“Influenciadores e tretas”, leia a nova crônica de Valdete Braga
“Estamos perdendo o sentido da palavra divertimento. Assistir gente se digladiando não é engraçado, e se digladiar para virar “entretenimento” chega a ser patético”, escreve a cronista.
De alguns anos prá cá, surgiu uma nova profissão, lucrativa e muito concorrida, que cresce a cada dia. São os “influenciadores digitais”, que se proliferam pelas redes sociais, com os mais diversos assuntos. De temas sérios a fofoca sobre famosos, passando por culinária, economia, esoterismo, independentemente do conteúdo escolhido, eles crescem e encontram seguidores.
Alguns se firmam, outros não, mas a procura é enorme, e os que conseguem se firmar acabam servindo de exemplo para outros, que se aventuram pelas redes, muitas vezes sem o menor preparo ou condição emocional.
Neste mundo analógico, entre os novos profissionais do entretenimento, a palavra “treta” surgiu como sinônimo de confusão, podendo, no entanto, significar muita coisa. De questões simples como uma discussão boba entre astros de TV, a outras mais complexas, tudo leva o mesmo nome e é encarado da mesma forma.
A cada dia surge um novo canal de YouTube ou Instagram especializado em divulgar confusões no que chamam “mundo dos famosos” e com o aumento de seguidores, os detentores destes canais passam a ganhar dinheiro, o que motiva mais e mais pessoas a fazerem o mesmo.
Isto torna a dita “profissão” mais atrativa, e os canais crescem, fazendo crescer também a procura, que por sua vez motiva mais pessoas a “tretarem” para se sobressaírem na mídia digital.
Uma briga aqui, uma discussão ali, um xingamento acolá, e, com um pouco de sorte, logo a pessoa está famosa. Passa a ser chamada para um programa, depois um podcast, passa ela própria a produzir conteúdo (independentemente de qual seja) e mais um pouco já estará ela também ganhando dinheiro.
Quem não tiver estrutura acaba se deixando seduzir, e é aí que mora o perigo. Como entretenimento, algumas ditas “tretas” podem ser divertidas, mas é preciso saber filtrar e identificar a diferença entre entretenimento e questões que podem causar constrangimento, não apenas a quem assiste, mas principalmente a quem protagoniza. No afã de ganhar seguidor, muitos extrapolam, envolvendo-se em questões sérias, por vezes até judiciais.
Estamos perdendo o sentido da palavra divertimento. Assistir gente se digladiando não é engraçado, e se digladiar para virar “entretenimento” chega a ser patético.
Não há sentido em aparecer aos gritos nos stories por uma questão pessoal, ou gravar flagrante de namorado, ou namorada, por exemplo, para postar e dar engajamento. Costumamos ver coisas assim, chamadas “treta”, por pessoas ditas “influenciadoras”. Estão influenciando o quê?
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