Com arroz em cima ou embaixo, na feijoada de domingo, no bolinho ou caldinho de feijão. São inúmeras as formas e possibilidades de consumo deste alimento tão rico em nutrientes e presente na mesa dos brasileiros, quase que diariamente.
Mas o que não faltam também são suposições e crenças criadas pela sociedade sobre este grão. Conversamos com a engenheira de alimentos e diretora de operações da Combrasil, Ana Rachel, para explicar e desmistificar tudo sobre esta leguminosa.
Mito: Feijão engorda.
Não, e de uma certa forma, é o contrário. Porque o amido encontrado no feijão é chamado amido resistente. Ou seja, ele é resistente a digestão, então da forma que ele entra, ele sai, e não é absorvido. O feijão não te faz ganhar peso. É ao contrário, pelo alto índice de fibras solúveis que tem e a alta fonte de proteína, esse amido te faz perder peso e não ganhar.
Mito: O feijão é somente rico em ferro.
Não. Há inúmeros outros benefícios que o alimento oferece, além do ferro. E de onde vem essa fama? Isso vem muito da legislação que antigamente, até determinado ano, por volta de 2008, para a veiculação de um feijão era necessário declarar ferro na tabela nutricional. Isso que crescemos ouvindo, foi reforçado pela legislação e as embalagens.
Verdade: O feijão é um dos alimentos mais completos e deve fazer parte das dietas.
Com certeza. Além do consumo já ser cultural, muito mais do que outros grãos como a lentilha e grão de bico, temos a combinação do arroz e feijão. E isso também é uma potência. Porque o nosso corpo precisa de 20 aminoácidos principais para a nossa saúde estar em equilíbrio e em bom funcionamento. Desses 20, dez são essenciais para o corpo, porém o organismo não dá conta de produzir e precisa de uma ingestão proveniente dos alimentos. E quem tem esse combo dos 10 aminoácidos essenciais: arroz e feijão.
Mito: Todos os grãos são transgênicos (geneticamente modificados) por isso fazem mal a saúde.
Mentira. Toda a modernidade tem seus benefícios, mas ela trouxe na indústria alimentícia um impacto muito grande na inflamação dos organismos. Os industrializados, principalmente, a longo prazo, como esses produtos afetam a saúde da população geral. Além disso, toda a alteração genética que tem sido estudada e comprovada, como os transgênicos, é muito difícil encontrar soja e milho que não sejam modificados geneticamente. E no feijão não vemos isso com tanta ênfase. Por isso, indicamos o seu consumo.
Verdade: É preciso deixar o feijão de molho antes de cozinha-lo.
Sim. A importância de deixar o feijão de molho, de 8 a 12 horas serve para eliminar alguns antinutrientes que que prejudicam absorção dos nutrientes. Claro que a procedência do grão é essencial para que seja confiável. Por via das dúvidas, sugerimos que deixe de molho para que qualquer componente não benéfico, como agrotóxico, saia e reste apenas os nutrientes benéficos que terão total absorção.
Verdade: O processo de produção e escolha dos grãos impacta nos nutrientes.
Impacta diretamente. A própria escolha das fontes desta matéria prima é fundamental. Isso vai desde o manejo no campo, a forma de armazenagem, colheita, toda a tratativa do solo.
O controle de qualidade começa bem antes. Estamos falando de um produto natural, então a forma como esse feijão se desenvolve lá na vagem dele, no pé de feijão, faz diferença. Porque quando temos um desenvolvimento deficiente, esse produto é o que chamamos de “fraco”.
A leguminosa se desenvolve, mas fica deficitária desses nutrientes. O processo também impacta, a seleção é fundamental para que você tire os grãos defeituosos, aqueles que não se desenvolverem, e deixe apenas aqueles considerados, até pela legislação, sadios. Grão feijão tipo 1, que é a classificação que denomina a qualidade do produto.
Verdade: O feijão está sumindo do prato dos brasileiros.
Na verdade, tivemos um apagão do feijão no mercado. No estimulo e incentivo ao consumo, por causa de alguns mitos e falta de informação. Muitas pessoas pensam que precisam comer muito feijão, em quantidades enormes para ser suficiente. Mas basta uma concha de feijão para você ter acesso a tudo, é a quantidade diária recomendada.
Tivemos também uma questão holística por traz disso, quando vamos olhar o produtor rural, eles perderam incentivos para produzir feijão e foram incentivados ao plantio de soja e milho. A quantidade de exportação de soja e milho não dá nem para comparar com a de feijão. E o que acontece: o interesse das indústrias com esses dois alimentos é muito maior do que com o feijão, por conta das diversas utilizações que fazem a partir desses dois itens.
Então tivemos uma redução muito impactante na produção de feijão, e isso diminui a oferta, o preço sobre, são vários fatores. O que ajuda na redução no consumo, mas que nós profissionais da área trabalhamos para reverter isso. Feijão é o alimento mais plural, democrático e completo e todo brasileiro precisa ter na dieta.
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