As tragédias sociais no Brasil não são uma novidade, tampouco as que estão vinculadas à escola. Os Estados Unidos parecem não estar tão longe assim, quando pensamos na frequência com que temos visto esse tipo de atentado ocorrer na nossa vizinhança.
Foucault nos ajuda a perceber a familiaridade entre escolas e prisões – e por conseguinte, nos dá um ângulo para pensar a proximidade desses dois sistemas com respeito à violência: os muros altos, o regime disciplinar, a formação da fila ao toque do apito, as grades nas janelas, os registros do mau comportamento chamados de “ficha de ocorrência”, o controle do corpo (sente, levante, não se mexa, não corra, se cale, vá, fique!).
Assim como as prisões, a escola nem sempre “melhora” quem entra. Até, porque, não se pode defender a ideia de que a escola sozinha consiga resolver todas as mazelas produzidas pela sociedade, logo, a escola não “corrige” a violência da sociedade, ao contrário, é vítima dela e também a manifesta.
Os problemas mais dolorosos da sociedade vão sendo relegados à escola, tornando-se pautas do currículo cada vez mais inchado, criando uma transdisciplinaridade oca, obrigatória, que não serve ao mundo pessoal do aluno, mas como uma medida paliativa de cura de um mal coletivo.
O lixo, o desmatamento, o trânsito, as drogas, o sexo inseguro, o assédio, a violência doméstica, a tecnologia e suas questões, o racismo, a homofobia, a homotransfobia, a liberdade religiosa. Tudo é assunto para a escola resolver. Não que a educação não seja capaz de construir consciência para todos esses casos, mas é preciso ver a escola como parte da sociedade, portanto, também imersa em todos esses problemas.
Chegamos então ao caso da violência. Uma escola inserida em uma sociedade violenta sofrerá a violência dessa sociedade. Ela será manifestada dentro do seu corpo docente e discente, suas práticas serão afetadas, seu currículo, seu calendário - veja casos de escolas que suspendem as aulas por tiroteios em seu entorno. Toda a vida escolar é também vítima da sociedade violenta.
A escola também é vítima da sociedade adoecida e sofre com o adoecimento das pessoas, que por sua vez, adoecem a escola. Se o estresse, a depressão, o suicídio, a automutilação, são problemas presentes na sociedade e cada vez mais entre os adolescentes, esses problemas também aparecerão na escola.
No fim, apenas a mudança da sociedade muda a escola. A escola é parte da mudança, mas jamais responsável por ela. As mudanças sociais que se iniciam na escola serão vistas em médio/longo prazo, até lá, as outras instituições precisam agir, não para proteger a escola, mas para proteger a sociedade e, assim, também a escola, a igreja, os bares, as áreas de lazer.
Não esperem uma escola segura em uma sociedade insegura. Não esperem uma escola sadia em uma sociedade doentes. Todos devemos ser parceiros da escola e vê-la como parte de todo o sistema social, que sofre violência, mas que também a produz.
*Mário Frazão
Mestre em letras e linguística, estuda e orienta pesquisas em Educação, Infância e Direitos Humanos; Educação e diversidade; coordena a pós-graduação em Ciências do Comportamento Humano e Analise de Perfil.
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