Enfermeira ouro-pretana publica depoimento chocante sobre a Covid-19
Isso não é a mídia que está dizendo, somos nós. Eu não quero ter que reanimar ou intubar ninguém da família de vocês., diz Magali, que atua na linha de frente do combate à doença.
Servidora da Prefeitura de Ouro Preto (MG), a enfermeira Magalí gravou nesta segunda-feira (21) um depoimento sobre o que vem vivenciando no último ano com a pandemia do novo coronavírus. A doença rompeu com as estruturas sociais, impactou profundamente a economia mundial e vem causando transtornos psicoemocionais em muitas pessoas. Segundo dados do boletim epidemiológico de ontem (20), divulgado pelo município, a cidade está com 26 pessoas internadas, sendo que 20 pacientes estão na UTI e 6 nos leitos de internação.
Atuando na linha de frente do combate à doença, Magalí - que não faz questão sequer de revelar o seu sobrenome - narra o dia a dia de pessoas que estão muito além de meros e frios dados estatísticos. São seres humanos assim como você e eu: têm sonhos, projetos, amores... Uma história de vida ameaçada por um inimigo invisível e impiedoso.
Logo abaixo, você pode ler e assistir ao depoimento de Magalí. Um depoimento chocante, é claro, mas que faz com que sejamos capazes de refletir sobre a nossa presença no mundo e, sobretudo, sobre a nossa responsabilidade de cuidar cada um de si mesmo e dos outros em um momento em que a esperança parece querer apagar a sua chama:
"A Covid-19 é um desprazer. É um desprazer tentar acalmar um paciente de 30 anos sem comorbidades e que vai ser intubado porque já não consegue mais respirar sozinho.
É um desprazer ver idosos perguntando por que Deus fez aquilo com eles. É um desprazer olhar o histórico de um paciente e ver que ela é mãe há oito dias, tem 37 anos e não consegue conhecer o seu bebê. E provavelmente não vai conseguir ver o seu rostinho nem uma única vez.
A Covid é um soco no estômago quando a gente tem que conversar com um paciente e ele pergunta se vai morrer e a gente não pode dizer que não, porque ele tem mais de 80% do pulmão comprometido.
É um soco no estômago quando alguém percebe que vai ser intubado e pede segurando a sua mão para ir para casa, pedir à família que fique perto. Só que não temos tempo, já é tarde.
É um soco no estômago quando, nos cinco minutos antes da intubação, eles falam que vão te ver em uma semana, quando eles, nos últimos segundos, conscientes, não choram.
Eu nem sei como explicar a sensação de começar a reanimar uma pessoa que há dois dias estava bem e que, agora, simplesmente parou. Eles morrem sozinhos... Os familiares não têm nem a chance de segurar suas mãos.
Por favor, fiquem em casa, não se aglomerem! Nós estamos lotados, sem leitos e sem respiradores. Isso não é a mídia que está dizendo, somos nós. Eu não quero ter que reanimar ou intubar ninguém da família de vocês. Por favor, fiquem em casa!".
Deixar Um Comentário