Belíssima, simples, sorriso farto, uma bela e delicada tatuagem, voz que emanava um som gostoso, jeitos e trejeitos só dela. Características que definem uma mulher de nome Carmem que encheu de encantos o coração de Ângelo.
Toda manhã ela cuidava do jardim de sua casa, e era vista por Ângelo que passava para trabalhar. Ela certamente iria para o trabalho um pouco mais tarde, porém ele passava sempre antes dela sair.
Vê-la brevemente a cuidar do jardim, era um ritual prazeroso que preenchia as manhãs de Ângelo.
Foi num domingo de primavera que ele resolveu mudar a escrita. Mesmo estando de folga, decidiu passar perto da casa de Carmem para ver se ela estaria lá. Ambos moravam no morro da queimada, um importante bairro da cidade histórica de Ouro Preto e se conheciam há muito tempo, porém a rotina diária de cada um era a responsável por não deixar que se encontrassem mais constantemente. Por isso que se viam sempre pelas manhãs quando ela ia para o jardim e ele para o trabalho. Ângelo era viúvo e vivia sozinho a alguns metros da casa de Carmem, os filhos já estavam casados e moravam em outro bairro de Ouro Preto. Carmem era solteira, embora tivesse mais de cinquenta anos. Vivia sozinha, era filha única, não tinha pai nem mãe, passou boa parte da vida cuidando dos pais que enfrentaram longo tempo de enfermidades. Mas ela estava tranquila quanto a isso, pois sempre teve a certeza de que havia feito o que devia fazer.
Quando Ângelo chegou diante da casa dela naquela manhã de domingo, a encontrou entre as flores.
— Aos domingos também? Disse Ângelo para Carmem.
Ela se assustou ao ouvir a voz dele rompendo o silêncio da manhã. E na sequência respondeu:
— Todas as manhãs, incluindo sábado, domingo e feriado, eu não deixo de estar aqui. Preciso cuidar dos meus gerânios para encontrarem o clima adequado para florirem.
E você não parece estar indo trabalhar? Perguntou Carmem.
— Aproveitando a descontração da conversa, Ângelo disse:
— Hoje sai de propósito para ver se você estava aqui, uma flor entre as flores.
Me deu uma vontade de fazer isso.
Nessa hora o rosto de Carmem ruborizou-se envergonhada. E ela, em contrapartida, disse:
— Eu não tenho nada de flor...os gerânios, sim, são lindos.
Ângelo respondeu:
— Você é a flor mais linda desse jardim, pode ter certeza.
A conversa começava a tomar uma conotação um tanto quanto inquietante. Foi então que uma frase dita por Carmem apimentou ainda mais o diálogo dos dois.
— Eu não pareço nem um pouquinho com uma flor, não me enquadro aos padrões de beleza que a sociedade coloca como ideal, logo não posso ser flor. Nem idade tenho para almejar status de mulher bonita, linda ou flor.
E Ângelo replicou dizendo:
— Insisto que é a mais bela flor do seu jardim. Observe bem a sua volta e perceba quantas flores diferentes e lindas existem. Ser diferente é o ponto-chave da beleza. É o diferente que encanta, é aquilo que só você tem, as formas do seu corpo dizem quem é você, e tem que ser assim, senão não seria você.
As diferenças referentes aos corpos só serão evidenciadas quando houver comparações do tipo fulano é assim, ciclano é assim, porém eu te digo que as comparações têm como referencial o padrão de beleza posto pela sociedade e isso não reflete a beleza real da mulher.
Ele disse isso porque havia percebido que Carmem não se achava bonita, mas ele a achava linda.
Ela então, ouvindo tudo isso, exclamou:
— Uau!
E ele oportunamente continuou:
— Eu sempre te vi perfeita, poderia não ser para outros, o que é normal afinal, outros podem não ter conseguido captar a grandeza do seu existir. Você é linda porque é assim, senão não seria linda.
Carmem caminhou até a grade onde estava o homem e agradeceu as palavras tocantes a ela dirigidas.
Ângelo tranquilamente fechou os olhos, respirou fundo e disse a Carmem?
— Que aroma delicioso!
Ela respondeu rapidamente:
— São dos gerânios que todos os dias eu cuido para que floresçam lindos.
Mas o perfume percebido por Ângelo vinha dela que estava impregnada com o aroma da planta. Como se ela fosse um gerânio a desfilar pelo jardim.
Após longos minutos de diálogo, Carmem diz a Ângelo:
— Vamos então encerrar essa conversa, estamos parecendo adolescentes num estratagema de conquista.
E Ângelo disse:
Não é uma estratégia de conquista, consegue perceber que aqueles encontros pelas manhãs eram de alguma forma esperados por nós?
Ela respondeu:
— Agora que mencionou isso, concordo que sim.
Carmem então acrescenta:
— O que exatamente isso quer dizer?
Instantaneamente Ângelo respondeu:
— Significa que não sou um adolescente, mas estou gostando de você, que esses minutos juntos revelaram que o meu olhar na sua direção todo esse tempo, ia além de admirar-te bela a cuidar do jardim. Que independente das nossas idades somos capazes de viver um grande amor.
Foi então que aquela mulher com aroma de gerânio assimilou o que estava acontecendo. Ficou alguns segundos pensativa, já entendendo que aquilo era um pedido de namoro, mas não conseguiu dizer nada, um misto de surpresa e temor tomou conta dela.
De repente Ângelo rompe o silêncio e lhe dirige a palavra:
— Você quer namorar comigo... menina dos gerânios?
E ela do outro lado da grade em meio as plantas do seu jardim, sorriu discretamente e fez uma observação:
— Mas tão de repente?
Ângelo diz:
— O pedido, sim, mas agora que descobri que o que sinto é amor, é certo que a hora é agora.
E Carmem, se sentindo amada, lembrou de tudo que acabara de ouvir e disse sim. Daquela hora em diante tudo seria diferente, Carmem não sentia mais fora dos padrões de beleza, porque descobriu que do jeitinho que era se tornou a mulher perfeita para Ângelo.
Essa perfeição que é relativa, jamais absoluta, o corpo é onde externamos nossas emoções, por onde ela é percebida a olho nu e isso basta ao mundo.
encantada com esse texto romântico com a magia de amor de ouro preto adoroooo