia feito um pedido igual ao dele.

Se abraçaram, choraram juntos, e depois de refeitos em decorrência da intensa emoção, combinaram o ano novo casa de João Murilo. E assim aconteceu.

Para o ano de 2024 Carla Mara e João Murilo prometeram um ao outro se amarem sem medida.

No fim da tarde do primeiro dia de janeiro, João Murilo levou Carla Mara para casa e pediu que ela descansasse. Ao se despedir pronunciou a última frase olhando nos olhos dela:

— Amanhã será o primeiro dia do resto de nossas vidas. A beijou e pôs-se a caminho.