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Roberto dos Santos: “Encontros às quintas-feiras, o amor está no ar”

A escrita de Roberto dos Santos, colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica.

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Por Roberto dos Santos Publicado em 21/06/2023, 16:22 - Atualizado em 21/06/2023, 16:22
A escrita de Roberto dos Santos, colunista cativo do JVA, transita entre a prosa, o conto e a crônica. Crédito — Arquivo pessoal. Siga no Google News

Quando ela chegava tudo mudava, seus passos tinham alto grau de delicadeza, de tão suaves pareciam fazê-la flutuar. Não dizia quase nada a não ser um sonoro boa noite. Sua voz ecoava em meus ouvidos como uma belíssima canção de amor. O olhar era tão belo que provocava uma revolução em mim.

Palavras de Edy Marcos falando do amor que sentia por Ester Luiza quando a conheceu nas missas de quinta-feira, as 19:00 horas na capela de São Sebastião no bairro de mesmo nome em Ouro Preto Minas Gerais.

Com passos suaves e graciosos Ester Luiza transpunha o portão. Passava entre duas árvores que margeavam um corredor de pedra que levava até a porta da capela. Parecia uma passarela a deixar seus pés deslizarem, de tão bonito que era.

Antes de ingressar ao interior da capela, passava obrigatoriamente por Edy.

Marcos que tinha a incumbência de zelar pelo lugar. Acolhia a todos com sorrisos e palavras afáveis.

Já no interior da capela de São Sebastião, Ester Luiza se ajoelhava e fazia não mais que três minutos de orações e depois saía em direção ao muro que circundava a capela, bem do lado do campanário.

Era como um ritual que acontecia as quintas-feiras antes da missa das 19:00 horas naquele espaço religioso. Embora isso fosse constante, ela não tinha percebido que Edy Marcos havia se apaixonado por ela, que vez por outra ficava a observa-la do lado do campanário sem dar pinta de que seu coração ficava acelerado.

Ester Luiza chegava a perceber o olhar de Edy Marcos na sua direção, mas não esboçava nenhuma reação que que fugisse a normalidade. Afinal se os olhares se encontraram em algum momento, significava que a busca foi mútua, contudo as reações não demonstravam nada além do que acaso.

Mas o certo era que Edy Marcos já havia se apaixonado, e além da sua tarefa de acolher os féis para a missa, ele gostava da quinta feira para ver Ester Luiza.

Quando ela chegava ele dizia silenciosamente para si mesmo na quietude do seu coração:

— Lá vem Ester Luiza a desfilar nesse corredor de pedra que parece ter sido feito exclusivamente para ela. Cabelos tão bonitos, batom em Tom suave, andar arrojado e encantador. Quanto mais perto de mim ela chega, mais o meu coração acelera. Minhas mãos estão tremendo, minha voz não quer sair, mas preciso dar-lhes as boas-vindas.

E mesmo trêmulo ele atenciosamente a acolhia e continuava por ali para receber as outras pessoas que não tardariam a chegar.

Era o único momento que ficava mais próximo dela. Por isso entre uma quinta feira e outra, a saudade chagava doer.

Isso era o que se passava na cabeça de Edy Marcos, mas, e o que se passava na cabeça de Ester Luiza? Será mesmo que ela não havia percebido o interesse de Edy Marcos, já que esse ritual de chegada para a missa se repetia a um bom tempo?

Vamos então aos mesmos fatos na perspectiva de Ester Luiza. Saber se ela estava ciente de que era observada, se ela tinha ideia do que sentia Edy Marcos. Se havia notado nos olhares do garboso rapaz sintomas de amor.

Pois bem, Ester Luiza gostava das missas na capela de São Sebastião que acontecia todas as quintas feiras, gostava de chegar mais cedo para fazer suas breves orações e depois ficar olhando os arredores esperando a missa começar. O lugar escolhido para a espera era próximo ao campanário, pois de lá tinha a melhor visão do espaço, assim pensava.

Quanto ao interesse de Edy Marcos, ela realmente não sabia, e quando chegava para as missas, nem fazia ideia do que passava pela cabeça do rapaz. Ela tinha seus próprios pensamentos e jeito de ser, que não tinham nada a ver com os pensamentos de Edy Marcos, era o que parecia.

Já fazia muito tempo que ela frequentava aquela capela, e numa certa ocasião por problemas de saúde na família, ficou sem ir à missa duas semanas.

Sentiu coisas estranhas por não ter ido à missa na capela nesse período, mas depois que tudo voltou ao normal ficou melhor, e seguiu a rotina que antes empreendera. Todas as quintas feiras ela estava lá a cumprir o mesmo ritual.

Passou mais algumas semanas e aconteceu um fato muito curioso que não tinha nada a ver com ela, mas que a afetou de alguma forma. Pela primeira vez a rotina seria alterada.

Edy Marcos também por um problema familiar ficou um mês sem estar presente nas quintas feiras da capela de São Sebastião.

Aquele ritual de chegada que se repetia a muito tempo perdeu o sentido de uma hora para outra. Ela estava se sentindo estranha. Parecia que sem a presença de Edy Marcos, algo não fazia sentido, como que um certo vazio no ar. Foi assim durante a ausência do moço que durou um mês.

Depois de trinta dias Edy Marcos voltou a participar da celebração da quinta feira. No primeiro dia após o retorno, assim que ultrapassou o portão de entrada, Ester Luiza o avistou como de costume, bem no portal de entrada da capela. Ela não esboçou nenhuma reação aparente, mas ficou imensamente feliz ao ver o moço.

Durante os dias que seguiram ela ficou muito feliz e refletindo o motivo de tanta felicidade ao vê-lo retornar as missas de quinta-feira.

Como essa história terminou?

Essa história não terminou, é claro que teve um desfecho, mas é certo que não terminou.

Depois de três semanas em que a rotina havia se retomado, mais uma coisa aconteceu. Ester Luiza num gesto instintivo mudou a rotina sem que ela mesmo entendesse o motivo.

Ao sair da igreja após as primeiras orações, ela não se encaminhou em direção ao campanário como de costume, parou na entrada da igreja, puxou assunto com Edy Marcos e ficou conversando.

No meio da conversa falou da preocupação que teve quando ele não estava aparecendo para as celebrações. Ele se explicou e disse também ter se preocupado com a ausência dela acontecida anteriormente pelo mesmo motivo.

De repente os rostos se transfiguraram e ambos demonstraram em suas feições, reações que remetiam a sintomas de amor.

Mas não colocaram a conversa nesses termos, porém as reações pareciam um misto de contemplação e contentamento.

Interromperam a conversa, pois chegavam pessoas, mas combinaram continuar após a missa.

Depois de terminado a missa e fechado a capela, conversaram do lado de fora do muro, foi então que começaram as revelações.

Quando Edy Marcos disse o que sentia, falou também da dificuldade das suas noites ali, de ter que tratar o momento como se nada estivesse acontecendo, imprimindo a ele mesmo um silêncio arrasador. Ela interviu demonstrando espanto e disse:

— Porque não me procurou e falou comigo, eu estava esperando por isso. Isso se tornou um sonho para mim. Depois de um certo tempo, eu passei a pedir nas minhas orações que um dia você se interessasse por mim.

E Edy Marcos respondeu:

Não sei te explicar exatamente porque nunca te falei, talvez o receio de receber uma negativa de sua parte, e meu mundo de sonhos desmoronar. O certo era que eu te namorava todas as quintas, mesmo sem você saber.

Depois daquele dia ela não entrou mais sozinha nas dependências da capela de São Sebastião, estava sempre com ele do lado. Juntos acolhiam as pessoas que iam para as celebrações. Quanto a ela, suas orações não eram mais um pedido de amor, mas infindos agradecimentos.

Uma história de amor que se desenvolveu paralelamente, mesmo falando minimamente um com o outro. Um amor que estava no ar.

Um Comentário

  1. Wanderléia 22/06/2023 em 14:42- Responder

    perfeito texto ouro preto lugar que cada esquina tem um lugar mágico onde brota o amor lugar de encantado e muita paz

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